sexta-feira, 20 de agosto de 2010

CONSIDERAÇÕES SOBRE A ARTE TRÁGICA

“O trágico, originariamente, consiste em que, no círculo da colisão, as duas partes opostas, consideradas isoladamente, têm um direito por si mesmas. Por outro lado, só podendo realizar o que há de verdadeiro e positivo em seu objetivo e seu caráter como negação e violação da outra força igualmente justa, elas serão levadas, malgrado sua moralidade ou antes por causa dela, a cometer faltas".

“Os personagens da tragédia antiga, verdadeiras estátuas vivas, são isentos de conflitos íntimos. Estão eles informados pela consciência de sua vontade e por suas altas paixões, direitos, razões ou interesses pessoais. Eles fazem sempre a reivindicação moral de um direito relativo a um fato determinado. Ao contrário, a tragédia moderna apropria-se, desde seu começo, do princípio da personalidade ou da subjetividade. Faz do caráter pessoal em si, e não da individualização das forças morais, seu objetivo próprio e fundo de suas representações.”

“A fraqueza resultante da impossibilidade de tomar uma decisão, do recurso à reflexão, do exame das razões que pleiteiam por ou contra uma resolução dada, observa-se já nas tragédias antigas e, sobretudo, nas de Eurípedes que, de todos os trágicos gregos é aliás aquele que menos caso faz da plástica dos caracteres e das ações e procura sobretudo provocar emoções subjetivas. Ora, na tragédia moderna, estas personagens indecisas e hesitantes são apresentadas como assediadas por duas paixões que as arrastam em direções opostas, lhes inspiram decisões e as levam a atos que se contrariam... São naturezas duplas que não podem alcançar uma individualidade firme e completa. Acontece precisamente o contrário quando um caráter seguro de si mesmo se encontra ante dois deveres igualmente sagrados e é forçado a decidir-se por um, com exclusão do outro. A hesitação não passa, então, de uma fase transitória e não constitui o fundo do caráter”.

(Hegel – Estética)


SOBRE ÉDIPO REI(POÉTICA DE ARISTÓTELES):

A)PERIPÉCIA É A MUDANÇA, DENTRO DA PEÇA, DE UM ESTADO DE COISAS PARA O SEU OPOSTO, DE ACORDO COM NOSSA DESCRIÇÃO, SENDO ESSA MUDANÇA, ALÉM DO MAIS, PROVÁVEL OU INEVITÁVEL. POR EXEMPLO, O MENSAGEIRO NO ÉDIPO, QUE VEIO PARA ALEGRAR O REI E LIVRÁ-LO DA ANSIEDADE A RESPEITO DE SUA MÃE, REVELANDO-LHE SEU VERDADEIRO PARENTESCO, E FEZ EXATAMENTE O CONTRÁRIO.”

B)A ESPÉCIE POR EXCELÊNCIA DE DESCOBERTA(reconhecimento) É A QUE COINCIDE COM A PERIPÉCIA, COMO A RELACIONADA COM A DESCOBERTA NO ÉDIPO.”

C)ESSA É A ESPÉCIE DE HOMEM QUE NÃO É ESSENCIALMENTE VIRTUOSO E JUSTO E, TODAVIA, NÃO É POR MALDADE OU VILANIA INTRÍNSECAS QUE ELE CAI EM DESGRAÇA; É ANTES POR UM ERRO DE DISCERNIMENTO, SENDO ELE UM DOS QUE OCUPAM ALTAS POSIÇÕES E DESFRUTAM DE GRANDE PROSPERIDADE, COMO ÉDIPO”ARISTÓTELES REFERE-SE AO HERÓI PARA UMA TRAGÉDIA.

D)O MEDO E A PIEDADE ÀS VEZES RESULTAM DO ESPETÁCULO, E ÀS VEZES SÃO SUSCITADOS PELA ESTRUTURA MESMA E PELOS INCIDENTES DA PEÇA, QUE SÃO O MELHOR MEIO PARA MOSTRAR O MELHOR POETA. COM EFEITO, O ENREDO DEVE SER ARMADO DE TAL FORMA QUE, MESMO SEM VER OS FATOS DESENROLAREM-SE, AQUELE QUE SIMPLESMENTE OUVE O SEU RELATO FIQUE TOCADO PELO TERROR E PELA PIEDADE DIANTE DOS INCIDENTES. É JUSTAMENTE ESSE EFEITO QUE A SIMPLES RECITAÇÃO DO ÉDIPO PRODUZ SOBRE NÓS.”

E)OU ELES(OS PROTAGONISTAS) PODEM PRATICAR OS ATOS, MAS SEM PERCEBER O HORROR INERENTE AOS MESMOS, DESCOBRINDO ISSO MAIS TARDE, COMO ACONTECE NO ÉDIPO DE SÓFOCLES.”

F)NADA DEVE HAVER DE IMPROVÁVEL NOS INCIDENTES PRESENTES. SE ISSO FOR INEVITÁVEL, QUE SEJA ENTÃO FORA DA TRAGÉDIA, COMO AS IMPROBABILIDADES NO ÉDIPO DE SÓFOCLES.”

G) A MELHOR DESCOBERTA, TODAVIA, É A RESULTANTE DOS PRÓPRIOS INCIDENTES , QUANDO A GRANDE SURPRESA SOBREVÉM POR MEIO DE UM INCIDENTE PLAUSÍVEL, COMO NO ÉDIPO DE SÓFOCLES.

H)O EFEITO MAIS CONCENTRADO É MAIS AGRADÁVEL QUE O RESULTANTE DO RECURSO A LONGOS INTERVALOS DE TEMPO PARA DILUIR A AÇÃO; VEJA-SE, POR EXEMPLO, O ÉDIPO DE SÓFOCLES.

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