sábado, 21 de agosto de 2010

O POLICIAL NA LITERATURA - PARTE 1

O POLICIAL NA LITERATURA – PARTE 1

Por Jorge Lobo

ORIGEM

- Surge no século XIX e seu criador é Edgar Allan Poe com “Assassinatos na Rua Morgue”.

- A imprensa exerceu papel decisivo, pois foi no séc. XIX que surgiram os jornais populares de grande tiragem que publicavam notícias sobre crimes raros, inexplicáveis. Porque os leitores se interessavam? Desafio do mistério, atração mórbida pela desgraça alheia e sentimento de justiça violada que requer, então, reparos são as molas do interesse do público e foi se aproveitando do surgimento desse público que o policial pôde nascer.

- No plano ideológico, o Positivismo, com sua afirmação básica de que os fenômenos são regidos por leis influencia a proposta literária de Poe: substituição da intuição e do acaso pela precisão e rigor lógico;a história deve ser escrita ao contrário, de trás pra frente pra que os incidentes convirjam para o fim almejado(leia A Filosofia da Composição e entenda melhor).

- Concepção(surgida no séc. XIX) do criminoso como um inimigo social, o que também mexia com as paixões do público e atraía seu interesse para os textos policiais.

- Desconfiança da população com relação à polícia, formada por ex-contraventores: todos os primeiros detetives dos livros policiais não pertenciam à polícia.

O ROMANCE DE ENIGMA( e por extensão, o conto )

- Esse tipo de história policial obedece à seguinte estrutura:

- Presença de 2 histórias, a do crime(real mas ausente) e a do inquérito(presente, mas insignificante).A primeira, não pode estar presente no livro, pois ela será reconstituída pela segunda com os dias do inquérito em que o detetive reconstruirá os fatos que levaram ao crime através do raciocínio.

- Imunidade do detetive.

- Narração dos acontecimentos feita por um narrador, que é amigo e memorialista do detetive(exemplos: Watson para Sherlock Holmes, Capitão Hastings para Hercule Poirot, o narrador sem nome para Dupin). Se trata de roconstrituir um crime pasado e seu desvendamento. Se a narrativa fosse elaborada pelo detetive, o leitor saberia exatamente o que ele pensa e o mistério, o desafio ao leitor, a revelação final deixariam de existir. Além disso, essas personagens intensificam o halo de admiração que rodeia o detetive.

- Moralidade convencional. A imoralidade existe sim, mas para fazer contraponto com a moralidade convencional.

- Otimismo.

- Caracterização do detetive como uma máquina de raciocinar, sempre pronta a fazer leituras de índices, pistas, vestígios para desvendar o enigma(o que sempre acontece) e oferecer uma explicação conclusiva tranquilizadora e não-ambígua.

- Violência amenizada.

- A maioria dos detives são finos, elegantes, sutis.

- O detetive, apesar de sua argúcia, não é um profissional.

Além disso, existem as regras de Van dine:

Regras de Van Dine

O autor de romances policiais S.S. Van Dine enunciou, em 1928, 20 regras que devem ser seguidas por todo autor do gênero. Elas foram resumidas a oito - por achá-las redundantes - por Tzvetan Todorov em seu ensaio “Tipologia do romance policial” incluído em As estruturas narrativas:

l. O romance deve ter no máximo um detetive e um culpado, e no mínimo uma vítima (um cadáver).

2. O culpado não deve ser um criminoso profissional, não deve ser o detetive; deve matar por motivos pessoais.

3. O amor não tem lugar no romance policial.

4. O culpado deve gozar de certa importância: a) na vida: não ser um empregado ou uma camareira; b) no livro: ser um dos personagens principais.

5. Tudo deve explicar-se de modo racional; o fantástico não é admitido.

6. Não há lugar para descrições nem para análises psicológicas.

7. É preciso conformar-se à seguinte homologia, quanto às informações sobre a história: autor : leitor = culpado : detetive.

8. É preciso evitar as situações e as soluções banais, Van Dine enumera 10 delas:

1)A descoberta da identidade do culpado, comparando uma ponta de cigarro encontrada no local do crime às que fuma um suspeito;

2)A sessão espírita trucada, no decorrer da qual o criminoso, tomado de terror, se denuncia;

3)As falsas impressões digitais;

4)O álibi construído por meio de um manequim;

5)O cão que não late, revelando assim que o intruso é um familiar do local;

6)O culpado, irmão gêmeo do suspeito ou um parente que se parece com ele a ponto de levar a engano;

7)A seringa hipodérmica e o soro da verdade;

8)O assassinato cometido numa peça fechada, na presença dos representantes da polícia;

9)O emprego das associações de palavras para descobrir o culpado;

10)A decifração de um criptograma pelo detetive ou a descoberta de um código cifrado.

Nota – As regras 1 a 8 se aplicam ao romance de enigma, enquanto as regras 4 b a 6 e a 8 se aplicam ao romance negro.Lembrando que o próprio Van Dine nem sempre respeitou suas próprias regras.

Exemplos de autores do romance de enigma: Agatha Christie, Arthur Conan Doyle, S. S. Van Dine, Rex Stout.

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