sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O QUE É A FÁBULA?( 2 )

 FÁBULA DA FÁBULA

Era uma vez
uma fábula famosa,
alimentícia
e moralizante,
que,em verso e prosa,
toda gente
inteligente,
prudente
e sabedora
repetia
aos filhos,
aos netos
e aos bisnetos.
À base duns insetos,
de que não vale a pena fixar o nome,
a fábula garantia
que quem cantava
morria de fome.
E, realmente.
simplesmente,
enquanto a fábula contava,
um demónio secreto segredava
aos ouvidos de cada criatura que quem não cantava morria de fartura.

Fábula do português Miguel Torga

"Acho que deveríamos colocar Esopo entre os grandes sábios de que a Grécia se orgulha, ele que ensinava a verdadeira sabedoria, e que a ensinava com muito mais arte que os que usam regras e definições." - La Fontaine

O Macaco e o Golfinho

Os marinheiros têm o hábito de levar a bordo cãezinhos de malta e macacos: esses animais os distraem enquanto navegam. Por isso um homem viajava em companhia de um macaco. Ora, na altura do cabo Súnio, no sul da Ática, estourou uma violenta tempestade. O navio naufragou e todos, o macaco inclusive, viram-se às voltas com as ondas. Um golfinho viu o animal e, achando que se tratava de um homem, colocou-o nas costas e levou-o à terra firme. Ao chegar a Pireu, o porto de Atenas, o golfinho perguntou se ele era ateniense.

-Sim - respondeu o macaco -, e de boa origem.

-E conheces o Pireu? -perguntou o golfinho.

-É um dos meus melhores amigos -respondeu o macaco.

A impostura desagradou ao golfinho: mergulhou no mar profundo e o macaco morreu.

Isto é uma advertência àqueles que, ignorando a verdade, procuram enganar os outros. - Esopo

A ÁGUIA FERIDA POR UMA FLECHA ( ESOPO )

Voava uma águia nas alturas quando foi atingida por uma flecha e caiu ao chão, mortalmente ferida.
Em seus últimos momentos, a águia
reparou que a flecha que a havia ferido
trazia penas em uma das extremidades.
"Triste o nosso fim", lamentou a águia,
"que damos ao inimigo as armas
para nossa própria destruição".

ESOPO CORRIGIDO - Três fábulas de Esopo reinterpretadas por Ambrose Bierce

1)O arqueiro e a águia

A Águia mortalmente ferida por um arqueiro ficou muito confortada ao observar que a flecha era guarnecida com uma de suas penas. E pensou: “seria horrível saber que outra águia tivesse algo a ver com isto.”

2)O leão e o espinho

O leão vagava pela floresta quando entrou um espinho numa de suas patas. Pediu a um pastor que o tirasse e, como pouco antes comera outro pastor, retirou-se sem fazer-lhe mal. Algum tempo depois esse pastor foi condenado por falsa acusação a ser lançado aos leões no anfiteatro. Quando iam devora-lo, um dos leões disse: “este é o homem que me tirou o espinho do pé.”Ouvindo isto, os outros leões nobremente se afastaram, permitindo que o declarante comesse o pastor sozinho.

3)O milhafre, os pombos e o gavião

Alguns pombos, que costumavam ser atacados por um milhafre, pediram ao gavião que os defendesse. Este concordou e, admitido ao pombal, esperou o milhafre, sobre o qual se atirou e o devorou. Quando já estava tão cheio que mal podia mover-se, os pombos agradecidos arrancaram-lhe os olhos.

O SABIÁ E O URUBU

Era à tardinha. Morria o sol no horizonte enquanto as sombras se alongavam na terra. Um sabiá cantava tão lindo que até as laranjeiras pareciam absortas à escuta.

Estorce-se de inveja o urubu e queixa-se:

-Mal abre o bico este passarinho e o mundo se enleva. Eu, entretanto, sou um espantalho de que todos fogem com repugnância... Se ele chega, tudo se alegra; se eu me aproximo, todos recuam... Ele, dizem, traz felicidade; eu, mau agouro... A natureza foi injusta e cruel para comigo. Mas está em mim corrigir a natureza; Mato-o, e desse modo me livro da raiva que seus gorjeios me provocam.

Pensando assim, aproximou-se do sabiá, que ao vê-lo armou as asas para a fuga.

-Não tenha medo, amigo! Venho para mais perto a fim de melhor gozar as delícias do canto. Julga que por ser urubu não dou valor às obras-primas da arte? Vamos lá, cante! Cante ao pé de mim aquela melodia com que há pouco você extasiava a natureza.

O ingênuo sabiá deu crédito àqueles mentirosos grasnos e permitiu que dele se aproximasse o traiçoeiro urubu. Mas este, logo que o pilhou ao alcance, deu-lhe tamanha bicada que o fez cair moribundo.

Arquejante, com os olhos já envidrados, geme o passarinho:

-Que mal eu fiz para merecer tanta ferocidade?

-Que mal fez? Essa é boa! Cantou!... Cantou divinamente bem, como nunca urubu nenhum há de cantar. Ter talento: eis o grande crime!...

A inveja não admite o mérito.

Monteiro Lobato

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