domingo, 26 de setembro de 2010

CRÍTICA DO FILME "A NOITE AMERICANA"

A Noite Americana, de François Truffaut


Por Jorge Lobo

 


“A Noite Americana”, filme de François Truffaut, nega a essência de seu próprio cinema.Um cinema voltado para o prazer foi o que Truffaut buscou ao longo de quase toda a sua obra, com exceção de poucos filmes e A Noite Americana é uma dessas exceções.

O filme conta a história de uma filmagem, isto é, o filme dentro do filme, e é competente.Só isso.E só competente é muito pouco para um filme de Truffaut. Os pequenos dramas vividos pelas personagens do filme são incapazes de cativar os espectadores que se acostumaram a assistir filmes melhores, mais densos ou com humor muito mais bem dosado do cineasta francês.Pode-se citar vários filmes dele muito mais bem estruturados do que A Noite Americana: a Mulher do Lado, O Amor em Fuga, Atire no Pianista, O Último Metrô, Beijos Proibidos, etc. O dia a dia de uma filmagem, os problemas com os atores, com o cronograma de filmagem, com os imprevistos de várias ordens, é muito pouco para cativar o interesse do espectador, e ainda mais do espectador comum, quer dizer, o espectador que não é cineasta ou estudante de cinema.Excepcionalmente bem filmado, A Noite Americana prova que só virtuosismo não é garantia de um bom filme.O desempenho dos atores é muito bom mas o roteiro decepciona. Truffaut interpreta a si mesmo: um cineasta na luta para concluir seu filme.Para isso, conta com uma equipe de maquiadores, atores, contra-regras, dublês, fotógrafos, etc. A personagem interpretada por Jacqueline Bisset interpreta a protagonista do filme dentro do filme.Uma história trágica é contada: a namorada do filho acaba se apaixonando pelo pai de seu namorado, “uma pálida sombra de seu pai.”. Amargurado, a personagem interpretada por Jean Pierre Leaud decide matar seu pai.O ator que interpreta o pai acaba morrendo também na “vida real”, o que traz problemas sérios para Bertrand, o diretor. Já a personagem de Leaud, vive agarrado com a contra-regra, sua namorada que acaba abandonando Leaud por causa de um dublê inglês do filme, o que provoca o desespero de Leaud e sua tentativa de abandonar as filmagens.Julie(Bisset) decide consolá-lo e transa com ele para impedi-lo de abandonar o filme. Aí, quem acaba sofrendo é Bisset, pois o marido dela descobre tudo, trazendo o remorso para a alma de Julie. Enfim, nada de muito interessante. Truffaut chega a mostrar a repetição de várias tomadas de uma mesma cena.Fica a pergunta: o que isso traz de interessante para o espectador?Pra quem se interessa pelo processo de feitura de um filme é interessante mas e o resto dos espectadores?Truffaut nos nega o prazer e o prazer de um bom filme não está somente nas comédias.Histórias agri-doces, quando são bem contadas, trazem muito prazer.Tragédias trazem muito prazer através da catarse, a purificação dos sofrimentos.Enfim, qualquer filme, quando conta ao menos com um bom roteiro e um bom diretor, acaba dando prazer. Negar a essência de seu próprio cinema para mostrar virtuosismo e o processo de feitura de um filme só faz com que A Noite Americana seja decepcionante.

Um comentário:

  1. concordo plenamente. é um dos filmes, ao meu ver, mais chatos, tediosos, aborrecidos e falsos da história do cinema. "o desprezo" de godard é infinitamente melhor: é metalinguistico, humano e delicioso. em "a noite americano", truffaut tem o demérito de colocar o diretor sob a égide da pureza: é impecável, amável, e não transa.

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