tag:blogger.com,1999:blog-31018354315655977782024-02-01T20:54:32.793-08:00Combate!!!Pérolas aos PorcosBlog dedicado ao cinema, política e literatura.Jorge Lobohttp://www.blogger.com/profile/08854290252708162115noreply@blogger.comBlogger64125tag:blogger.com,1999:blog-3101835431565597778.post-64804164385852388702011-08-23T16:35:00.000-07:002011-08-23T16:38:41.617-07:00A HISTÓRIA DE JOÃO DE FERRO<div class="Preformatted" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 126.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial; layout-grid-mode: both;"><span style="font-size: x-small;"><br />
</span><span style="font-size: small;">Era uma vez um rei que tinha, próximo de seu castelo, uma enorme floresta onde viviam animais selvagens de todos os tipos. Um dia ele mandou um caçador à floresta para caçar um veado, mas o homem não voltou. “Alguma coisa errada aconteceu ali”, disse o rei, e no dia seguinte mandou mais dois caçadores `a procura do primeiro, mas também eles não voltaram. No terceiro dia, chamou todos os seus caçadores e disse: “Busquem em toda a floresta, e só voltem quando tiverem encontrado os três homens.” <br />
Nenhum desses caçadores jamais voltou e, além disso, também não voltou a matilha de cães que levaram com eles. <br />
Ninguém ousou mais entrar na floresta, e deixou-a tranquila em seu profundo silêncio e solidão.Somente uma águia ou um gavião às vezes a sobrevoavam. <br />
Essa situação perdurou durante anos, até que certo dia um estranho caçador apareceu,querendo trabalho, e ofereceu-se para penetrar na floresta perigosa. <br />
O rei, porém, não permitiu, dizendo: “Não é seguro entrar ali.Tenho a sensação de que você acabará como os outros, e nunca mais o veremos.” O caçador respondeu: “Senhor, conheço perfeitamente o risco, e medo não tenho.” <br />
O caçador chamou seu cachorro e entrou na floresta. Logo depois, o animal sentiu o cheiro de caça e saiu em sua perseguição. Mal deu, porém, três passadas, viu-se na beirada de um poço profundo e não pôde continuar. Um braço saiu da água, agarrou o cachorro e puxou-o para baixo. <br />
Quando o caçador viu isso, voltou ao castelo, chamou três homens com baldes, e eles esgotaram a água do poço.Ao chegar ao fundo, viram ali um Homem Natural deitado, que tinha o corpo marrom como o ferro enferrujado. Seu cabelo ia desde a cabeça e o rosto por todo o corpo, até os joelhos. Amarraram-no com cordas e o levaram até o castelo. <br />
Ali, houve grande espanto com esse Homem Natural, e o rei mandou trancá-lo numa jaula de ferro e colocá-lo no pátio, proibindo, sob pena de morte, que a porta da jaula fosse aberta. E confiou a guarda da chave `a rainha. Feito isso, as pessoas voltaram a entrar sem perigo na floresta. <br />
O rei tinha um filho de oito anos, o garoto estava um dia brincando no pátio, quando sua bola dourada caiu dentro da jaula.O menino correu para a jaula e disse: “Devolve-me a minha bola dourada.” O homem respondeu: “Só se abrires a porta para mim.”Disse o menino: “Ah, não, isso eu não posso fazer. O rei proíbe”, e saiu correndo.No dia seguinte o menino voltou e pediu novamente a bola.O Homem Natural repetiu, “Se abrires a porta”, mas o menino não quis. No terceiro dia, tendo o rei saído para caçar, o menino voltou e disse: “Mesmo que eu quisesse não poderia abrir a porta, porque não tenho a chave.” O Homem Natural respondeu: “A chave está debaixo do travesseiro da tua mãe. Podes apanhá-la.” <br />
O menino, que queria muito a sua bola de volta, esqueceu a cautela, entrou no castelo e apanhou a chave. Não foi fácil abrir a porta da jaula, e ele machucou o dedo. Quando a porta se abriu, o Homem Natural entregou a bola dourada ao menino e correu. <br />
Súbito, o menino sentiu um grande medo. Chorou e saiu gritando atrás do fugitivo: “Homem Natural, se fores embora, eles vão me bater!” O Homem Natural voltou-se, colocou o menino nos ombros e dirigiu-se rapidamente para a floresta. <br />
Quando o rei voltou, viu a jaula aberta e perguntou `a rainha como o Homem Natural pudera fugir. Ela de nada sabia, foi procurar a chave e viu que tinha desaparecido.Chamou o menino e ninguém respondeu. O rei mandou um grupo de homens procurar nos campos, mas ninguém o encontrou. Não foi difícil imaginar o que tinha acontecido, e um grande sofrimento e luto caiu sobre a casa real. <br />
<br />
Quando o Homem Natural chegou novamente `a floresta escura, tirou o menino dos ombros, colocou-o no chão e disse: “ Nunca mais verás tua mãe nem teu pai, mas eu ficarei contigo, pois me libertaste e tenho pena de ti. Se fizeres tudo o que eu mandar, as coisas correrão bem. Tenho muito ouro e tesouros, mais do que qualquer outra pessoa no mundo”. <br />
O Homem Natural preparou uma cama de folhas para o menino dormir, e pela manhã levou-o a uma fonte. “Estás vendo esta fonte dourada? É clara como cristal, e cheia de luz.Quero que fiques sentado junto dela e vigies para que nada caia dentro dela, pois se isso acontecer, a fonte será prejudicada. Voltarei todas as tardes para ver se me obedeceste.” <br />
O menino ficou sentado à beira da fonte.Vez por outra, via um peixe ou uma cobra dourados, e vigiava para que nada caísse lá dentro. Mas seu dedo começou a doer muito e, sem pensar, ele o mergulhou na água. Retirou-o imediatamente, mas viu que o dedo ficara dourado, e por mais que o lavasse, o dourado não saía. <br />
João de Ferro voltou naquela tarde e perguntou: “ Aconteceu hoje alguma coisa com a fonte?” <br />
O menino escondeu o dedo `as costas para que João de Ferro não visse, e disse: “Não aconteceu nada.” <br />
“Ah, mergulhaste o dedo na fonte!” observou o Homem Natural. “Deixaremos passar desta vez, mas não o faças de novo.” <br />
Na manhã seguinte, bem cedo, o menino sentou-se junto “a fonte, vigiando-a. Seu dedo ainda doía ,e, depois de algum tempo, ele passou a mão pelos cabelos. Um fio, porém soltou-se e caiu na fonte. Abaixou-se imediatamente e apanhou-o, mas o fio de cabelo já ficara dourado. <br />
Quando João de Ferro voltou, viu o que tinha acontecido. “Deixaste um cabelo cair na fonte. Vou lhe perdoar ainda, mas se acontecer uma terceira vez, a fonte estará arruinada e não poderás mais ficar comigo.” <br />
No terceiro dia, sentado junto `a fonte, o menino decidiu que, por mais que seu dedo doesse, não o movimentaria. O tempo passava lentamente, e o menino começou a fitar o reflexo do seu rosto na água. Teve vontade de olhar nos próprios olhos,e, ao fazê-lo, inclinou-se cada vez mais. Seus longos cabelos caíram-lhe então sobre a testa e em seguida na água. Recuou, mas agora os seus cabelos, todos, estavam dourados e brilhavam como se fossem o próprio sol. O menino teve medo! Pegou um lenço e cobriu a cabeça para que o homem natural não visse o que tinha acontecido. Mas quando joão de Ferro chegou, percebeu imediatamente. “Tira o lenço da cabeça”, disse ele. A cabeleira dourada caiu sobre os ombros do menino, e ele se manteve calado. <br />
“Não podes mais ficar aqui, porque não passaste na prova. Agora sai pelo mundo, onde aprenderás o que é a pobreza. Não vejo, porém, o mal no teu coração, e te desejo o bem, motivo pelo qual te concedo um dom: sempre que estiveres em dificuldades, vem à orla da floresta e grita: “João de Ferro, João de Ferro!” Eu virei ao teu encontro para te ajudar. Meu poder é grande, maior do que pensas, e tenho ouro e prata em abundância.” <br />
<br />
O filho do rei deixou então a floresta e caminhou por trilhas abertas e por matas cerradas até finalmente chegar a uma grande cidade. Procurou trabalho, mas não encontrou- nada tinha aprendido que lhe pudesse ser útil. Por fim, foi ao palácio e perguntou se o aceitavam para algum serviço. A gente da corte não sabia o que fazer com ele, mas gostou do menino e permitiu que ficasse. O cozinheiro tomou-o a seu serviço, mandando-o carregar lenha e água, e varrer as cinzas. <br />
<br />
Certa vez, não havendo mais ninguém para fazê-lo, o cozinheiro mandou o menino levar a comida `a mesa <br />
real, mas como ele não queria que seu cabelo dourado fosse visto, não tirou o gorro. Isso jamais tinha acontecido na presença do rei, e este disse: “Quando você vier `a mesa real, tem de tirar o gorro.” O rapaz respondeu: “Ah!, senhor, não posso; tenho um ferimento na cabeça.” O rei chamou o cozinheiro, censurou-o e perguntou-lhe por que tomara aquele rapaz a seu serviço, e ordenou que o mandasse embora do castelo. <br />
<br />
O cozinheiro, porém, teve pena dele, e trocou-o por um ajudante de jardineiro. <br />
Agora o rapaz do cabelo dourado tinha de cuidar das plantas no jardim, regá-las, tratá-las com enxada e pá e deixar que o vento e o mau tempo fizessem o que lhes aprouvesse. <br />
Certa vez, no verão, quando trabalhava no jardim sozinho, o calor aumentou tanto que ele tirou o gorro para que a brisa lhe refrescasse a cabeça. Quando o sol tocou seus cabelos, estes brilharam de tal modo que os raios se refletiram até o quarto da filha do rei, que foi olhar o que era. Viu o rapaz lá fora e o chamou: “Rapaz, traga-me um ramalhete de flores!” <br />
Ele recolocou depressa o gorro, colheu flores silvestres para ela e amarrou-as num ramo. Quando ia subir as escadas com as flores, o jardineiro o viu e disse: “O que é isso, você está levando essas flores ordinárias para as filhas do rei? Anda, compõe outro buquê, com as melhores e mais belas flores que tivermos.” <br />
“Não”, respondeu o rapaz, “as flores silvestres têm perfume mais forte e agradarão mais à filha do rei.” <br />
Quando o rapaz entrou no quarto, a filha do rei disse: “Tire o gorro, não deves usá-lo na minha presença.” <br />
Ele respondeu: “Não ouso fazer isso. Tenho sarna na cabeça.”A moça, porém, agarrou o gorro e o arrancou; os cabelos dourados caíram sobre os ombros do rapaz, num belo espetáculo: Ele correu para a porta, mas a moça segurou-o pelo braço e entregou-lhe um punhado de moedas de ouro. Apanhou-as e saiu, mas não lhes deu valor. Na verdade, entregou-as ao jardineiro, dizendo: “Leve-as para seus filhos – eles as usarão para brincar.” <br />
No dia seguinte a filha do rei chamou novamente o rapaz ao seu quarto e ordenou-lhe que trouxesse mais flores silvestres. Ao chegar com elas, a princesa tentou arrancar-lhe o gorro, mas o rapaz o segurou com as duas mãos. Mais uma vez, a princesa deu-lhe um punhado de moedas de ouro, mas ele se recusou a guardá-las, dando-as ao jardineiro como brinquedos para seus filhos. <br />
No terceiro dia, as coisas aconteceram do mesmo modo: a moça não conseguiu arrancar-lhe o gorro e ele não guardou as moedas de ouro. <br />
<br />
Pouco depois, o país foi varrido pela guerra. O rei reuniu suas forças, embora duvidando que pudesse vencer o inimigo, que era poderoso e dispunha de enorme exército. O ajudante de jardineiro disse: “Eu agora estou crescido e irei para a guerra se me derem um cavalo.” Os homens mais velhos riram e disseram: “Quando tivermos partido, procure na cocheira. Vamos deixar um cavalo para você.” <br />
Quando todos se foram, o rapaz foi à cocheira e tirou o cavalo: era manco de uma perna e capengava. Montou-o, e dirigiu-se à floresta escura. <br />
Quando chegou à orla, gritou três vezes “João de Ferro”, tão alto que o grito ecoou pelas árvores. <br />
Num momento o homem natural lhe apareceu e perguntou: “O que desejas?” <br />
“Quero um cavalo de batalha bem forte, porque pretendo ir à guerra.” <br />
“Tu o terás e mais ainda do que pediste.” <br />
O Homem Natural voltou-se, retornou à floresta, e pouco depois um cavalariço saía de entre as árvores puxando um cavalo de batalha que soprava pelas ventas e era difícil de conter. Correndo atrás do cavalo vinha um grande grupo de guerreiros totalmente vestidos em armaduras, as espadas brilhando ao sol. O rapaz entregou ao cavalariço o seu cavalo manco, montou o novo animal e saiu cavalgando à frente dos soldados. Quando se aproximava do campo de batalha, uma grande parte dos homens do rei já tinha sido morta, e pouco faltava para que ele sofresse uma derrota total. <br />
O rapaz e seus guerreiros galoparam sobre o inimigo como um furacão e derrubaram todos os seus adversários. O inimigo fugiu, mas o rapaz o perseguiu até o último homem. Depois, em vez de voltar para a presença do rei, levou seu grupo por caminhos pouco conhecidos de volta à floresta, e chamou João de Ferro. <br />
“O que queres?”, perguntou o Homem Natural. <br />
“Podes levar de volta o teu cavalo e teus homens, e devolve-me o meu cavalo manco.” <br />
Tudo foi feito como ele pediu, e lá se foi o rapaz de volta ao castelo num animal que mancava. <br />
Quando o rei voltou, sua filha congratulou-se com ele pela vitória. <br />
“Não fui eu quem a conquistou, mas um cavaleiro estranho com seus guerreiros, que chegaram para me ajudar.” <br />
A filha perguntou quem era esse estranho cavaleiro, mas o rei não sabia e acrescentou: “Ele galopou em perseguição do inimigo, e não o vi mais.” A moça procurou o jardineiro e perguntou pelo rapaz, mas ele riu e disse: “Acabou de chegar em seu cavalo de três pernas. Os ajudantes de jardinagem zombaram dele, indagando: “Adivinhe quem chegou? O manquitola.” Depois, disseram-lhe: “Você esteve escondiodo, hein?Que tal?” O rapaz respondeu: “Lutei, e muito bem; se não fosse por mim, quem sabe o que teria acontecido?” Eles quase morreram de rir. <br />
<br />
O rei disse à filha: “Organizei um grande festival que durará três dias, e você vai jogar a maçã dourada. Talvez o cavaleiro misterioso apareça.” <br />
Depois de anunciado o festival, o rapaz foi até a orla da floresta e chamou João de Ferro. <br />
“Do que precisas?”, perguntou este. <br />
“Quero pegar a maçã dourada que a filha do rei vai jogar.” <br />
“Isso não é problema: já a tens praticamente em tuas mãos”, respondeu João de Ferro. “Vou dar-te mais: uma armadura vermelha para a ocasião, e um vigoroso cavalo castanho.” <br />
O jovem galopou para a arena no momento adequado, juntou-se aos outros cavaleiros e ninguém o reconheceu. A filha do rei jogou a maçã dourada para o grupo de homens, e o jovem a apanhou. Mas, depois de apanhá-la, afastou-se a galope. <br />
No segundo dia, João de Ferro deu-lhe uma armadura branca e um cavalo também branco. Ainda nessa ocasião a maçã caiu nas suas mãos; e mais uma vez , o jovem não ficou nem um instante mais, e fugiu a galope. <br />
O rei ficou irritado e disse: “Esse comportamento não é permitido; ele deve dirigir-se a mim e informar o seu nome. Se ele pegar a maçã uma terceira vez e fugir, corram atrás desse cavaleiro”, disse aos seus homens. “E mais: se não quiser voltar, dêem-lhe um golpe; usem a espada.” <br />
No terceiro dia do festival, João de Ferro levou ao moço uma armadura e um cavalo pretos. Naquela tarde ele também apanhou a maçã. Dessa vez, porém, quando se afastou com ela, os homens do rei o perseguiram e um deles se aproximou o bastante para ferí-lo na perna com a ponta da espada. O jovem escapou, mas o cavalo deu um salto tão grande para fugir que seu elmo caiu, e todos viram os cabelos dourados. Os homens do rei voltaram e contaram o que tinha acontecido. <br />
<br />
No dia seguinte, a filha do rei perguntou ao jardineiro pelo seu ajudante. “Ele está de volta ao trabalho no jardim. Esse tipo estranho foi ao festival ontem, e só voltou à noite. E mostrou aos meus filhos as maçãs douradas que ganhou.” <br />
O rei mandou chamar o rapaz, que compareceu com o gorro na cabeça. A filha do rei,porém, aproximou-se dele e lhe arrancou o gorro. O s cabelos dourados caíram sobre os ombros do moço; sua beleza era tanta que todos se espantaram. <br />
O rei disse: “És tu o cavaleiro que apareceu todos os dias do festival com um cavalo de cor diferente, e apanhou a maçã dourada todos os dias?” <br />
“Sou eu” respondeu ele, “e aqui estão as maçãs.” Tirando-as do bolso, entregou-as ao rei. “Se precisar de outra prova, queira olhar o ferimento que seus homens me fizeram ao me perseguir. E mais, sou também o cavaleiro que ajudou a derrotar o inimigo.” <br />
“Se podes realizar feitos dessa magnitude, evidentemente não és um ajudante de jardineiro. Quem é o teu pai?” <br />
“Meu pai é um rei notável, e tenho muito ouro, todo o ouro que possa precisar.” <br />
“É claro”, disse o rei, “que tenho uma dívida contigo. Dar-te-ei o que estiver ao meu alcance e desejares.” <br />
“Bem”, disse o rapaz, “quero sua filha por mulher.” <br />
A filha do rei riu e disse: “Gosto da maneira como ele diz as coisas, sem rodeios. Eu já sabia, pelo seu cabelo dourado, que não era ajudante de jardinagem.” E aproximou-se dele e o beijou. <br />
O pai e a mãe do rapaz foram convidados para o casamento e compareceram; estavam muito alegres porque já tinham perdido a esperança de rever o filho querido. <br />
Quando todos os convidados estavam sentados `a mesa do banquete de casamento, a música começou a tocar, e as grandes portas se abriram, deixando entrar um rei esplêndido, acompanhado por grande comitiva. <br />
Dirigiu-se ao rapaz e o abraçou. O convidado disse “Eu sou João de Ferro, que um feitiço transformou num Homem Natural. Quebraste o encantamento. A partir de agora, todos os tesouros que tenho são teus.” <br />
<br />
Segundo a tradução inglesa de Robert Bly da história de Jacob e Willelm Grimms, em Grimms Marchen(1946). <br />
<br />
“Embora tivesse sido recolhido pelos irmãos Grimm por volta de 1820, esse conto pode ter 10 ou 20 mil anos.” – Robert Bly </span></span></div><div class="Preformatted" style="margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 126.0pt;"><br />
</div><span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Fonte: João de Ferro, um livro sobre homens - Editora Campus<br />
Autor: Robert Bly<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span>Jorge Lobohttp://www.blogger.com/profile/08854290252708162115noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3101835431565597778.post-53541013862058165062011-08-23T15:38:00.000-07:002011-08-23T16:57:18.461-07:00O HOMEM DE CABEÇA DE PAPELÃOTexto colhido no site PROJETO RELEITURAS: <a href="http://www.releituras.com/">http://www.releituras.com/</a><br />
<br />
<br />
<div align="center" style="text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="background-color: #f3f3f3; color: #20124d; font-family: Arial; font-size: 13.5pt;">O homem de cabeça de papelão</span></b><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"></b></div><div align="center" style="text-align: center;"><b><span style="background-color: #f3f3f3; color: #20124d; font-family: Arial;">João do Rio</span></b><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;"></span></div><br />
<span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">No País que chamavam de Sol, apesar de chover, às vezes, semanas inteiras, vivia um homem de nome Antenor. Não era príncipe. Nem deputado. Nem rico. Nem jornalista. Absolutamente sem importância social.<br />
<br />
O País do Sol, como em geral todos os países lendários, era o mais comum, o menos surpreendente em idéias e práticas. Os habitantes afluíam todos para a capital, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>composta de praças, ruas, jardins e avenidas, e tomavam todos os lugares e todas as possibilidades da vida dos que, por desventura, eram da capital. De modo que estes eram mendigos e parasitas, únicos meios de vida sem concorrência, isso mesmo com muitas restrições quanto ao parasitismo. Os prédios da capital, no centro elevavam aos ares alguns andares e a fortuna dos proprietários, nos subúrbios não passavam de um andar sem que por isso não enriquecessem os proprietários também. Havia milhares de automóveis à disparada pelas artérias matando gente para matar o tempo, <i>cabarets</i> fatigados, jornais, <i>tramways</i>, partidos nacionalistas, ausência de conservadores, a Bolsa, o Governo, a Moda, e um aborrecimento integral. Enfim tudo quanto a cidade de fantasia pode almejar para ser igual a uma grande cidade com pretensões da América. E o povo que a habitava julgava-se, além de inteligente, possuidor de imenso bom senso. Bom senso! Se não fosse a capital do País do Sol, a cidade seria a capital do Bom Senso!<br />
<br />
Precisamente por isso, Antenor, apesar de não ter importância alguma, era exceção mal vista. Esse rapaz, filho de boa família (tão boa que até tinha sentimentos), agira sempre em desacordo com a norma dos seus concidadãos.<br />
<br />
Desde menino, a sua respeitável progenitora descobriu-lhe um defeito horrível: Antenor só dizia a verdade. Não a sua verdade, a verdade útil, mas a verdade verdadeira. Alarmada, a digna senhora pensou em tomar providências. Foi-lhe impossível. Antenor era diverso no modo de comer, na maneira de vestir, no jeito de andar, na expressão com que se dirigia aos outros. Enquanto usara calções, os amigos da família consideravam-no um <i>enfant terrible</i>, porque no País do Sol todos falavam francês com convicção, mesmo falando mal. Rapaz, entretanto, Antenor tornou-se alarmante. Entre outras coisas, Antenor pensava livremente por conta própria. Assim, a família via chegar Antenor como a própria revolução; os mestres indignavam-se porque ele aprendia ao contrario do que ensinavam; os amigos odiavam-no; os transeuntes, vendo-o passar, sorriam.<br />
<br />
Uma só coisa descobriu a mãe de Antenor para não ser forçada a mandá-lo embora: Antenor nada do que fazia, fazia por mal. Ao contrário. Era escandalosamente, incompreensivelmente bom. Aliás, só para ela, para os olhos maternos. Porque quando Antenor resolveu arranjar trabalho para os mendigos e corria a bengala os parasitas na rua, ficou provado que Antenor era apenas doido furioso. Não só para as vítimas da sua bondade como para a esclarecida inteligência dos delegados de polícia a quem teve de explicar a sua caridade.<br />
<br />
Com o fim de convencer Antenor de que devia seguir os tramitas legais de um jovem solar, isto é: ser bacharel e depois empregado público nacionalista, deixando à atividade da canalha estrangeira o resto, os interesses congregados da família em nome dos princípios organizaram vários <i>meetings</i> como aqueles que se fazem na inexistente democracia americana para provar que a chave abre portas e a faca serve para cortar o que é nosso para nós e o que é dos outros também para nós. Antenor, diante da evidência, negou-se.<br />
<br />
— Ouça! bradava o tio. Bacharel é o princípio de tudo. Não estude. Pouco importa! Mas seja bacharel! Bacharel você tem tudo nas mãos. Ao lado de um político-chefe, sabendo lisonjear, é a ascensão: deputado, ministro.<br />
<br />
— Mas não quero ser nada disso.<br />
<br />
— Então quer ser vagabundo?<br />
<br />
— Quero trabalhar.<br />
<br />
— Vem dar na mesma coisa. Vagabundo é um sujeito a quem faltam três coisas: dinheiro, prestígio e posição. Desde que você não as tem, mesmo trabalhando — é vagabundo.<br />
<br />
— Eu não acho.<br />
<br />
— É pior. É um tipo sem bom senso. É bolchevique. Depois, trabalhar para os outros é uma ilusão. Você está inteiramente doido.<br />
<br />
Antenor foi trabalhar, entretanto. E teve uma grande dificuldade para trabalhar. Pode-se dizer que a originalidade da sua vida era trabalhar para trabalhar. Acedendo ao pedido da respeitável senhora que era mãe de Antenor, Antenor passeou a sua má cabeça por várias casas de comércio, várias empresas industriais. Ao cabo de um ano, dois meses, estava na rua. Por que mandavam embora Antenor? Ele não tinha exigências, era honesto como a água, trabalhador, sincero, verdadeiro, cheio de idéias. Até alegre — qualidade raríssima no país onde o sol, a cerveja e a inveja faziam batalhões de biliosos tristes. Mas companheiros e patrões prevenidos, se a princípio declinavam hostilidades, dentro em pouco não o aturavam. Quando um companheiro não atura o outro, intriga-o. Quando um patrão não atura o empregado, despede-o. É a norma do País do Sol. Com Antenor depois de despedido, companheiros e patrões ainda por cima tomavam-lhe birra. Por que? É tão difícil saber a verdadeira razão por que um homem não suporta outro homem!<br />
<br />
Um dos seus ex-companheiros explicou certa vez:<br />
<br />
— É doido. Tem a mania de fazer mais que os outros. Estraga a norma do serviço e acaba não sendo tolerado. Mau companheiro. E depois com ares...<br />
<br />
O patrão do último estabelecimento de que saíra o rapaz respondeu à mãe de Antenor:<br />
<br />
— A perigosa mania de seu filho é por em prática idéias que julga próprias.<br />
<br />
— Prejudicou-lhe, Sr. Praxedes?<br />
<br />
Não. Mas podia prejudicar. Sempre altera o bom senso. Depois, mesmo que seu filho fosse águia, quem manda na minha casa sou eu.<br />
<br />
No País do Sol o comércio é uma maçonaria. Antenor, com fama de perigoso, insuportável, desobediente, não pôde em breve obter emprego algum. Os patrões que mais tinham lucrado com as suas idéias eram os que mais falavam. Os companheiros que mais o haviam aproveitado tinham-lhe raiva. E se Antenor sentia a triste experiência do erro econômico no trabalho sem a norma, a praxe, no convívio social compreendia o desastre da verdade. Não o toleravam. Era-lhe impossível ter amigos, por muito tempo, porque esses só o eram enquanto não o tinham explorado.<br />
<br />
Antenor ria. Antenor tinha saúde. Todas aquelas desditas eram para ele brincadeira. Estava convencido de estar com a razão, de vencer. Mas, a razão sua, sem interesse chocava-se à razão dos outros ou com interesses ou presa à sugestão dos alheios. Ele via os erros, as hipocrisias, as vaidades, e dizia o que via. Ele ia fazer o bem, mas mostrava o que ia fazer. Como tolerar tal miserável? Antenor tentou tudo, juvenilmente, na cidade. A digníssima sua progenitora desculpava-o ainda.<br />
<br />
— É doido, mas bom.<br />
<br />
Os parentes, porém, não o cumprimentavam mais. Antenor exercera o comércio, a indústria, o professorado, o proletariado. Ensinara geografia num colégio, de onde foi expulso pelo diretor; estivera numa fábrica de tecidos, forçado a retirar-se pelos operários e pelos patrões; oscilara entre revisor de jornal e condutor de bonde. Em todas as profissões vira os círculos estreitos das classes, a defesa hostil dos outros homens, o ódio com que o repeliam, porque ele pensava, sentia, dizia outra coisa diversa.<br />
<br />
— Mas, Deus, eu sou honesto, bom, inteligente, incapaz de fazer mal...<br />
<br />
— É da tua má cabeça, meu filho.<br />
<br />
— Qual?<br />
<br />
— A tua cabeça não regula.<br />
<br />
— Quem sabe?<br />
<br />
Antenor começava a pensar na sua má cabeça, quando o seu coração apaixonou-se. Era uma rapariga chamada Maria Antônia, filha da nova lavadeira de sua mãe. Antenor achava perfeitamente justo casar com a Maria Antônia. Todos viram nisso mais uma prova do desarranjo cerebral de Antenor. Apenas, com pasmo geral, a resposta de Maria Antônia foi condicional.<br />
<br />
— Só caso se o senhor tomar juízo.<br />
<br />
— Mas que chama você juízo?<br />
<br />
— Ser como os mais.<br />
<br />
— Então você gosta de mim?<br />
<br />
— E por isso é que só caso depois.<br />
<br />
Como tomar juízo? Como regular a cabeça? O amor leva aos maiores desatinos. Antenor pensava em arranjar a má cabeça, estava convencido.<br />
<br />
Nessas disposições, Antenor caminhava por uma rua no centro da cidade, quando os seus olhos descobriram a tabuleta de uma "relojoaria e outros maquinismos delicados de precisão". Achou graça e entrou. Um cavalheiro grave veio servi-lo.<br />
<br />
— Traz algum relógio?<br />
<br />
— Trago a minha cabeça.<br />
<br />
— Ah! Desarranjada?<br />
<br />
— Dizem-no, pelo menos.<br />
<br />
— Em todo o caso, há tempo?<br />
<br />
— Desde que nasci.<br />
<br />
— Talvez imprevisão na montagem das peças. Não lhe posso dizer nada sem observação de trinta dias e a desmontagem geral. As cabeças como os relógios para regular bem...<br />
<br />
Antenor atalhou:<br />
<br />
— E o senhor fica com a minha cabeça?<br />
<br />
— Se a deixar.<br />
<br />
— Pois aqui a tem. Conserte-a. O diabo é que eu não posso andar sem cabeça...<br />
<br />
— Claro. Mas, enquanto a arranjo, empresto-lhe uma de papelão.<br />
<br />
— Regula?<br />
<br />
— É de papelão! explicou o honesto negociante. Antenor recebeu o número de sua cabeça, enfiou a de papelão, e saiu para a rua.<br />
<br />
Dois meses depois, Antenor tinha uma porção de amigos, jogava o pôquer com o Ministro da Agricultura, ganhava uma pequena fortuna vendendo feijão bichado para os exércitos aliados. A respeitável mãe de Antenor via-o mentir, fazer mal, trapacear e ostentar tudo o que não era. Os parentes, porem, estimavam-no, e os companheiros tinham garbo em recordar o tempo em que Antenor era maluco.<br />
<br />
Antenor não pensava. Antenor agia como os outros. Queria ganhar. Explorava, adulava, falsificava. Maria Antônia tremia de contentamento vendo Antenor com juízo. Mas Antenor, logicamente, desprezou-a propondo um concubinato que o não desmoralizasse a ele. Outras Marias ricas, de posição, eram de opinião da primeira Maria. Ele só tinha de escolher. No centro operário, a sua fama crescia, querido dos patrões burgueses e dos operários irmãos dos <i>spartakistas</i> da Alemanha. Foi eleito deputado por todos, e, especialmente, pelo presidente da República — a quem atacou logo, pois para a futura eleição o presidente seria outro. A sua ascensão só podia ser comparada à dos balões. Antenor esquecia o passado, amava a sua terra. Era o modelo da felicidade. Regulava admiravelmente.<br />
<br />
Passaram-se assim anos. Todos os chefes políticos do País do Sol estavam na dificuldade de concordar no nome do novo senador, que fosse o expoente da norma, do bom senso. O nome de Antenor era cotado. Então Antenor passeava de automóvel pelas ruas centrais, para tomar pulso à opinião, quando os seus olhos deram na tabuleta do relojoeiro e lhe veio a memória.<br />
<br />
— Bolas! E eu que esqueci! A minha cabeça está ali há tempo... Que acharia o relojoeiro? É capaz de tê-la vendido para o interior. Não posso ficar toda vida com uma cabeça de papelão!<br />
<br />
Saltou. Entrou na casa do negociante. Era o mesmo que o servira.<br />
<br />
— Há tempos deixei aqui uma cabeça.<br />
<br />
— Não precisa dizer mais. Espero-o ansioso e admirado da sua ausência, desde que ia desmontar a sua cabeça.<br />
<br />
— Ah! fez Antenor.<br />
<br />
— Tem-se dado bem com a de papelão? — Assim...<br />
<br />
— As cabeças de papelão não são más de todo. Fabricações por séries. Vendem-se muito.<br />
<br />
— Mas a minha cabeça?<br />
<br />
— Vou buscá-la.<br />
<br />
Foi ao interior e trouxe um embrulho com respeitoso cuidado.<br />
<br />
— Consertou-a?<br />
<br />
— Não.<br />
<br />
— Então, desarranjo grande?<br />
<br />
O homem recuou.<br />
<br />
— Senhor, na minha longa vida profissional jamais encontrei um aparelho igual, como perfeição, como acabamento, como precisão. Nenhuma cabeça regulará no mundo melhor do que a sua. É a placa sensível do tempo, das idéias, é o equilíbrio de todas as vibrações. O senhor não tem uma cabeça qualquer. Tem uma cabeça de exposição, uma cabeça de gênio, hors-concours.<br />
<br />
Antenor ia entregar a cabeça de papelão. Mas conteve-se.<br />
<br />
— Faça o obséquio de embrulhá-la.<br />
<br />
— Não a coloca?<br />
<br />
— Não.<br />
<br />
— V.EX. faz bem. Quem possui uma cabeça assim não a usa todos os dias. Fatalmente dá na vista.<br />
<br />
Mas Antenor era prudente, respeitador da harmonia social.<br />
<br />
— Diga-me cá. Mesmo parada em casa, sem corda, numa redoma, talvez prejudique.<br />
<br />
— Qual! V.EX. terá a primeira cabeça.<br />
<br />
Antenor ficou seco.<br />
<br />
— Pode ser que V., profissionalmente, tenha razão. Mas, para mim, a verdade é a dos outros, que sempre a julgaram desarranjada e não regulando bem. Cabeças e relógios querem-se conforme o clima e a moral de cada terra. Fique V. com ela. Eu continuo com a de papelão.<br />
<br />
E, em vez de viver no País do Sol um rapaz chamado Antenor, que não conseguia ser nada tendo a cabeça mais admirável — um dos elementos mais ilustres do País do Sol foi Antenor, que conseguiu tudo com uma cabeça de papelão.</span><br />
<span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;"><br />
<b>João do Rio</b> <i>foi o pseudônimo mais constante de João Paulo Emílio Coelho Barreto, escritor e jornalista carioca, que também usou como disfarce os nomes de Godofredo de Alencar, José Antônio José, Joe, Claude, etc., nada ou quase nada escrevendo e publicando sob o seu próprio nome. Foi redator de jornais importantes, como "O País" e "Gazeta de Notícias", fundando depois um diário que dirigiu até o dia de sua morte, "A Pátria". Contista, romancista, autor teatral (condição em que exerceu a presidência da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais, tradutor de Oscar Wilde, foi membro da Academia Brasileira de Letras, eleito na vaga de Guimarães Passos. Entre outros livros deixou "Dentro da Noite", "A Mulher e os Espelhos", "Crônicas e Frases de Godofredo de Alencar", "A Alma Encantadora das Ruas", "Vida Vertiginosa", "Os Dias Passam", "As religiões no Rio" e "Rosário da Ilusão", que contém como primeiro conto a admirável sátira "O homem da cabeça de papelão". Nascido no Rio de Janeiro a 05 de agosto de 1881, faleceu repentinamente na mesma cidade a 23 de junho de 1921.<br />
<br />
O texto acima foi extraído do livro "Antologia de Humorismo e Sátira", organizada por R. Magalhães Júnior, Editora Civilização Brasileira — Rio de Janeiro, 1957, pág. 196.</i></span><br />
<span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;"><i><br />
</i></span><br />
<span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;"><i>Comentários de Jorge Lobo: sem comentários!</i></span>Jorge Lobohttp://www.blogger.com/profile/08854290252708162115noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3101835431565597778.post-59065169971098068982011-08-21T17:28:00.000-07:002011-08-21T17:28:20.510-07:00"HOMEM PRIMATA... CAPITALISMO SELVAGEM..."Quino, Autor da “Mafalda”, desiludido com o rumo da nossa realidade, deixou impresso nos cartoons o seu sentimento. <br />
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsufMYgLo3dQqyRXFGUZW2NMtmUUTblz8cMBEyAdSInl9r0kOHkFwqMsCH4RKq6Yf3XaNe-vcjyDoMpYbKGbGDwy9MJPY5xoXnRIhHdXwLRmT86kYf5rnqc7g5j4cpC0IxYnPcjPCtGJKk/s1600/QUINO1image001.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="203" qaa="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsufMYgLo3dQqyRXFGUZW2NMtmUUTblz8cMBEyAdSInl9r0kOHkFwqMsCH4RKq6Yf3XaNe-vcjyDoMpYbKGbGDwy9MJPY5xoXnRIhHdXwLRmT86kYf5rnqc7g5j4cpC0IxYnPcjPCtGJKk/s320/QUINO1image001.jpg" width="320" /></a></div><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrin4yQpDBJfWwj0HleM10lBltV79cipOT4DzDTABQji6dPDn71ilt9pJjJJPu-48rJZwSa6reEX98ywaAQevtR1gle9GJtkBGodNVS4BoUDqQpa0hxNoLmHZ6MG1b4mGoCaJlP8A72bZg/s1600/QUINO2mage002.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="203" qaa="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrin4yQpDBJfWwj0HleM10lBltV79cipOT4DzDTABQji6dPDn71ilt9pJjJJPu-48rJZwSa6reEX98ywaAQevtR1gle9GJtkBGodNVS4BoUDqQpa0hxNoLmHZ6MG1b4mGoCaJlP8A72bZg/s320/QUINO2mage002.jpg" width="320" /></a></div><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgbz5wwq2TD8KD4XjsJgGfgnXyRsBGJ4PhU4cgKLkkeJp1F7MvMDlmLK672q0FYJj1szaSZhLIqSZkAVUu4OTR3Q9XQt8KyABHn9m4rcFrJsTq2JScyvNGEaQcNlkKCcIRy36zfVaR7ytpg/s1600/QUINO3image003.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="203" qaa="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgbz5wwq2TD8KD4XjsJgGfgnXyRsBGJ4PhU4cgKLkkeJp1F7MvMDlmLK672q0FYJj1szaSZhLIqSZkAVUu4OTR3Q9XQt8KyABHn9m4rcFrJsTq2JScyvNGEaQcNlkKCcIRy36zfVaR7ytpg/s320/QUINO3image003.jpg" width="320" /></a></div><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJejUSpv_sbeWHWibiN0Fqa50_nz44zYZfT3mb-me6gDYKnCKrWPkugDQ9Wjf759G1rpvhZJ7-l2RvvpOKFK0l3A2vH0yAsvxxZd-RAYjAVNvWFt_-vy9SjpWOvIMMls3eJSxlL3GD7bcF/s1600/QUINO4image004.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="203" qaa="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJejUSpv_sbeWHWibiN0Fqa50_nz44zYZfT3mb-me6gDYKnCKrWPkugDQ9Wjf759G1rpvhZJ7-l2RvvpOKFK0l3A2vH0yAsvxxZd-RAYjAVNvWFt_-vy9SjpWOvIMMls3eJSxlL3GD7bcF/s320/QUINO4image004.jpg" width="320" /></a></div><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRLOxUhFzbDyD-o6oNz_DG02JI8NB3AlROwo1UXZpPPQoT-sqEjHT0gvpoJ7Ay7TO9jInM7RuuUyIjSkSrnauTfs_5rcjgRMl6EtWFpKBNJk28ew3bFc63dwSzsNu9wVYxQcKdtGf_D4nX/s1600/QUINO5image005.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="203" qaa="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRLOxUhFzbDyD-o6oNz_DG02JI8NB3AlROwo1UXZpPPQoT-sqEjHT0gvpoJ7Ay7TO9jInM7RuuUyIjSkSrnauTfs_5rcjgRMl6EtWFpKBNJk28ew3bFc63dwSzsNu9wVYxQcKdtGf_D4nX/s320/QUINO5image005.jpg" width="320" /></a></div><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjwko8wqp3JXYGPA3nvqmBpQByboDgfyKAAAtBOOSpT6sz4cwQdgLhkSJ4nJ2bMhPHLxBqbi-dQDDaEqu90awz2HxA5cIV8fsRj3RjB5jcMo-vCoQbbz812dsTvZ5U0qLwoYIv-zcP1iyNA/s1600/QUINO6image006.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="203" qaa="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjwko8wqp3JXYGPA3nvqmBpQByboDgfyKAAAtBOOSpT6sz4cwQdgLhkSJ4nJ2bMhPHLxBqbi-dQDDaEqu90awz2HxA5cIV8fsRj3RjB5jcMo-vCoQbbz812dsTvZ5U0qLwoYIv-zcP1iyNA/s320/QUINO6image006.jpg" width="320" /></a></div><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiwqOm2BpBdB8e316relxJMvizALr5YRvxaZ6XAubPY7jlobF3-hrQotYg5TW59-6UI6eof1G98ljYhNbSGoHuwFA23xEURdhbrhGWZ36yHk0eDA4_FCyKhRww8DsqYFQCZud7B-JjNK0TV/s1600/QUINO7image007.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="203" qaa="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiwqOm2BpBdB8e316relxJMvizALr5YRvxaZ6XAubPY7jlobF3-hrQotYg5TW59-6UI6eof1G98ljYhNbSGoHuwFA23xEURdhbrhGWZ36yHk0eDA4_FCyKhRww8DsqYFQCZud7B-JjNK0TV/s320/QUINO7image007.jpg" width="320" /></a></div><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxkmHgi7nQZAliWVt0RG1W6QGe8-z8dIXCnU63aoZcxjIR0ohA6l1iEu1yJmWJ8O3YnMr6_yMD45vmkQ7dWVVdWc5T1uIvw0ONkfCcBPgQuGG9yZR1GZoyBxQb0KusGaWOzmWD7L5br24m/s1600/QUINO8image008.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="203" qaa="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxkmHgi7nQZAliWVt0RG1W6QGe8-z8dIXCnU63aoZcxjIR0ohA6l1iEu1yJmWJ8O3YnMr6_yMD45vmkQ7dWVVdWc5T1uIvw0ONkfCcBPgQuGG9yZR1GZoyBxQb0KusGaWOzmWD7L5br24m/s320/QUINO8image008.jpg" width="320" /></a></div>Jorge Lobohttp://www.blogger.com/profile/08854290252708162115noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3101835431565597778.post-90767139218958882352011-07-09T05:47:00.001-07:002013-11-22T16:51:38.533-08:00DICAS LITERÁRIASPara o roteirista ou escritor que quer se aprimorar, acho relevante que ele se aprofunde. Para auxiliar quem queira, eis aqui algumas dicas:<br />
<br />
LIVROS DE TEORIA - OS MAIS IMPORTANTES - ORDEM CRESCENTE DE DIFICULDADE<br />
<br />
1)"INTRODUÇÃO À ANÁLISE DA NARRATIVA" - BENJAMIN ABDALA JÚNIOR<br />
2)"A ARTE DA FICÇÃO" - DAVID LODGE<br />
3)"ASPECTOS DO ROMANCE" - EDWARD M. FORSTER<br />
4)"AS ESTRUTURAS NARRATIVAS" - TZVETAN TODOROV<br />
<br />
OUTROS LIVROS RECOMENDÁVEIS MAS PORÉM NÃO TÃO IMPORTANTES (NA MODESTA OPINIÃO DESTE ESCRIBA):<br />
"OS ARQUÉTIPOS LITERÁRIOS" - E. M. MELETÍNSKI<br />
"A TÉCNICA DA FICÇÃO MODERNA" - ASSIS BRASIL<br />
"O INCONSCIENTE POLÍTICO - A NARRATIVA COMO ATO SOCIALMENTE SIMBÓLICO" - FREDRIC JAMESON<br />
"AS MARCAS DO VISÍVEL" - FREDRIC JAMESON<br />
"ANÁLISE ESTRUTURAL DA NARRATIVA" - ROLAND BARTHES, UMBERTO ECO E OUTROS<br />
"O REALISMO MARAVILHOSO" - IRLEMAR CHIAMPI<br />
"MITOS DO INDIVIDUALISMO MODERNO" - IAN WATT<br />
"BORGES: UMA POÉTICA DA LEITURA" - EMIR R. MONEGAL<br />
"LITERATURA E SOCIEDADE" - ANTONIO CANDIDO<br />
"O HERÓI DE MIL FACES" - JOSEPH CAMPBELL<br />
"STORY" - ROBERT MCKEE<br />
"O ROTEIRO DE CINEMA" - MICHEL CHION<br />
"OS SEGREDOS DA FICÇÃO" - RAIMUNDO CARRERO<br />
"SEIS PASSEIOS PELOS BOSQUES DA FICÇÃO" - UMBERTO ECO<br />
"O FANTÁSTICO" - SELMA CALASANS RODRIGUES<br />
"FORMAS BREVES" - RICARDO PIGLIA<br />
"A ARTE DA FICÇÃO" - HENRY JAMES<br />
"O QUE É RETÓRICA" - TEREZA LÚCIA HALLIDAY<br />
"INTRODUÇÃO À RETÓRICA - A RETÓRICA COMO CRÍTICA LITERÁRIA" - DANTE TRINGALI <br />
"ARTE RETÓRICA E ARTE POÉTICA"- ARISTÓTELES (2 LIVROS EM 1 - EDITORA EDIOURO)<br />
AS PRINCIPAIS TEORIAS DO CINEMA - J. DUDLEY ANDREY<br />
A IMAGEM MOVIMENTO - GILLES DELEUZE<br />
A IMAGEM TEMPO - GILLES DELEUZE<br />
"VALISE DE CRONÓPIO" - JULIO CORTÁZAR<br />
"O ROMANCE POLICIAL" - BOILEAU-NARCEJAC<br />
"DICIONÁRIO DE SÍMBOLOS" - HERDER LEXICON<br />
<br />
OBS.: PARA ENTENDER MELHOR CERTOS LIVROS, É RECOMENDÁVEL LER ANTES OUTROS. CITO COMO EXEMPLOS "O QUE É LINGUÍSTICA", DE ENI PULCINELI ORLANDI (COLEÇÃO PRIMEIROS PASSOS, ED. BRASILENSE) E "DICIONÁRIO DE TEORIA DA NARRATIVA", DE CARLOS REIS E ANA CRISTINA M. LOPES - PARA ENTENDER MELHOR OS LIVROS "ÄS ESTRUTURAS NARRATIVAS" E "ANÁLISE ESTRUTURAL DA NARRATIVA". NESSA MESMA LINHA, CITO COMO IMPORTANTES LIVROS DE ARNALDO SPINDEL: "O QUE É SOCIALISMO", "O QUE É COMUNISMO" E "O QUE É CAPITALISMO", ALÉM DE "CONHEÇA MARX", DE RIUS, "MANIFESTO COMUNISTA EM QUADRINHOS", DE KARL MARX/FRIEDRICH ENGELS, ILUSTRAÇÕES DE RO MARCENARO - PARA ENTENDER MELHOR OS LIVROS DE FREDRIC JAMESON.<br />
<br />
É CLARO QUE É FUNDAMENTAL LER OS LIVROS/AUTORES DE FICÇÃO QUE SÃO CITADOS NESSAS OBRAS TEÓRICAS E ATÉ MESMO OUTROS QUE NÃO SÃO CITADOS MAS QUE SÃO IMPORTANTES: "DECAMERÃO", DE BOCCACCIO, CONTOS E ROMANCES POLICIAIS DE DASHIELL HAMMETT E RAYMOND CHANDLER, A DESPREZADA (?) AGATHA CHRISTIE, EDGAR ALLAN POE, JORGE LUIS BORGES, VOLTAIRE, HERMANN HESSE, "CONTOS FANTÁSTICOS DO SÉCULO XIX ESCOLHIDOS POR ITALO CALVINO", "O LIVRO DE OURO DA MITOLOGIA", DE THOMAS BULFINCH, CARLOS FUENTES, JUAN CARLOS ONETTI, GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ, AMBROSE BIERCE, H.P. LOVECRAFT, FREDRIC BROWN, CHARLES BUKOWSKI, CÉLINE, GEORGE ORWELL, ALDOUS HUXLEY, ALAIN ROBBE-GRILLET, JULIO CORTÁZAR, MURILO RUBIÃO, JACK KEROUAC, MARIO VARGAS LLOSA, GUSTAVE FLAUBERT, JOSÉ J. VEIGA, GUIMARÃES ROSA, RICARDO RAMOS, JOÃO ANTÔNIO, OS CONTOS DE MACHADO DE ASSIS (VÁRIAS EDITORAS LANÇARAM VOLUMES COM CONTOS DE MACHADO, MAS EU INDICO A EDIÇÃO DA CULTRIX, COM ORGANIZAÇÃO DE MASSAUD MOISÉS), HENRY JAMES, HENRY GREEN, MURIEL SPARK, MILAN KUNDERA, PAUL AUSTER, JOHN UPDIKE, JOHN BARTH, ANTHONY BURGESS, LEONORA CARRINGTON, WILLIAM GOLDING, JANE AUSTEN, ETC.<br />
<br />
Existe um velho slogan que diz: "nada substitui o talento!" Pensem nisso. Pensem também que não existe informação que tenha dito (pelo menos até onde eu sei) até hoje que o (na minha opinião) grande escritor Charles Bukowski tenha lido teoria literária, mas é fato comprovado que ele leu muitas obras de ficção. Pensem que a técnica e a inspiração podem se complementar, consciente ou inconscientemente. Pensem o que quiserem.Jorge Lobohttp://www.blogger.com/profile/08854290252708162115noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3101835431565597778.post-77230320663723488072011-06-28T08:57:00.000-07:002013-10-17T06:54:46.537-07:00UMA AMOSTRA DO MEU TRABALHO COMO ROTEIRISTA<h5 style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana;"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 21px;"><u><br />
</u></span></span></h5>
<h5 style="text-align: justify;">
<u><span style="font-family: Verdana; font-size: 16pt;"> QUE PAÍS É ESTE?</span></u></h5>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<h4 align="left" style="text-align: left;">
<span style="font-family: "Times New Roman";">Um roteiro de Jorge Lobo, adaptado de um conto de Medeiros e Albuquerque (em domínio público)</span></h4>
<h4 align="left" style="text-align: left;">
<span style="font-family: "Times New Roman";"></span></h4>
<h4 align="left" style="text-align: left;">
<span style="font-family: "Times New Roman";"></span>Obra registrada na Ministério da Cultura – No. Registro: 379.606 ; Livro: 704; Folha: 266</h4>
<h4 align="left" style="text-align: left;">
<span style="font-family: "Times New Roman";"></span></h4>
<h4 align="left" style="text-align: left;">
<span style="font-family: "Times New Roman";"></span></h4>
<h4 align="left" style="text-align: left;">
</h4>
<h4 align="left" style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, "Times New Roman", serif;">PERSONAGENS</span></h4>
<h4 align="left" style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;"></span></h4>
<h4 align="left" style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;">JONAS (PROTAGONISTA)</span></h4>
<div class="MsoNormal">
PRESIDENTE DA REPÚBLICA (ANTAGONISTA)</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
GAROTO MENDIGO</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
MARCELO</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
HOMEM ENGRAVATADO (EMISSÁRIO DO GOVERNO)</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
CABOCLO JOÃO FRANCISCO</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
FRANZ</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
HOMEM ALTO (AGENTE DO GOVERNO)</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
FIGURANTES</div>
<h6>
<span style="font-family: Verdana;"></span></h6>
<h6>
<span style="font-family: Verdana;"><span style="text-decoration: none;"> </span></span><span style="font-family: Verdana;"></span><span class="Apple-style-span" style="font-family: Verdana;"><u><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">ROTEIRO</span></u></span></h6>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: "Courier New";"><span class="Apple-style-span" style="font-size: 21px;"><b><u><br />
</u></b></span></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><u><span style="font-size: 14pt;">QUE PAÍS É ESTE?</span></u></b></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b>PRÓLOGO</b></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">NARRAÇÃO E LETREIRO: fundo preto, letras brancas</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText">
<span style="font-family: "Times New Roman";"><span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">Em 2030, o Brasil assiste ao governo de um novo presidente da república.Eleito pelo povo, faz uma política de forte alinhamento aos Estados Unidos. Nessa nova ordem, ele torna o Rio de Janeiro novamente a capital do país(“para dar mais transparência ao governo”, foi o que ele disse. Bem, isso foi o que ele disse...) e chega até a contaminar os reservatórios de água com substâncias que emburrecem as pessoas para minar as resistências ao seu governo, prática já usada pelos americanos em sua própria população e cuja tecnologia cederam ao Brasil. Poucos são os que sabem disso, como os comunistas(nesse ponto da narração, há uma CENA – um COMUNISTA, homem jovem, de ROUPAS VERMELHAS APARECE NA TELA EM FUSÃO COM OS LETREIROS E GRITA: “quem acreditaria?”, fim da CENA), que anseiam pela chegada ao poder.Jonas, nossa personagem principal é um desses comunistas insatisfeitos. </span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b>FADE IN:</b></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
1 – INTERIOR – APARTAMENTO DE JONAS – DIA </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoBodyText">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">Aparece um CARTAZ com uma FOTO do PRESIDENTE DA REPÚBLICA colada numa porta.O cartaz é mostrado de cima pra baixo, isto é, vemos a foto, onde, em cima dela, no cartaz, está escrito: o nosso presidente. Um dardo acerta o rosto do presidente.Uma MÃO escreve, então, com um pincel atômico, no espaço em branco do cartaz, abaixo da foto, a seguinte frase: o idiota do ano.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">JONAS, personagem principal, homem de 40 anos, branco, cabelos curtos e morenos, pega um copo na cozinha, vai até a garrafa(tipo garrafão) de água mineral e bebe.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">JONAS</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">Ahh!</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"> 2 – EXTERIOR – DIA</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">JONAS caminha pelas ruas do centro do Rio de Janeiro(Ao largo do PALÁCIO TIRADENTES).</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">JONAS</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span lang="EN-US" style="font-size: large;">(ANDANDO, VOICE OFF)</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div align="left" class="MsoBodyTextIndent" style="margin-left: 153pt; text-align: left;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">Ninguém compreendera por que eu fora nomeado ministro...</span></div>
<div class="DefinitionTerm" style="layout-grid-mode: both;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">Um GAROTO MENDIGO, vestido com roupas simples e um pouco rasgadas, aborda Jonas.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">GAROTO MENDIGO</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyTextIndent2" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;"> Moço, o senhor pode me arranjar um trocado, com todo o respeito?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 18pt;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">JONAS</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 151.5pt;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 151.5pt; text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">Com todo o respeito?Que país é esse?Pelo amor de deus!Hum! como se eu acreditasse nele!Ah !Quer saber de uma coisa?Não vou te dar trocado nenhum, não vale a pena, não!</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 151.5pt;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 151.5pt;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"> GAROTO MENDIGO</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 151.5pt;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 151.5pt;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">Ô moço!Quê isso?!Tudo vale a pena se a alma não é pequena!</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 151.5pt;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">JONAS</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;"> Hum!Isso, dito por um idiota, fica mais idiota!Tá bom, já me convenceu!Toma o seu trocadinho aí e não enche o saco!</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"> </span></div>
<div class="MsoBodyText2">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">Jonas tira do bolso uns trocadinhos e entrega ao garoto mendigo.</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">3 - INTERIOR – PALÁCIO DO CATETE – SALA DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA – DIA</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">Vemos uma FOTO do presidente da república(com os dizeres“o nosso presidente”) e o ângulo abre para revelar o PRESIDENTE DA REPÚBLICA, que está sentado à sua mesa, fumando um charuto, com uma cara de contentamento, e o resto de seu gabinete. Na sala do presidente há duas cadeiras postadas em frente `a MESA na qual ele se apóia, vários PAPÉIS sua mesa, um TELEFONE, uma pequena BANDEIRA DO BRASIL e alguns QUADROS na parede, alguns de pintores, outros de fotos do presidente apertando a mão de autoridades na inauguração de obras, uma OUTRA MESA mais a frente com mais duas cadeiras em volta.Alguém BATE à porta.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">PRESIDENTE DA REPÚBLICA</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">Pode entrar!</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"> Um ASSESSOR ENTRA, com um ENVELOPE de CARTA na mão.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">PRESIDENTE DA REPÚBLICA</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyTextIndent2" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;"> Fala, Marcelo!</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">MARCELO</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">(colocando a o envelope na mesa)</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"> </span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">Presidente, pro senhor!</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">O presidente da república tira a carta do envelope, começa a ler e, pouco a pouco, vai estampando um sorriso, ao mesmo tempo em que entra a voz over. </span></div>
<div class="MsoBodyText2">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: center;">
<span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">JONAS(VOICE OVER)</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div align="left" class="MsoBodyText2" style="margin-left: 151.5pt; text-align: left;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">Um belo dia, o presidente havia recebido uma carta anônima.</span></div>
<div align="left" class="MsoBodyText2" style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div align="left" class="MsoBodyText2" style="text-align: left;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">4 – EXTERIOR – PRAIA - DIA </span></div>
<div align="left" class="MsoBodyText2" style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div align="left" class="MsoBodyText2" style="margin-left: 151.5pt; text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div align="left" class="MsoBodyText2" style="text-align: left;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">JONAS está na praia, parado, olhando pro mar.</span></div>
<div align="left" class="MsoBodyText2" style="margin-left: 151.5pt; text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div align="left" class="MsoBodyText2" style="margin-left: 151.5pt; text-align: left;">
</div>
<div style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">JONAS(V. OFF)</span></div>
<span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;"><br style="mso-special-character: line-break;" /></span>
<div class="MsoBodyText2" style="margin-left: 151.5pt; text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">Ela lhe dizia que o autor queria que ele nomeasse para o cargo de ministro da fazenda um dos nomes da lista que se seguia. E vinha, por ordem alfabética, uma série de vinte e cinco nomes.Entre eles estava o meu: o único aceitável.Os outros eram de operários comunistas, de tipos sem compostura, de inimigos pessoais do presidente.Eu era aí uma espécie de “carta forçada”. A ter de de se fazer a escolha naquele menu, não havia remédio senão engolir-me.</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="margin-left: 151.5pt; text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="margin-left: 151.5pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">Jonas caminha pela praia olhando as ondas.</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;"> 5 – INTERIOR DE UM RESTAURANTE – DIA </span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">JONAS, num RESTAURANTE, têm seu prato servido por um GARÇOM, que bota um lenço em volta de seu pescoço.</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">JONAS(V.OFF)</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="margin-left: 151.5pt; text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><span style="font-family: "Times New Roman";"></span>Você vai ter que me engolir!</span> <br />
</div>
<div align="left" class="MsoBodyText2" style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div align="left" class="MsoBodyText2" style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div align="left" class="MsoBodyText2" style="text-align: left;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;"> 6 – INTERIOR – PALÁCIO DO CATETE – SALA DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA - DIA</span></div>
<div align="left" class="MsoBodyText2" style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div align="left" class="MsoBodyText2" style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div align="left" class="MsoBodyText2" style="text-align: left;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, fumando UM CHARUTO, lê a CARTA sorrindo.</span></div>
<div align="left" class="MsoBodyText2" style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div align="left" class="MsoBodyText2" style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">JONAS(V.OVER)</span></div>
<div class="MsoBodyText2">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;"> </span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">O missivista prevenia o presidente que, a partir daquele dia até que ele fizesse a nomeação, iria matando várias pessoas gradas.Para que ele visse que essa ameaça não era vã, prevenilo-ia sempre com antecedência de que alguém ia morrer.Começaria por homens notáveis, indiferentes ou inimigos do chefe do Estado, passaria a parentes desse e acabaria, se fosse preciso, por ele mesmo.Chamava-lhe a atenção para que a sua demora em ceder à intimação custaria um número de vidas cada vez maior.E acabava anunciando: hoje mesmo ou amanhã morrerá o senador Eustorgio.</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div align="left" class="MsoBodyText2" style="text-align: left;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">O presidente da república, sorrindo e continuando a fumar o charuto, amassa a carta e a coloca em cima da mesa. </span></div>
<div align="left" class="MsoBodyText2" style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">PRESIDENTE DA REPÚBLICA</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">(fumando o charuto)</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="margin-left: 18pt; text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">Mais um engraçadinho!</span></div>
<div align="left" class="MsoBodyText2" style="margin-left: 18pt; text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div align="left" class="MsoBodyText2" style="text-align: left;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;"> O presidente da república faz menção de atirar a carta ao cesto mas pára, hesitante e começa a discar um número ao telefone.</span></div>
<div align="left" class="MsoBodyText2" style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">PRESIDENTE DA REPÚBLICA</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">(fumando o charuto)</span></div>
<div class="MsoBodyText2">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">Alô!Senador Zé Maria!?É o presidente! Como que presidente?Acorda, Zé Maria! Não quer nada com a hora do Brasil, é? (áudio: começo do primeiro trecho de O Guarani, de Carlos Gomes) Escuta!O sr. sabe me dizer, com todo o respeito, se o Senador Eustorgio esteve aí hoje?(áudio: fim do trecho de O Guarani) ... esteve?Ele estava bem? Ok, muito obrigado!</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">O presidente da república atira a carta no cesto de lixo.</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">FUSÃO PARA:</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">7 – INTERIOR – PALÁCIO DO CATETE – SALA DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA - DIA</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">O PRESIDENTE DA REPÚBLICA está sentado à mesa brincando com uma faca, passando uma FACA entre os dedos até que acerta um dos dedos sem querer.</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: justify;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">PRESIDENTE DA REPÚBLICA</span></div>
<div class="MsoBodyText2">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;"> Aii!Droga!Maldita faca!</span></div>
<div class="MsoBodyText2">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div align="left" class="MsoBodyText2" style="text-align: left;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">O telefone toca e o presidente da república atende.</span></div>
<div align="left" class="MsoBodyText2" style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">PRESIDENTE DA REPÚBLICA</span></div>
<div align="left" class="MsoBodyText2" style="text-align: left;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;"> </span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;"> Alô?!O quê!?Morreu?De quê?Abafar o caso?O quê?</span></div>
<div align="left" class="MsoBodyText2" style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div align="left" class="MsoBodyText2" style="text-align: left;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">O presidente da república desliga o telefone com força, levanta de sua mesa, anda rapidamente até o cesto de lixo e pega a carta que tinha amassado e jogado fora, a desamassa e fica olhando pra ela com olhar de preocupação.</span></div>
<div class="MsoBodyText2">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"></span> <br />
<br />
</div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"> 8 – INTERIOR – PALÁCIO DO CATETE – SALA DO PRESIDENTE – DIA</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">O PRESIDENTE DA REPÚBLICA está sentado à sua mesa, olhando para Marcelo, que está em pé.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">PRESIDENTE DA REPÚBLICA</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">E Então?</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">MARCELO</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">O chefe de polícia já deu ordem pra vigiarem de perto todos os nomes da lista e grampearem todos os telefones.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 18pt;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">PRESIDENTE DA REPÚBLICA</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">Ótimo!</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"> 9 – INTERIOR DE UMA CELA – NOITE</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">Um homem alto, encapuzado, numa sala iluminada por apenas um pequeno lustre, anda de um lado para o outro e olha para um HOMEM amarrado à uma cadeira.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">HOMEM ALTO</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">(dando um “telefone” no homem amarrado)</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">Fala desgraçado!Comunista de merda!</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"> 10 - EXTERIOR</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">JONAS, andando na rua, dá um leve olhar pra trás, onde um HOMEM de JAQUETA MARROM o segue a 20 metros de distância.O homem de jaqueta marrom disfarça quando vê que Jonas o olha e anda em outra direção.Jonas ENTRA numa CASA( onde se lê na sua porta de entrada: ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA), abrindo a porta com uma chave.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">JONAS(V.OFF)</span></div>
<div class="MsoBodyText2">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">Não foi difícil perceber que estava sendo vigiado. Sabia também que meu telefone estava grampeado... Mas eu era um cidadão acima de qualquer suspeita...</span></div>
<div class="MsoBodyText2">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"> 11 – PALÁCIO DO CATETE - GABINETE DO ASSESSOR MARCELO – DIA</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">MARCELO está sentado à sua mesa em sua sala e atende ao telefone.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">MARCELO</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">Alô?</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">VOZ AO TELEFONE</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;"> Diga a S. Exa. que hoje morrerá um Deputado.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">Marcelo levanta rapidamente de sua cadeira, SAI e VEMOS a sala vazia e o ângulo fecha na pequena bandeira do Brasil tremulando levemente.</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">12 – INTERIOR – APARTAMENTO DE JONAS - DIA</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">JONAS, de PIJAMA, deitado em seu SOFÁ, lê um jornal em que se lê na MANCHETE: SELEÇÃO PARTE FIRME PARA DERROTAR “LOS HERMANOS” ARGENTINOS, abaixo se lê: MORRE O DEPUTADO MALTA DE COMPLICAÇÕES CARDÍACAS e mais abaixo diversas fotos de jogadores de futebol. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">A campainha toca, Jonas joga o jornal no sofá, se levanta e abre a porta.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">Ao abrir a porta, Jonas se depara com um homem engravatado.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">HOMEM ENGRAVATADO</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyTextIndent3" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">Bom dia, sr. Jonas!O excelentíssimo presidente da república mandou entregar isso ao sr., com todo o respeito.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 18pt;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"> O homem engravatado entrega um envelope a Jonas.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"> 13 – INTERIOR – PALÁCIO DO CATETE – SALA DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA – DIA </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">Jonas está sentado na cadeira em frente ao presidente e sua mesa.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">PRESIDENTE DA REPÚBLICA</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">O sr. sabe provavelmente para que o mandei convidar.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">JONAS</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">Absolutamente, não. Se o Cardeal-Arcebispo me mandasse convidar, eu não teria maior surpresa.</span></div>
<div class="MsoBodyText2">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2">
<span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">JUMP CUT PARA:</span></div>
<div class="MsoBodyText2">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div align="left" class="MsoBodyText2" style="text-align: left;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">14 – INTERIOR – PALÁCIO DO CATETE – SALA DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA - DIA</span></div>
<div class="MsoBodyText2">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">JONAS está jogando XADRÊS com o presidente em sua sala. Cada um faz seus movimentos.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span lang="EN-US" style="font-size: large;">JONAS(V. OFF)</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">O presidente me disse então do que se tratava : convidava-me para ministro da fazenda e prometia-me toda a autonomia.Era isso o que mais lhe pesava. Porque a carta cominatória exigia que ele desse ao ministro o máximo de autonomia, aprovando todos os seus atos, sem discutir.E isso não podia deixar de repugnar ao seu caráter dominador e autoritário.Objetei a minha incompetência, tive a dose precisa de modéstia, mas acabei aceitando.E nessa mesma noite a notícia da estranha nomeação encheu de espanto a cidade.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">Jonas coloca em xeque o REI do presidente.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">JONAS</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">Xeque-mate</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">15 – INTERIOR – APARTAMENTO DE JONAS – NOITE</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">Jonas, sentado numa POLTRONA, dá um leve sorriso, levanta, se dirige à cozinha, pega um copo, bebe um copo de água mineral e sorri novamente.Anda pela cozinha até chegar à janela e olhar pro horizonte.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">16 – INTERIOR – CASA DO CABOCLO JOÃO FRANCISCO - DIA</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">Um CABOCLO, com uma cobra nas mãos, espreme com as mãos, pressionando um dente de cobra, o veneno dentro de um pequeno frasco.</span></div>
<div class="MsoBodyText2">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: center;">
<span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">JONAS(V. OVER)</span></div>
<div class="MsoBodyText2">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: left;">
<br /></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: center;">
<div align="left" class="MsoBodyText2" style="text-align: left;">
<span style="font-size: large;">Anos antes, viajando no interior, eu
estivera em relações com um velho caboclo que se especializara em curar
dentaduras de cobras.Ele manifestava especial predileção por um frasquinho, que
dizia conter o veneno de uma cobra e sei lá mais eu que diabos de substâncias
que, dizia ele, não havia ainda sido
descoberto pela ciência e que mantinha cuidadosamente fechado.O vidro teria
umas trinta gramas de capacidade.Mas o caboclo freqüentemente o apontava,
dizendo: </span><o:p></o:p></div>
</div>
<div class="MsoBodyText2">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">CABOCLO</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">(com o frasquinho nas mãos)</span></div>
<div align="left" class="MsoBodyText2" style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;"> Com isto se poderia matar todo homem vivente criado por esse mundo inteiro.</span></div>
<div align="left" class="MsoBodyText2" style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">Jonas</span></div>
<div class="MsoBodyText2">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">Qualé, João Francisco!Você está exagerando.</span></div>
<div class="MsoBodyText2">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;"> CABOCLO JOÃO FRANCISCO </span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">(FALANDO COM A VOZ DE JONAS, VÊ-SE JOÃO FRANCISCO ABRINDO A BOCA MAS É A VOZ DE JONAS QUE SAI DE SEUS LÁBIOS)</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;"> Ele sustentava, porém o contrário – e era quem tinha razão.</span></div>
<div align="left" class="MsoBodyText2" style="text-align: left;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"> 17 – INTERIOR – CASA DO CABOCLO – NOITE</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">O CABOCLO JOÃO FRANCISCO geme em sua cama, ao lado de duas mulheres, uma mais velha e outra jovem, que olham pra ele com cara de tristeza. Cada uma das mulheres segura uma mão do caboclo.Jonas observa a cena postado, em pé, perto do pé da cama. Caboclo João Francisco dá seu último suspiro e morre.As duas mulheres se agacham e choram de encontro ao peito de caboclo João Francisco.JONAS se dirige à saída quando vê o FRASQUINHO COM VENENO numa ESTANTE.</span></div>
<div class="MsoBodyText2">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;"> JONAS(V.OFF)</span></div>
<div class="MsoBodyText2">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">Meti-o no bolso do colete e...</span></div>
<div class="DefinitionTerm" style="layout-grid-mode: both;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">Jonas bota o frasquinho no bolso do colete e SAI.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"> 18 – INTERIOR – APARTAMENTO DE JONAS - DIA</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">A voz off cobre a cena em que JONAS fala com FRANZ, operário polaco.Franz tem uma bengala nas mãos. Os dois sorriem mas não há áudio, excetuando-se a voz off. Na mesma sala, Franz mostra uma bengala para Jonas, abre ela, aponta para o cano, para uma MOLA, Jonas pega a bengala, Franz pega ela de volta, atira numa tábua e aponta para o lugar.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: center;">
<span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">JONAS(V. OFF)</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">Muito depois eu vim a conhecer um operário polaco, muito hábil, mas já velho, que empreguei em minha casa.Era hábil, inteligente e cheio de idéias revolucionárias.Foi ele que me construiu uma espécie de espingarda com ar de comprimido, cujo tubo não excedia o diâmetro de um milímetro e o comprimento de um metro.Tinha o formato de uma bengala, uma bengala simples, que não chamava em nada a atenção.Vi que se lhe poderia pôr como projétil um pedaço de agulha das que se usam nas seringas de injeções hipodérmicas – dois centímetros apenas.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"> 19 – EXTERIOR - DIA</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">A voz off cobre a cena. JONAS observa um cavalo, atrelado à uma carroça, a poucos metros de distância.Quando o condutor desmonta e se afasta da carroça, Jonas acende um cigarro e atira com a bengala.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">JONAS(V.OFF)</span></div>
<div class="MsoBodyText2">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">Fui ao haras de um conhecido e postei-me ao lado de um cavalo que puxava uma carroça, parei naturalmente e, quando fingia acender um cigarro, calquei a mola e a agulha partiu, enterrando-se no animal, que fez enrugar o pêlo, como para espantar alguma mosca.Menos de dez minutos após o animal deixou-se cair.Aproximei-me então cuidadosamente e quando o vieram buscar ele já estava morto.Por quê?Ninguém sabia.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"> 20 – INTERIOR – APARTAMENTO DE JONAS - DIA</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">JONAS está sentado em frente a FRANZ, que também está sentado em uma cadeira.</span></div>
<div class="MsoBodyText2">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: center;">
<span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">JONAS(V. OFF)</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">Só então me abri com Franz e disse-lhe o que tinha a fazer.Ele se mudaria e eu lhe dei o necessário para alugar casa.Dei-lhe uma lista dos que deviam ser eliminados: nunca mais de um por dia.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">Franz se ajeita na cadeira. </span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">JONAS</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">O ministério da fazenda é o ministério mais poderoso. Convém começar por ele.Depois, eu farei, pelo mesmo processo, com que o presidente se bata pela minha candidatura para seu sucessor, e elimino, se for preciso, os meus competidores.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span lang="ES-TRAD" style="font-size: large;">Franz</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: center;">
<span lang="ES-TRAD" style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">Como atacá-los?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"> 21 – EXTERIOR – CENTRO DO RIO - DIA</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">Franz segue um congressista(Senador Eustorgio), que tem 2 seguranças às suas costas e a 2 metros de distância, com a bengala carregada na mão horizontalmente, apóia na mola, que ficava no meio e a agulha enterra-se nas costas da vítima.Franz se afasta para o lado contrário caminhando com a bengala sem que os seguranças o vejam e segue andando pela rua.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: center;">
<span lang="ES-TRAD" style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">FRANZ(V.OFF)</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">Eu matei ele sim mas foi com todo o respeito!</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"> 22 – INTERIOR – CASA DE JONAS – NOITE</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">A voz off cobre a cena em que JONAS E FRANZ se abraçam.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">JONAS (V.OFF)</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">Franz era inteligente. Compreendeu tudo muito bem. Porém, no dia da minha nomeação ele me apareceu, bêbado, e isso me deu a noção do perigo daquele cúmplice que podia comprometer-me.Vi que era preciso elimina-lo.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">JONAS</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">(entregando uma garrafa de vodka a Franz)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;"> Beba, Franz, hoje é dia de festa!Estamos comemorando o primeiro passo da revolução!</span></div>
<div class="MsoBodyText2">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">23 – EXTERIOR – APARTAMENTO DE JONAS - NOITE</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">No pequeno quintal de Jonas, Franz dorme numa poltrona. Jonas aplica-lhe uma agulhada. No sono, sentindo a picada, FRANZ leva a mão para coçar o ponto machucado.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"> 24 – INTERIOR – PALÁCIO DO CATETE – SALA DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA - NOITE</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">JONAS entrega papéis ao PRESIDENTE DA REPÚBLICA. O presidente da república lê, se mexe pra trás na cadeira e faz uma cara de horror.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">PRESIDENTE DA REPÚBLICA</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">(com a voz desanimada)</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">O que o sr. quiser... O que o sr. quiser...</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">O presidente da república assina os papéis.O presidente da república estende a mão para Jonas e se despede dele.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">JONAS sai da sala do presidente da república e anda pelos corredores do palácio do Catete.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">JONAS (V.OFF)</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">Eu via perfeitamente o que se passava no seu espírito. A medida lhe repugnava profundamente, mas ele tinha medo de negar a assinatura e tornar-se assim responsável por alguma nova morte.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"> 25 – EXTERIOR – RUA - DIA – ÁUDIO EM TODA A CENA: SOM DO ASSOBIO DE UMA VENTANIA</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">Num PLANO EM MOVIMENTO, nos dirigimos pela rua até PARARMOS em uma MANCHETE DE JORNAL com os dizeres:</span></div>
<div class="DefinitionTerm" style="layout-grid-mode: both;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">O FIM DE UM HOMEM DE BEM: PRESIDENTE MORRE DE ATAQUE CARDÍACO(ABAIXO A FOTO DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA SORRINDO)</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">VICE-PRESIDENTE ASSUME E PROMETE RENOVAR TODO O MINISTÉRIO(ABAIXO, A FOTO DO VICE-PRESIDENTE, DE GRAVATA)</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"> 26 – INTERIOR – APARTAMENTO DE JONAS – FINAL DA TARDE</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">Aparece um cartaz com uma foto do presidente da república colada numa porta. O cartaz é mostrado de cima pra baixo, isto é, vemos a foto, onde, em cima dela, no cartaz, está escrito: o nosso presidente. Embaixo, a inscrição em pincel atômico com os dizeres: o idiota do ano.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">JONAS</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"> Bom, pelo menos...</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"> JONAS pega um DARDO numa MESA ao seu lado, joga o dardo e acerta a foto com o rosto do presidente.</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">JONAS</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyTextIndent3" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">HÁ HÁ HÁ HÁ!HUM?!(SURPRESO)</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">POV(POINT OF VIEW, PONTO DE VISTA) DE JONAS</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">Na porta, a foto que agora está colada é a do próprio Jonas com os dizeres de o idiota do ano.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">VOLTA À CENA</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">JONAS(V. OFF)</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">(parado em pé, desanimado)</span></div>
<div class="MsoBodyText2">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">O que fazer?Recomeçar?Achar outro cúmplice?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 18pt;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">Jonas caminha até uma estante, abre uma gaveta, pega o FRASQUINHO DE VENENO, vai até o banheiro e entorna o conteúdo na privada.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText2" style="text-align: center;">
<span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">JONAS(V. OFF)</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"> Tive medo de mim mesmo.Acabo de entornar o frasco de veneno.A tentação podia voltar.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">Num PLANO EM MOVIMENTO, saímos do banheiro, caminhamos pelo corredor e vamos em direção à janela, vemos a paisagem da janela durante alguns segundos.Voltamos em PLANO EM MOVIMENTO e a luz da sala onde está a janela se apaga, ainda em PLANO EM MOVIMENTO A CÂMERA SEGUE, passa pelo corredor, a luz do corredor se apaga e seguimos até à cozinha onde vemos Jonas pegar um copo, abrir o filtro e tomar água do filtro. A luz da cozinha se apaga</span></div>
<h2>
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;"></span></h2>
<h2>
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">FADE OUT</span></h2>
<h1 style="text-align: center;">
<span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">FIM</span></h1>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<h4>
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><span style="font-family: "Times New Roman";"></span><span class="Apple-style-span">JUSTIFICATIVA</span></span></h4>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoBodyText">
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<ul>
<li><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">Baseado em um conto de Medeiros e Albuquerque, membro da Academia Brasileira de Letras no começo do século 20, autor cuja obra na qual baseou-se o roteiro se encontra em domínio público, QUE PAÍS É ESTE? é uma mistura de policial com ficção política. O resgate de um autor como Medeiros e Albuquerque (que não têm nenhum livro atualmente disponível nas livrarias em catálogo) é importante e mostra que a literatura nacional ainda tem muitas contribuições a fazer ao cinema brasileiro. Sua habilidade no manejo da história policial e, mais do que isso, na mistura habilidosa da história policial com a trama política faz do conto de Medeiros uma pérola esquecida. À volta de um governo ditatorial, disfarçado de democrático, se contrapõe a figura de Jonas, um comunista muito engenhoso que prepara um plano para tomar o poder. Num mundo em que as utopias comunistas perderam muito de sua força do passado, Jonas é um cavaleiro solitário em 2030, um homem que trabalha praticamente sozinho e não mede esforços para que seu plano dê certo. A crítica às práticas ditatoriais (mesmo em se tratando de um governo eleito) e ao alinhamento aos Estados Unidos acaba justificando a atitude de Jonas, que certamente não é irretocável do ponto de vista ético, aliás, prática política maquiavélica bem atual, isto é, “os fins justificam os meios”, mas há que se ressalvar no entanto, que essa idéia de Maquiavel era descritiva e não prescritiva e Jonas é um homem que acredita em um sonho e não vê outra alternativa senão usar toda a sua inteligência na armação de um plano para “destronar” o presidente. Acrescentei, na minha versão, um toque de ficção científica - a água que emburrece as pessoas. É um alerta, pois até que ponto não somos dominados pela manipulação das informações e por uma postura passiva e crédula forjadas pela ideologia dominante e, em verdade, capitalista?Até quando iremos agüentar a falta de </span><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;">um sistema de comunicação democrático e pluralista no Brasil?</span><span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;"> A destacar, também, o uso da expressão “com todo o respeito”, praticamente um mantra que mostra, por oposição, que o respeito está ausente das atitudes dos que dizem a expressão. O conto de Medeiros e Albuquerque pode ser encontrado na antologia “OS 100 MELHORES CONTOS DE CRIME E MISTÉRIO DA LITERATURA UNIVERSAL” (org. de Flávio Moreira da Costa, Ediouro).</span></li>
</ul>
</blockquote>
</div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;">Uma observação “pretensiosa” de Jorge Lobo: a adaptação de um texto literário para cinema tem que ser livre. A partir do momento em que o roteirista decide fazer uma adaptação para cinema a história passa a ser dele. As linguagens literária e cinematográfica, apesar de terem pontos em comum, são diferentes. Não devem existir preocupações como manter a atmosfera ou ser fiel ao texto literário adaptado. O roteirista tem que dar asas á sua imaginação e ponto final.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"><br />
</span></div>
<h4 style="text-align: left;">
<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: large;"> SINOPSE</span></h4>
<h4>
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large;"> N<br />
<span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;">o Brasil de 2030, Jonas, personagem principal, quer dar um golpe no governo brasileiro. Fortemente alinhado aos americanos e contaminando a água com substâncias que emburrecem as pessoas, fato conhecido por poucas pessoas, Jonas sendo um dos que sabem,</span><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;"> </span><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;">esse governo desagrada profundamente a Jonas. Comunista e insatisfeito, ele trama o golpe mandando para o presidente uma lista com vinte e cinco nomes para ele escolher um e nomeá-lo para o ministério da fazenda, caso contrário, mortes de pessoas ligadas ao presidente aconteceriam. Essa lista, propositalmente contém vinte e quatro nomes inaceitáveis e só um que não é: o próprio Jonas, que não é comunista declarado. A carta exige, também,</span><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;"> </span><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;">que ele dê ao ministro o máximo de autonomia, aprovando todos os seus atos, sem discutir. Quando a primeira morte anunciada acontece, o presidente multiplica os interrogatórios, visando interrogar, principalmente, os comunistas, mas não obtêm êxito, já que Jonas trabalha praticamente sozinho. Ele coloca, também, homens vigiando os nomes da lista mas Jonas não demonstra ser suspeito de nada. As mortes acontecem e o presidente, pressionado, acaba nomeando Jonas para o ministério.Como Jonas preparou seu plano?Ele conseguiu veneno de cobra com um caboclo, melhor dizendo, roubou o veneno,</span><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;"> </span><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;">e arranjou um cúmplice também comunista para matar suas vítimas de forma sorrateira, usando uma arma discreta: uma bengala que na verdade é uma arma que dispara uma agulha cheia de veneno de cobra. Quando esse cúmplice, devido à embriaguês, se revela uma ameaça aos planos dele, Jonas o elimina. Jonas propõe uma medida ousada ao presidente, que se sente obrigado a aceitar, temendo uma nova morte.Transtornado, porém, pela medida que acabava de aprovar, o presidente acaba morrendo de ataque cardíaco e frustrando os planos de Jonas, já que o vice-presidente assume e renova todos os ministérios. Sem ânimo para arranjar um novo cúmplice, Jonas acaba, devido a esse desânimo, achando melhor beber água do filtro para emburrecer.</span></span></h4>
<div>
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large; font-weight: normal;"><br />
</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large; font-weight: normal;">AGUARDO COMENTÁRIOS, SEJAM POSITIVOS OU NEGATIVOS.</span></div>
<div>
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large; font-weight: normal;"><br />
</span></div>
<div>
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large; font-weight: normal;">Att.</span></div>
<div>
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large; font-weight: normal;"><br />
</span></div>
<div>
<span class="Apple-style-span" style="font-size: large; font-weight: normal;">Jorge Lobo</span></div>
Jorge Lobohttp://www.blogger.com/profile/08854290252708162115noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3101835431565597778.post-362808500305404852011-06-01T14:56:00.000-07:002011-06-01T16:04:04.930-07:00OS LOBOS ESTÃO POR AÍ!!!<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgC6L6x51XMEPQYRL_aqo5hm6hz_7E3sfYWvVpUwNt_3TV7pqoGRQEEwu8nj6ir31gsqgkGXrZOkACfqsjvyOuAOTwTOvRu3u9RVvxvTJbEnh_tCNL6jDhEbjLw3O_GYA5y5iDemgakBr7k/s1600/fabricadetexto_img_2-3%255B1%255D.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgC6L6x51XMEPQYRL_aqo5hm6hz_7E3sfYWvVpUwNt_3TV7pqoGRQEEwu8nj6ir31gsqgkGXrZOkACfqsjvyOuAOTwTOvRu3u9RVvxvTJbEnh_tCNL6jDhEbjLw3O_GYA5y5iDemgakBr7k/s320/fabricadetexto_img_2-3%255B1%255D.jpg" t8="true" width="115" /></a></div><br />
<br />
RADIOHEAD - MÚSICA: "WOLT AT THE DOOR"; LOBÃO - "DA NATUREZA DOS LOBOS" + LOBÃO - AUTOBIOGRAFIA "CINQUENTA ANOS A MIL" (VALE A PENA LER); DIO - DISCO: "LOCK UP THE WOLVES"; GRUPO DE ROCK LOS LOBOS (LEMBRAM DO FILME E DA MÚSICA "LA BAMBA"?); CANTOR PETER WOLF; DARRYL WAY`S WOLF PROG ROCK - MÚSICA: "WOLF"; VILLA-LOBOS; DADO VILLA-LOBOS - GUITARRISTA DO LEGIÃO URBANA E PARENTE DISTANTE DO MAIS ACLAMADO COMPOSITOR E MAESTRO BRASILEIRO; LEGIÃO URBANA - MÚSICA: "EU ERA UM LOBISOMEM JUVENIL"; EDU LOBO (DISPENSA APRESENTAÇÕES, APESAR DE SER UM COMPOSITOR SUBESTIMADO POR ALGUNS); LOBO (CANTOR ESTADUNIDENSE QUE FEZ MUITO SUCESSO NOS ANOS 70); STEPPENWOLF (PRIMEIROS MÚSICOS A GANHAREM A ALCUNHA DE "HEAVY METAL"); HEART - MÚSICA: "THE WOLF"; EELS - MÚSICA: "LONE WOLF" + EELS - DISCO "HOMBRE LOBO"; WERWOLF - GRUPO DE PROG ROCK ALEMÃO; AMON DUUL 2 - GRUPO DE PROG ROCK ALEMÃO - DISCO: "WOLF CITY"; EDSON LOBÃO - POLÍTICO BRASILEIRO, EX ARENA (PARTIDO DA DITADURA MILITAR), ENTRE OUTRAS ATIVIDADES, MINISTRO DA ERA PT, POR EXEMPLO; HERMANN HESSE - LIVRO "O LOBO DA ESTEPE"; FILME "O LOBO DA ESTEPE", BASEADO NO LIVRO DE HERMANN HESSE, COM DIREÇÃO DE FRED HAINES; EXPRESSÃO "A IDADE DO LOBO" - QUANDO O HOMEM CHEGA AOS 40 ANOS - TELENOVELA DERIVADA DESSA EXPRESSÃO : "A IDADE DA LOBA", COM BETTY FARIA, QUE, COVENHAMOS, TEM CARA DE LOBA MESMO; FILME "ANA E OS LOBOS", DE CARLOS SAURA; FILME "UM LOBISOMEM AMERICANO EM LONDRES", DE JOHN LANDIS; FILME "DANÇA COM LOBOS", DE E COM KEVIN COSTNER; FILME "A HORA DO LOBISOMEM", COM O ATOR COREY HAIM ADOLESCENTE (AS GAROTAS SUSPIRAVAM POR ELE!); AMILCAR LOBO, ÚNICO PSIQUIATRA QUE TEVE A CORAGEM DE ASSUMIR QUE TEVE A "CORAGEM" DE PARTICIPAR DE SESSÕES DE TORTURA NA ÉPOCA DA DITADURA MILITAR NO BRASIL - <a href="http://martha-caentrenos.blogspot.com/2009/01/meu-encontro-com-amilcar-lobo.html">LINK INTERESSANTE SOBRE AMILCAR LOBO</a> <a href="http://veja.abril.com.br/arquivo_veja/capa_18111992.shtml">ESTE LINK TAMBÉM É INTERESSANTE</a> <a href="http://epoca.globo.com/edic/20000814/minhavez.htm">TEM ESTE OUTRO TAMBÉM</a> ; MÁRIO JORGE LOBO ZAGALLO, O "VELHO LOBO", EX TÉCNICO, EX AUXILIAR TÉCNICO E EX JOGADOR DE FUTEBOL, NESSAS 3 FUNÇÕES, ACUMULOU 4 TÍTULOS EM COPAS DO MUNDO, O ÚNICO SER VIVO QUE JÁ CONSEGUIU ISSO ATÉ A DATA EM QUE PUBLICO ESTA POSTAGEM (2011), ESTOU APENAS DESCREVENDO SEUS FEITOS E NÃO FAZENDO UM JULGAMENTO SOBRE A SUA PERSONALIDADE; FILME FRANCÊS "O PACTO DOS LOBOS", DE CHRISTOPHE GANZ; FILME ESPANHOL "O LOBO", DE MIGUEL COURTOIS; FILME "A COMPANHIA DOS LOBOS", DE NEIL JORDAN (SENSACIONAL!); FILME "OS LOBOS NUNCA CHORAM", DE CARROLL BALLARD (JÁ CLASSICO, APESAR DE SER DE 1983); "LOBO SOLITÁRIO", CLÁSSICO DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS JAPONESAS (MANGÁ), QUE TEVE VÁRIAS ADAPTAÇÕES PARA O CINEMA - CITO "O LOBO SOLITÁRIO - O SAMURAI ASSASSINO" COMO A PRIMEIRA DELAS... <br />
<br />
E A LISTA SEGUE PELA INFINITA HIGHWAY... ACEITO ACRÉSCIMOS!<br />
<br />
POR QUE SERÁ QUE OS LOBOS SÃO TÃO PRESENTES NA NOSSA CULTURA, NO NOSSO IMAGINÁRIO?<br />
<br />
UM ABRAÇO,<br />
<br />
JORGE LOBOJorge Lobohttp://www.blogger.com/profile/08854290252708162115noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3101835431565597778.post-20844448890176375912010-12-11T18:48:00.000-08:002011-06-01T16:34:27.034-07:00UM PARALELO ENTRE A TRAJETÓRIA DE GERALDO VANDRÉ E A DA PERSONAGEM DE WINSTON SMITH, DE “1984”, LIVRO DE GEORGE ORWELL – PARTE I<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;"><b><span style="font-family: inherit;">"Ele foi um rei, e brincou com a sorte</span></b><b><span style="font-family: inherit; font-size: 10.5pt;"></span></b></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;"><b><span style="font-family: inherit;">Hoje ele é nada, e retrata a morte</span></b><b><span style="font-family: inherit; font-size: 10.5pt;"></span></b></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;"><b><span style="font-family: inherit;">Ele foi um rei, e brincou com a sorte</span></b><b><span style="font-family: inherit; font-size: 10.5pt;"></span></b></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;"><b><span style="font-family: inherit;">Hoje ele é nada, e retrata a morte</span></b><b><span style="font-family: inherit; font-size: 10.5pt;"></span></b></div><div align="right" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: right;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;"><b><span style="font-family: inherit;">Ele passou por mim, mudo e entristecido</span></b><b><span style="font-family: inherit; font-size: 10.5pt;"></span></b></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;"><b><span style="font-family: inherit;">Eu quis gritar seu nome, não pude</span></b><b><span style="font-family: inherit; font-size: 10.5pt;"></span></b></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;"><b><span style="font-family: inherit;">Ele olhou pra parede, disse coisas lindas</span></b><b><span style="font-family: inherit; font-size: 10.5pt;"></span></b></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;"><b><span style="font-family: inherit;">Disse um poema pra um poste, me veio lágrimas</span></b><b><span style="font-family: inherit; font-size: 10.5pt;"></span></b></div><div align="right" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: right;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;"><b><span style="font-family: inherit;">O que foi que fizeram com ele? Não sei</span></b><b><span style="font-family: inherit; font-size: 10.5pt;"></span></b></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;"><b><span style="font-family: inherit;">Só sei que esse trapo, esse homem foi um rei</span></b><b><span style="font-family: inherit; font-size: 10.5pt;"></span></b></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;"><b><span style="font-family: inherit;">O que foi que fizeram com ele? Não sei</span></b><b><span style="font-family: inherit; font-size: 10.5pt;"></span></b></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;"><b><span style="font-family: inherit;">Só sei que esse trapo, esse homem foi um rei"</span></b><b><span style="font-family: inherit; font-size: 10.5pt;"></span></b></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;"><b><span style="font-family: inherit;">("Tributo A Um Rei Esquecido", Benito Di Paula) </span></b> <a href="http://youtu.be/PI36-TjBkoY">OUÇA A MÚSICA</a><br />
<br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">“Duas lágrimas cheirando a gim escorreram de cada lado do nariz. Mas agora estava tudo em paz, tudo ótimo, acabada a luta. Finalmente lograra a vitória sobre si mesmo. Amava o Grande Irmão.” – “1984” – George Orwell</b></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">Geraldo Vandré e Winston Smith têm muito em comum. Ambos foram quebrados pela ditadura. Ambos acabaram tendo suas mentes transtornadas, a ponto de Winston Smith chegar a amar o Grande Irmão (símbolo do Estado totalitário de 1984) e Geraldo Vandré a adotar a FAB (símbolo do militarismo brasileiro) como sua protetora, a ponto de compor uma música chamada ”Fabiana”, em homenagem à Força Aérea Brasileira. Winston Smith foi barbaramente torturado pelo regime <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>de “1984”, livro de George Orwell escrito em 1948 (1948 x 1984, entenderam?) , Geraldo Vandré não admite ter sido torturado, mas suas declarações fazem supor que sim, seja ela tortura física ou psicológica. No “GLOBO NEWS DOSSIÊ” (2010) , entrevistado por Geneton Moraes Netto, Vandré deixou escapar que “guerra é guerra”, “eu não perdi! (risos) ”. Foi um riso envergonhado, sem dúvida, pois ele sabe que perdeu. Além disso, Vandré diz: “tive que passar por um processo de adaptação ao voltar”. Esse processo de “adaptação” foi, na verdade, controlado pelos militares com “tratamento” em clínicas psiquiátricas. Celso Lungaretti em seu blog “Náufrago da Utopia” sustenta a tese de lavagem cerebral. Existem depoimentos de pessoas que viram Vandré em clínicas de Botafogo, bairro do Rio de Janeiro. Geraldo diz que”chegou meio perdido e doente em seu próprio país”, quando foi “acolhido pelos militares, alojado” e que deram a ele tratamento médico. Alguns chegaram a dizer que ele teria teria sido castrado. Existem precedentes: Manoel (não citarei o sobrenome) , militante de esquerda, foi castrado, mas sobreviveu e nem por isso passou para o outro lado, como parece ter sido o caso de Vandré. Digo parece, porque a hipótese de lavagem cerebral é crível, mas minha opinião pessoal é de que ele foi tão maltratado, enlouquecido, pagando por seus “pecados” por ter composto “Caminhando”, a marselhesa brasileira, que ele não teve condições psicológicas de voltar com suas atividades musicais coerentemente, pois não dá para dizer, de forma alguma, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>que “Fabiana” é coerente com seu passado, por outro lado, ele se mostra aparentemente lúcido na entrevista e mede nitidamente as palavras. Mas por que Caetano Veloso e Gilberto Gil, que também voltaram do exílio, continuaram produzindo e fazendo sucesso e Vandré paralisou suas atividades?Vandré, em um depoimento, pouco depois de ter chegado ao Brasil, declarou que “a partir de agora, só faria canções de amor e de paz”, Gil declarou: “não tenho mais compromissos com a história”. A minha opinião é de que a ditadura brasileira considerava Vandré mais perigoso que Caetano e Gil. Geraldo admite que sua chegada ao Brasil se deu, na verdade, 58 dias antes de sua entrevista ao “Jornal Nacional” (telejornal da Globo que, à época, apoiava a ditadura militar), em que aparecia como se estivesse acabando de chegar ao Brasil, “tudo muito manipulado”, declarou ele mesmo. Seja como for, parece que o efeito do “tratamento” se metamorfoseou num acordo em que Vandré se comprometeu a nunca dizer a verdade, pois sofreria represálias se contasse a verdade. Winston Smith também foi “acolhido” pela ditadura de “1984”. Virou um pária, assim como Vandré, envergonhado de si mesmo e impotente para lutar. O primeiro nome da personagem do livro foi uma referência à Winston Churchill, homem importantíssimo na Inglaterra. Já Smith, é o sobrenome mais popular da Inglaterra. Geraldo é um nome super comum no Brasil. Já Vandré, vem de uma abreviação do sobrenome do pai de Vandré( Vandrelísio ). Mas aí residem uma diferença e uma semelhança importantes: Vandré virou um nome mítico por causa do próprio Vandré, que compôs o hino de uma geração que lutou contra a ditadura militar, Churchill era um mito pré-existente, mas igualmente um mito. Seja fruto da cultura massificada, que Geraldo criticou na entrevista ao “Dossiê Globo News” ou não, o fato é que Vandré é, ou era, um mito.</div><br />
<a href="http://naufrago-da-utopia.blogspot.com/2010/09/eliana-tanese-nogueira-uma-analise-de.html">LEIA MAIS SOBRE VANDRÉ</a><br />
<br />
<a href="http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM1344733-7823-GERALDO+VANDRE+QUEBRA+O+SILENCIO+EM+ENTREVISTA+EXCLUSIVA,00.html">Veja a entrevista que Geraldo Vandré concedeu ao Dossiê Globo News</a>Jorge Lobohttp://www.blogger.com/profile/08854290252708162115noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3101835431565597778.post-39207136794755491942010-10-27T20:19:00.000-07:002010-10-27T20:24:15.840-07:00O POLICIAL NA LITERATURA - PARTE 3<div class="body" style="margin: auto 0cm;"><br />
</div><div class="body" style="margin: auto 0cm;"><strong><u><span style="font-family: Verdana; font-size: 9pt;">A estratégia do crime</span></u></strong><u><span style="font-family: Verdana; font-size: 9pt;"></span></u></div><div class="body" style="margin: auto 0cm;"><br />
<strong><span style="font-family: Verdana; font-size: 9pt;">De seu início, com Poe, no século 19, até a atualidade, com autores como os argentinos Ricardo Piglia e Juan José Saer, a literatura policial se torna cada vez mais dominante</span></strong><span style="font-family: Verdana; font-size: 9pt;"></span></div><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 9pt;">Adriano Schwartz <br />
Editor do Mais!</span></b><br />
<div class="body2" style="margin: auto 0cm;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 9pt;"><br />
O escritor Ricardo Piglia já disse mais de uma vez que não há nada além de livros de viagens ou histórias policiais. "Narra-se uma viagem ou um crime. Que outra coisa se pode narrar?". A afirmação é intensificada em "Formas Breves", há pouco lançado no Brasil, no qual ele diz que "o gênero policial é o grande gênero moderno [...], inunda o mundo contemporâneo". </span></div><div class="body2" style="margin: auto 0cm;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 9pt;">Ao contrário do que normalmente se pensa, então, os herdeiros de investigação de Dupin, Sherlock Holmes, padre Brown, Maigret, Poirot, Marlowe, Spade ocupariam um lugar nobre numa potencial e sempre controversa hierarquia do valor literário. </span></div><div class="body2" style="margin: auto 0cm;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 9pt;">A própria produção do autor argentino – textos como "Respiração Artificial" ou "Nome Falso" – confirma que a hipótese pode ser correta. Os inúmeros títulos policiais de qualidade bastante questionável publicados mensalmente, infestados de convenções e temas estereotipados, parece desmenti-la. </span></div><div class="body2" style="margin: auto 0cm;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 9pt;">Como a intenção aqui não é criar um enigma insolúvel à espera de mais um improvável detetive, e sim tentar entender um pouco melhor o papel que esse tipo de narrativa exerce atualmente – e por que ele, ao mesmo tempo, consegue ser atacado e defendido de modos tão peremptórios –, vale a pena retomar brevemente a sua origem e lembrar algumas das modificações pelas quais passou, com uma pequena incursão pelas recentes publicações de dois autores brasileiros, Joaquim Nogueira e Luiz Alfredo Garcia-Roza. </span></div><div class="body2" style="margin: auto 0cm;"><b><span style="font-family: Verdana; font-size: 9pt;"><br />
</span></b><strong><span style="font-family: Verdana; font-size: 9pt;">Detetive-padrão</span></strong></div><div class="body2" style="margin: auto 0cm;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 9pt;">O norte-americano Edgar Allan Poe, com Auguste Dupin, personagem de três de seus contos, cria na primeira metade do século 19 (em 1841, com "Os Crimes da Rua Morgue") o primeiro detetive de fato da literatura policial e estabelece alguns padrões que foram seguidos por vários autores: o narrador é um amigo/discípulo do investigador; a reflexão predomina sobre a ação; o final precisa surpreender o leitor. </span></div><div class="body2" style="margin: auto 0cm;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 9pt;">Inventado pelo inglês Conan Doyle, Sherlock Holmes, o mais famoso dos detetives, segue a fórmula. Suas histórias são contadas por um médico e admirador, o dr. Watson, e ele se vale de sua mente poderosa e de uma minuciosa busca de indícios e pistas que a outros haviam passado despercebidos para solucionar os mais difíceis crimes, sempre de modo inesperado. E também, para muitos, de modo irritante, uma vez que muitas das conclusões de Holmes são extraídas esotericamente, sem que o texto tivesse possibilitado ao leitor chegar à mesma solução por sua conta: é como se a narrativa fosse "desonesta". </span></div><div class="body2" style="margin: auto 0cm;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 9pt;">Segundo Jorge Luis Borges, grande admirador, crítico e autor do gênero policial, essa é uma falha inaceitável. "Declaração de todos os termos do problema: se a memória não me engana (ou sua falta), a variada infração dessa lei é o defeito preferido de Conan Doyle", afirma o autor em um de seus "mandamentos da narração policial". Raymond Chandler reafirmaria o argumento, em suas "regras para histórias de mistério": "Elas precisam ser honestas com o leitor. Isso é sempre dito, mas o que a frase implica freqüentemente não é levado em conta". </span></div><div class="body2" style="margin: auto 0cm;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 9pt;">De falha desse tipo sofrem muitos dos desfechos dos casos do padre Brown, de Chesterton, apesar de este ser sempre muito elogiado por Borges. Para ele, o inglês dominava a técnica de transmitir a impressão de que havia algo de irreal por trás do acontecimento criminoso, para logo apresentar uma solução totalmente racional. O método de Brown? Colocar-se no lugar do adversário, transformar-se no adversário. Ainda assim, é muito difícil assimilar sem uma ponta de incredulidade a resolução de "O Homem Invisível", para citar um dos contos mais famosos do autor. O mesmo ocorre com as histórias de dois dos mais prolíficos autores policiais, George Simenon e Agatha Christie. </span></div><div class="body2" style="margin: auto 0cm;"><br />
<strong><span style="font-family: Verdana; font-size: 9pt;">Sujeira</span></strong><br />
</div><div class="body2" style="margin: auto 0cm;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 9pt;">No final dos anos 20, nos EUA, acontece uma guinada no perfil da ficção policial. Dashiell Hammett cria a figura do detetive durão, mulherengo, de humor corrosivo e moral menos rígida, em textos escritos de modo seco e ambientados muitas vezes nos recantos mais pobres e violentos da cidade. Os contos e cinco romances – principalmente "O Falcão Maltês" e Sam Spade, seu protagonista – mostram que o universo do crime pode ser sujo.</span></div><div class="body2" style="margin: auto 0cm;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 9pt;">Muitos críticos acreditam que, em decorrência das diferenças entre essa tradição "dura" e a anterior, elas não devam ser misturadas. O fato é que Raymond Chandler, talvez o principal autor dessa segunda linhagem, ataca com insistência predecessores e contemporâneos – Agatha Christie, com especial prazer ("você não engana o leitor escondendo pistas ou tornando falso um personagem, como Christie...") – em seus ensaios.</span></div><div class="body2" style="margin: auto 0cm;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 9pt;">É com esses escritores que o criador de Philip Marlowe duela: o atrito não significa, portanto, ruptura, e sim modificação. Trata-se ainda de crime, investigação e solução. Só que agora com dúvidas, sexo, dinheiro, fracasso, sangue, morte. Com variações maiores ou menores, é o tipo de narrativa desenvolvida por Hammett e Chandler que predomina na maior parte dos romances policiais "criminosos" que vendem milhares de exemplares anualmente ao redor do planeta. </span></div><div class="body2" style="margin: auto 0cm;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 9pt;">Do ponto de vista da técnica, a solução apresentada por Poe é das mais seguras. Ao centrar o foco narrativo em um personagem secundário, que acompanha a seqüência de eventos e reflexões do detetive, ele simula a colocação de uma câmera que acompanha por trás os passos do detetive e registra os acontecimentos e discussões, dando ao leitor a sensação de que está "jogando limpo" e de que a resolução do problema estaria também ao alcance dele. </span></div><div class="body2" style="margin: auto 0cm;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 9pt;">Outra via possível, a de Chandler por exemplo, é deixar o investigador contar a própria história. O leitor vê o que ele vê: acrescenta-se aí a uma percepção semelhante de "honestidade" o conhecimento da subjetividade do personagem, de suas impressões, temores, riscos. </span></div><div class="body2" style="margin: auto 0cm;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 9pt;">"Vida Pregressa", segundo romance de Joaquim Nogueira, lançado há pouco, utiliza esse padrão. O mérito do autor é torná-lo atrativo pelo uso de um procedimento de reiteração aparentemente banal. O detetive Venício resolve investigar a morte de um homem. Cada pista que ele descobre o leva a uma nova pessoa. Para cada "elemento" interrogado, o personagem explica como chegou até ele, repetindo os passos prévios de sua busca. A narrativa cria assim um efeito de eco distorcido, que vai se amplificando de modo a acompanhar a progressiva complexificação da intriga, ao mesmo tempo em que o espaço geográfico da trama, a cidade de São Paulo, também vai se tornando mais abrangente. </span></div><div class="body2" style="margin: auto 0cm;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 9pt;">A opção mais comum, mais fácil e mais problemática, no entanto, é a do narrador onisciente. Como apresentar no início da história os pensamentos do personagem que, se saberá ao final, era o misterioso culpado? Talvez a saída mais eficaz para esse dilema seja a de Hammett em "O Falcão Maltês". Apesar de o livro ser narrado em terceira pessoa, o protagonista Sam Spade está sempre em primeiro plano – não há nenhuma cena do romance em que ele não apareça – e, além disso, em momento nenhum penetra-se no "interior" de qualquer personagem: o leitor, assim, toma conhecimento apenas do que o detetive vê ou ouve. Com isso, o autor inclusive aumenta o suspense, já que nunca se sabe como Spade reagirá aos eventos. </span></div><div class="body2" style="margin: auto 0cm;"><br />
<strong><span style="font-family: Verdana; font-size: 9pt;">Admiração e incômodo</span></strong><span style="font-family: Verdana; font-size: 9pt;"> </span></div><div class="body2" style="margin: auto 0cm;"><br />
<span style="font-family: Verdana; font-size: 9pt;">Ainda onisciente, mas em muitos trechos de maneira seletiva, alternando personagens, é o narrador de "O Caso dos Dez Negrinhos", o romance mais conhecido de Agatha Christie. O livro provoca admiração pela engenhosidade da autora, em uma primeira leitura, e incômodo na releitura. Nela, ficam evidentes pensamentos do "vilão" claramente incompatíveis com a premissa básica de que, desde o começo, ele já era o responsável por tudo o que ocorreria. </span></div><div class="body2" style="margin: auto 0cm;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 9pt;">É essa também a técnica de Luiz Alfredo Garcia-Roza em "Perseguido", a mais recente aventura do delegado Espinosa. O investigador divide a cena com a família do psiquiatra Arthur Nesse – mulher e duas filhas- e com o seu paciente, borgianamente denominado Isidoro Cruz, apesar de ele só aceitar ser chamado de Jonas. Calculada ou não – e esse é um dos fulcros do enredo-, a "imposição" desse segundo nome pelo jovem já indica que, nesta obra, tudo será mais complicado. </span></div><div class="body2" style="margin: auto 0cm;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 9pt;">Para não estragar o prazer dos muitos leitores que o livro ainda terá, não cabe aqui discutir detalhes do enredo e da labiríntica tematização da paranóia que ele propõe. É necessário dizer, no entanto, que, muito por conta da alternância do foco narrativo, se as "conclusões" de Espinosa no desfecho do texto estivessem corretas, o romance – pelo menos em seu aspecto "policial"- não se sustentaria. O "erro" do detetive, contudo, faz parte do jogo, engrandece-o. Uma das mais impressionantes características de um texto literário é que apenas ele, em sua totalidade, pode desmentir um personagem, um narrador e até mesmo um autor (bem como, aliás, ele pode posteriormente desmentir o desmentido...). Em "Perseguido", Garcia-Roza parece estar brincando com a lembrança que um memorialista em um conto de Borges tem de um dos projetos de um peculiar escritor, Herbert Quain: "... o leitor, inquieto, procura nos capítulos pertinentes e descobre outra solução, que é a verdadeira. O leitor deste livro singular é mais perspicaz que o detetive". </span></div><div class="body2" style="margin: auto 0cm;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 9pt;">Percebe-se que a suposta contradição entre "convenção" e "grandeza" apontada no início deste texto, a partir do comentário de Piglia, não é irremediável. Na verdade, ela vem sendo contornada há bastante tempo. </span></div><div class="body2" style="margin: auto 0cm;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 9pt;">Em 1955, a norte-americana Patricia Highsmith publica a primeira história da série "Ripley": "O Talentoso Ripley". Qualquer romance policial se equilibra sobre um fato mínimo – o crime- e três decorrências lógicas – o investigador, o criminoso e a vítima. Uma das estratégias da autora para manipular a convenção é girar o triângulo e centrar a narrativa na segunda delas, em vez de na primeira. Com isso, ela minimiza o suspense e destaca as "motivações" de seu anti-herói e as "conseqüências" de seus atos. </span></div><div class="body2" style="margin: auto 0cm;"><br />
<strong><span style="font-family: Verdana; font-size: 9pt;">Homenagem</span></strong></div><div class="body2" style="margin: auto 0cm;"><br />
<span style="font-family: Verdana; font-size: 9pt;">Ainda mais cedo, em 1941, Borges concebe o primeiro de seus três contos policiais que remetem genialmente aos três contos de Poe. Exatos cem anos após o início da publicação de "Os Crimes da Rua Morgue", "O Mistério de Marie Roget" e "A Carta Roubada", o autor argentino começa sua "homenagem" com "Os Jardins dos Caminhos Que Se Bifurcam". Os outros dois contos, escritos nos anos seguintes, são "A Morte e a Bússola" e "Abenjacan, o Bokari, Morto em Seu Labirinto". O último não é tão excepcional quanto os predecessores, mas é nele que se lê que "a solução do mistério é sempre inferior ao mistério".</span></div><div class="body2" style="margin: auto 0cm;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 9pt;">"Os Jardins..." e "A Morte e a Bússola" mostram que a frase nem sempre é verdadeira, uma vez que Borges dinamita ainda mais as convenções do gênero e faz com que o leitor ora pense estar lendo uma trama centrada na figura do investigador, ora na do criminoso, para, ao final, descobrir que de fato estivera acompanhando, desde o início, as vítimas. O desfecho surpreendente – outro dos "mandamentos" do autor – acontece e é duplicado. Não é à toa que Piglia considera o segundo texto o "Ulisses do conto policial". Aquele outro "mandamento" borgiano, o da "declaração de todos os termos do problema", por exemplo, é cumprido de modo quase maníaco: absolutamente tudo o que é dito na narrativa exerce um papel preciso e fundamental, e não há nenhum evento ou dedução que não tenha uma justificativa previamente introduzida.</span></div><div class="body2" style="margin: auto 0cm;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 9pt;">Para terminar, deve-se notar que, na literatura atual, a contradição mencionada acima é muitas vezes resolvida com o ocultamento dos termos que geram a "convenção". Assim, em vez de alternar o ângulo de abordagem daquele triângulo – investigador, criminoso e vítima-, o autor esconde ou mascara o próprio fato causador, o crime, que se torna não mais um componente do enredo, e sim um elemento constitutivo da forma narrativa. É o que ocorre nos já citados textos de Piglia ou, para lembrar de outro argentino, nos romances de Juan José Saer. Talvez seja por isso que, para lidar com esse gênero que "inunda o mundo contemporâneo", o autor de "Nome Falso" já tenha afirmado que, "em mais de um sentido, o crítico é o investigador, e o escritor é o criminoso", ou, de outro modo, discutido "a representação paranóica do escritor que apaga suas pegadas e cifra seus crimes, perseguido pelo crítico, decifrador de enigmas".</span></div><i><span style="font-family: Verdana; font-size: 7.5pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><br />
<strong>Folha de São Paulo</strong></span></i><strong><span style="font-family: Verdana; font-size: 7.5pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">, 8 fev. 2004, Mais! </span></strong><span style="font-family: Verdana; font-size: 9pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><br style="mso-special-character: line-break;" /></span>Jorge Lobohttp://www.blogger.com/profile/08854290252708162115noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3101835431565597778.post-20812787644474679142010-10-23T17:04:00.000-07:002010-11-07T04:31:12.080-08:00INSTANTES<span style="font-family: Arial; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">INSTANTES<br />
[o poema que não é de Jorge Luis Borges, durante muito tempo foi atribuído a ele]: <br />
<br />
Se eu pudesse novamente viver a minha vida, <br />
na próxima trataria de cometer mais erros. <br />
Não tentaria ser tão perfeito, <br />
relaxaria mais, seria mais tolo do que tenho sido. <br />
Na verdade, bem poucas coisas levaria a sério. <br />
Seria menos higiênico. Correria mais riscos, <br />
viajaria mais, contemplaria mais entardeceres, <br />
subiria mais montanhas, nadaria mais rios. <br />
Iria a mais lugares onde nunca fui, <br />
tomaria mais sorvetes e menos lentilha, <br />
teria mais problemas reais e menos problemas imaginários. <br />
Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata <br />
e profundamente cada minuto de sua vida; <br />
claro que tive momentos de alegria. <br />
Mas se eu pudesse voltar a viver trataria somente <br />
de ter bons momentos. <br />
Porque se não sabem, disso é feita a vida, só de momentos; <br />
não percam o agora. <br />
Eu era um daqueles que nunca ia <br />
a parte alguma sem um termômetro, <br />
uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um pára-quedas e, <br />
se voltasse a viver, viajaria mais leve. <br />
Se eu pudesse voltar a viver, <br />
começaria a andar descalço no começo da primavera <br />
e continuaria assim até o fim do outono. <br />
Daria mais voltas na minha rua, <br />
contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças, <br />
se tivesse outra vez uma vida pela frente. <br />
Mas, já viram, tenho 85 anos e estou morrendo" <br />
[quem é o autor?] A autora do poema é a estadunidense Nadine Stair. </span>Jorge Lobohttp://www.blogger.com/profile/08854290252708162115noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3101835431565597778.post-15233231642244625602010-10-23T11:29:00.000-07:002010-10-23T12:37:56.170-07:00A SOCIEDADE CINDIDA<div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><b><span style="color: black; font-family: Verdana; mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="font-family: inherit;">Por Jacob Gorender*</span></span></b><i><span style="color: black; font-family: Verdana; font-size: 6pt;"><br style="mso-special-character: line-break;" /></span></i></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><br />
<span style="color: black; font-family: Verdana;">Texto publicado na Revista Teoria e Debate no.57(março/abril de 2004)</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><i><span style="color: black; font-family: Verdana; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Transcorre, neste ano, o quadragésimo aniversário do golpe militar de 1º de abril de 1964. Uma data que não é para celebrar, tampouco para esquecer. Sobretudo, com a distância do tempo, convém explorar seu significado histórico e avaliar suas seqüelas. Em primeiro lugar, o generalizado emprego da classificação do evento como golpe militar. Emprego no qual eu mesmo tenho incidido. Faz-se necessário frisar que não se tratou de mera manobra de cúpula, na qual apenas se teriam envolvido círculos políticos e militares dirigentes, resultando na mera substituição de uma camarilha por outra.</span></i><span style="color: black; font-family: Verdana;"></span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">A campanha pela deposição do presidente da República suscitou um grande movimento de massas e foi, decisivamente, o resultado desse movimento. Conforme veremos adiante, a participação maciça da classe média teve um papel de grande peso. Podemos continuar a empregar a classificação de golpe militar, levando em consideração tais ressalvas.</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><b><span style="color: black; font-family: Verdana; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Circunstâncias da chegada ao poder</span></b><span style="color: black; font-family: Verdana;"></span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">João Goulart (ou Jango, como será doravante chamado) chegou à Presidência da República com a renúncia de Jânio Quadros, em agosto de 1961, uma vez que era o vice-presidente, como já o fora de Juscelino Kubitschek.</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">Jânio pretendeu conseguir do Congresso poderes excepcionais. Uma vez que não lhe foram concedidos, acreditou que a renúncia suscitaria pressão popular suficientemente forte para dobrar o Congresso. Errou no cálculo. Diante da ausência da esperada pressão popular, ao invés de regressar a Brasília, tomou o navio em Santos para um passeio na Europa.</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">Conterrâneo e discípulo de Getúlio Vargas, Jango não poderia deixar de ser identificado como seu continuador. Ao ser eleito em 1950, retornando ao Catete após a deposição em 1945, Getúlio veio com o propósito de aplicar um programa nacionalista, criando, entre outras medidas, empresas estatais de importância estratégica para o desenvolvimento econômico do país. Contava com a ajuda dos Estados Unidos, de cujo governo obtivera créditos e colaboração técnica em 1943 para erguer a usina siderúrgica de Volta Redonda, em troca da permissão de instalação de bases militares norte-americanas no Nordeste. Mas, em seu segundo mandato governamental, perdeu a confiança dos Estados Unidos, que retiraram seus representantes da comissão conjunta com o Brasil para financiamento de empreendimentos de desenvolvimento econômico. Getúlio, não obstante, prosseguiu na execução do programa previsto, contando apenas com recursos internos. Desta iniciativa surgiram a Petrobras e a Eletrobrás.</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">O presidente Vargas viu-se acossado por uma campanha na mídia e no Parlamento, capitaneada por Carlos Lacerda, governador do estado da Guanabara (então, abrangente somente da cidade do Rio de Janeiro).</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">Nos princípios de agosto de 1954, pistoleiros da guarda presidencial tomaram a iniciativa (ao que tudo indica, por conta própria), de eliminar Lacerda. Quando este regressava a sua residência na Rua Tonelero, na Zona Sul do Rio de Janeiro, alvejaram-no, porém só conseguiram feri-lo numa perna. Mas o guarda-costas de Lacerda, o major Vaz, oficial da Aeronáutica, tombou morto no atentado. O episódio desencadeou gravíssima crise política, que envolveu as Forças Armadas. Getúlio havia declarado, em discurso na campanha eleitoral, que não renunciaria uma segunda vez. A 24 de agosto suicidou-se com um tiro no coração, </span><personname productid="em pleno Pal£cio"><span style="color: black; font-family: Verdana;">em pleno Palácio</span></personname><span style="color: black; font-family: Verdana;"> do Catete.</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">Diante de tais precedentes, a posse de Jango, apesar de legal e legítima, não poderia ser tranqüila. No momento da renúncia de Jânio, o vice-presidente encontrava-se em visita à China. Os adversários – que reuniam os representantes das forças mais reacionárias e pró-imperialistas – pretenderam impedir que regressasse ao Brasil. Jango conseguiu retornar, em meio ao clamor crescente contra sua posse no Palácio do Planalto. Uma vez mais, vinha à frente das propostas anticonstitucionais Carlos Lacerda, utilizando um virulento arsenal de insultos e calúnias.</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">Enquanto em Brasília a posse de Jango era contestada, Leonel Brizola, então governador do Rio Grande do Sul, unia a população do estado e obtinha o apoio do III Exército, ali sediado e comandado pelo general Jair Dantas Ribeiro, para a luta em favor da posse. O recrudescimento da oposição entre Brasília e Porto Alegre ameaçava jogar o país na guerra civil.</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">A fim de evitá-la, optou-se pela solução conciliatória do parlamentarismo, por meio de emenda constitucional. Jango governaria com um primeiro-ministro, submetido ao voto de confiança do Congresso. Estaria sob controle suficiente – julgavam os adversários – para impedir iniciativas nacionalistas e, sobretudo, obstar sua intenção, mais ou menos evidente, de conseguir um segundo mandato presidencial.</span></div><b><span style="color: black; font-family: Verdana;"></span></b><b><span style="color: black; font-family: Verdana; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">A experiência parlamentarista</span></b> <br />
<div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">A república brasileira não tinha nenhuma tradição parlamentarista. A memória histórica do parlamentarismo do Império, tutelado por D. Pedro II, não inspirava simpatias.</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">Sob a presidência de Jango, a partir de 1961, sucederam-se três primeiros-ministros no regime parlamentarista: Tancredo Neves, Brochado da Rocha e Hermes Lima. Nenhum deles conseguiu enfrentar a situação econômica, deteriorada pela inflação herdada do qüinqüênio de Juscelino, nem se haver com os problemas políticos suscitados por sucessivas greves, reivindicações dos mais variados setores e difíceis de atender e, principalmente, o assédio incessante das forças conservadoras, aglutinadas em torno da UDN. Com a deterioração política, que criava uma instabilidade julgada inconveniente e ameaçadora pela própria classe dominante, a idéia do retorno ao regime presidencialista ganhou crescente apoio político-popular.</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">A 14 de setembro de 1962, uma greve nacional, articulada com o apoio do comandante do III Exército, general Jair Dantas Ribeiro, obrigou o Congresso a aprovar a emenda Valadares, que determinou a antecipação para janeiro de 1963 da realização do plebiscito sobre o parlamentarismo, marcado para 1965.</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">Na ab-rogação do parlamentarismo estava interessado não somente Jango. Pretendentes à Presidência, também Carlos Lacerda, Magalhães Pinto, Adhemar de Barros e Juscelino Kubitschek apoiaram o movimento de retorno ao presidencialismo, que já estaria vigente nas eleições de 1965. Em conseqüência, o parlamentarismo foi rejeitado por mais de 10 milhões de votos, na proporção de cinco votos contra um.</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">Jango pôde, então, passar a governar com as prerrogativas amplas do presidencialismo brasileiro.</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><b><span style="color: black; font-family: Verdana; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Novos atores, novo quadro político</span></b></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">Com vistas ao combate à inflação, Jango encarregou Celso Furtado, ministro do Planejamento, de elaborar um plano antiinflacionário. Veio, assim, à luz, uma semana antes do plebiscito de 6 de janeiro, o Plano Trienal preparado pelo prestigioso economista. Consistia numa versão da clássica estabilização financeira, temperada por uma dose de desenvolvimentismo. Entre as propostas principais, figuravam a chamada “verdade cambial”, ou seja, a desvalorização do cruzeiro (moeda nacional na época), visando ao incremento das exportações, o corte dos subsídios ao consumo do trigo e de derivados de petróleo, a elevação das tarifas dos serviços públicos, a contenção do crédito e das emissões de papel-moeda e a disciplina de salários e preços. Prometia, simultaneamente, a recuperação de taxas elevadas de crescimento.</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">Assim que pôde ser analisado, o Plano Trienal foi criticado e rejeitado pelas organizações operárias e esquerdistas em geral, particularmente o PCB. Verificou-se, com pouco tempo, que era inoperante e inócuo.</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">Jango se viu no centro de uma cena política em que novos atores ganhavam relevância. Precisava enfrentar um movimento popular diversificado e fortemente reivindicativo.</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">No Nordeste, sob a liderança de Francisco Julião, surgiram as Ligas Camponesas, que acentuaram as lutas na área rural. Tomou grande impulso a sindicalização de trabalhadores rurais. Insignificantes até 1962, já eram 270 sindicatos rurais em dezembro de 1963 formalmente reconhecidos pelo Ministério do Trabalho e 557 em fase de reconhecimento. Daí resultou a estruturação da Confederação dos Trabalhadores da Agricultura (Contag). O fortalecimento dos trabalhadores rurais recebeu, no Nordeste, contribuição de grande importância da política aplicada por Miguel Arraes, governador de Pernambuco, que impôs o pagamento rigoroso do salário mínimo na Zona da Mata e incentivou iniciativas de educação e cultura popular, com a mobilização de milhares de ativistas, particularmente estudantes. Com essas iniciativas, Arraes se tornou um político de influência nacional.</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">A 19 de novembro de 1963, 200 mil cortadores de cana de Pernambuco e da Paraíba realizaram uma greve vitoriosa, após três dias de duração. Era uma ação totalmente inédita numa região onde costumava imperar a violência impiedosa da classe dominante.</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">Acentuou-se o “grande medo” dos usineiros, latifundiários e empresários </span><personname productid="em geral. Defrontavam-se"><span style="color: black; font-family: Verdana;">em geral. Defrontavam-se</span></personname><span style="color: black; font-family: Verdana;"> com ações não rotinizadas, com as quais não sabiam como lidar. Os usineiros e latifundiários plantadores de cana reagiram comprando grandes quantidades de armas e apelando a reações violentas contra as reivindicações dos assalariados.</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">O golpismo de direita, em franca evolução, atuava através de organizações como o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (Ibad), do Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (Ipes), dirigido pelo general Golbery do Couto e Silva, da UDN e das pregações falsárias e antidemocráticas do deputado Bilac Pinto.</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">Papel importantíssimo, na articulação e suporte das forças reacionárias e pró-imperialistas, teve o embaixador Lincoln Gordon, representante dos Estados Unidos no Brasil, de </span><metricconverter productid="1961 a"><span style="color: black; font-family: Verdana;">1961 a</span></metricconverter><span style="color: black; font-family: Verdana;"> 1966. Gordon não era diplomata profissional, mas professor de economia da Universidade Harvard, tendo sido escolhido para o cargo diplomático pelo próprio presidente Kennedy. Em 1963, diante de informações alarmantes, Kennedy enviou, como reforço à Embaixada americana no Brasil, o coronel Vernon Walters, especializado no serviço de inteligência. Poliglota, Walters falava fluentemente o português. Durante a Segunda Guerra Mundial, atuara na Itália como oficial de ligação entre a FEB e o V Corpo do Exército dos Estados Unidos, ao qual os expedicionários brasileiros estavam incorporados. Tal função lhe permitira estabelecer relacionamento com vários oficiais brasileiros que iriam ter papel de relevo no golpe de </span><metricconverter productid="64, a"><span style="color: black; font-family: Verdana;">64, a</span></metricconverter><span style="color: black; font-family: Verdana;"> exemplo de Castelo Branco, Cordeiro de Farias e Syzeno Sarmento. (Ver Elio Gaspari A Ditadura Envergonhada. São Paulo, Companhia das Letras, 2002, p. 59-61).</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">Em sentido oposto, intensificou-se a atuação das forças operárias e democráticas.</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">A inflação incontida suscitava greves sucessivas, sem que os trabalhadores conseguissem resultados positivos duradouros. Impunha-se uma coordenação mais eficiente. Sindicatos e federações se entenderam e criaram o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), com abrangência nacional.</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">A novidade mais significativa veio, porém, dos subalternos das Forças Armadas, marinheiros e sargentos. Até então, a tradição das ações rebeldes e antilegalistas da oficialidade incluía sempre a colaboração submissa dos subalternos. A única ação independente de subalternos, na história nacional, remontava a 1910, quando ocorreu a célebre Revolta da Chibata, comandada pelo marinheiro João Cândido. Em 1962, pela primeira vez na segunda metade do século 20 e numa fase muito mais adiantada das lutas sociais, os subalternos passam a tomar iniciativas por conta própria.</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">A 25 de março de 1962, surge, no Rio de Janeiro, a Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais, que chega a reunir milhares de adeptos. Além de reivindicações profissionais, colocam em destaque a conquista de direitos políticos, inclusive a elegibilidade para o Congresso. Enfrentando a hostilidade do Ministério da Marinha, os marinheiros e fuzileiros navais editam um periódico, a Tribuna do Mar, e mantêm uma escola de preparatórios de exames de madureza, tendo como professores universitários da UNE. Sob a direção da UNE, incrementa-se notavelmente a mobilização estudantil pelas reformas de base.</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">Os sargentos das três forças militares passam também a agir com independência. Manifestaram sobretudo a aspiração aos direitos cidadãos de elegibilidade nas disputas eleitorais. Provocou revolta a sentença do Supremo Tribunal Federal pela cassarção do mandato do sargento Aimoré Cavaleiro, eleito deputado estadual no Rio Grande do Sul. A sentença da suprema corte ameaçava o mandato do sargento Antonio Garcia Filho, eleito deputado federal. Em resposta, a 12 de setembro de 1963, algumas centenas de sargentos da Aeronáutica e da Marinha, liderados pelo sargento Antonio Prestes de Paula, se sublevaram </span><personname productid="em Bras■lia. Prenderam"><span style="color: black; font-family: Verdana;">em Brasília. Prenderam</span></personname><span style="color: black; font-family: Verdana;"> altas autoridades e ocuparam a sede dos Ministérios da Marinha e da Aeronáutica, a Base Aérea, o aeroporto e a central telefônica. O movimento era intempestivo e preparado com precipitação. Dificilmente deixaria de fracassar. Os sublevados acabaram presos, porque, ao invés de contar com o apoio de colegas do Exército, tiveram de ceder diante das tropas que o ministro da Guerra sediou em Brasília, as quais sufocaram a rebelião. A atitude preventiva do ministro Jair Dantas Ribeiro, ciente do motim em preparação, resultou na prisão de seiscentos sargentos, inutilizando importante contingente para as lutas futuras, mais duras e decisivas e em acelerada aproximação.</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><b><span style="color: black; font-family: Verdana; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Pré-revolução e contra-revolução preventiva</span></b></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">Recuperadas as prerrogativas próprias do regime presidencialista, Jango passou a enfrentar as reivindicações de um vigoroso movimento popular em favor das reformas de base.</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">No segundo pós-guerra, durante os governos Dutra (continuador do regime repressivo do Estado Novo), Getúlio, Juscelino e Jânio, as forças democráticas, da classe operária aos estudantes, profissionais liberais, intelectuais em geral e parte dos empresários, ganharam um poder de mobilização desconhecido na história nacional. Cresceu o vigor dos setores que reivindicavam mudanças em profundidade na sociedade brasileira. Tais mudanças receberam a denominação de reformas de base, dentre as quais tinham prioridade a reforma agrária e a legislação nacionalista sobre o capital estrangeiro.</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">A reforma agrária era praticamente impossibilitada pelo dispositivo constitucional, que obrigava ao pagamento prévio e em dinheiro das desapropriações de terras. Os projetos em favor da derrogação desse dispositivo eram sistematicamente barrados pela maioria do Congresso.</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">Com relação ao capital estrangeiro, foi possível importante vitória ainda em 1962. Baseada em projeto do deputado Sérgio Magalhães, presidente da Frente Parlamentar Nacionalista (FPN), foi aprovada no Congresso, a 3 de setembro, a Lei 4.131 sobre as remessas de lucro do capital estrangeiro. Essas remessas passavam a ter o teto de 10% sobre o capital efetivamente ingressado no país, com exclusão, portanto, para cálculo do percentual, do capital adicionado e originário dos lucros obtidos no Brasil. A aprovação da lei foi possibilitada pela divisão das bancadas do PSD e da UDN. Provocou, não obstante, reação contundente da grande imprensa e aberta condenação do embaixador Gordon. Esquivando-se de sua responsabilidade como presidente, Jango deixou escoar o prazo constitucional sem sancionar a lei. Coube ao presidente do Senado fazê-lo. Mas a lei ficou engavetada, enquanto o Executivo não procedia a sua regulamentação.</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">Diante do movimento em ascensão pelas reformas de base, Jango prolongava uma atitude de indefinição, que não podia passar despercebida aos partidários das mudanças progressistas. Não se tratava de reivindicações revolucionárias. Poderiam, no entanto, preparar o caminho à transformação da sociedade brasileira numa democracia avançada, com hegemonia dos trabalhadores e de seus aliados do segmento de assalariados intelectuais. Neste sentido, considero que o movimento pelas reformas de base criava uma situação de pré-revolução.</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">Na conjuntura de 1963, algumas das lideranças mais destacadas radicalizaram o comportamento, adotando linhas de atuação destituídas de suporte em forças efetivas. Julião, que fez as Ligas Camponesas avançar enquanto as manteve no terreno das reivindicações legais, retornou de uma visita a Cuba com a cabeça feita pelo foquismo e pela idéia de uma reforma agrária coletivista. Tal proposta e sua palavra de ordem “reforma agrária na lei ou na marra” assustou não só os latifundiários, mas também os pequenos proprietários rurais, jogando-os no campo dos adversários da reforma agrária. As Ligas Camponesas enfraqueceram e se tornaram impotentes para agir em situações decisivas. Antes avesso à atuação parlamentar, Julião se candidatou a deputado federal e só com muita dificuldade conseguiu se eleger.</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">Da sua parte, Brizola não foi capaz de impedir que o governo do Rio Grande do Sul caísse nas mãos de Ildo Meneghetti, que viria a apoiar o golpe em 1964. Em contrapartida, Brizola logrou eleger-se deputado federal pela Guanabara, com votação elevada. Lançou o movimento pela formação dos Grupos dos Onze, com estruturação e objetivos vagamente formulados, mas sugerindo preparação para ações armadas.</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><b><span style="color: black; font-family: Verdana; mso-bidi-font-size: 12.0pt;">Da sua parte, Jango prosseguia no jogo de atitudes contraditórias.</span></b></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">No dia 4 de abril, a Agência Nacional difundiu a convocação de um comício para o Largo do Machado, no Rio de Janeiro. A convocação tinha caráter claramente provocativo, prevendo o deslocamento da massa popular ao Palácio Guanabara, sede do governo de Lacerda. O deslocamento justificaria a intervenção de tropas federais e de ações contra o CGT e outras organizações populares. O alerta oportuno do general Osvino Ferreira Alves, comandante do I Exército, desfez a armadilha e frustrou a realização do comício.</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">Contudo, estranhamente, em sincronização com a convocação do comício, Jango discursava em Marília, interior do estado de São Paulo, apresentando-se como o mais credenciado dos anticomunistas. Reforçou a jogada direitista com elogios ao governador Adhemar de Barros e ao falido Plano Trienal. Fazia-se evidente que buscava uma recomposição com as forças conservadoras direitistas.</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">Todavia, à noite da mesma data, o presidente discursou na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, na capital paulista. Prudentemente deixou de lado o anticomunismo e fez vagas alusões às reformas de base.</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">No dia 23 de agosto, à tardinha, realizou-se na Cinelândia, centro do Rio de Janeiro, um comício em homenagem à memória de Getúlio Vargas. Jango discursou perante 60 mil pessoas. Faixas estendidas diziam: “Jango, não vacile”, “Jango, chega de conciliação com os inimigos do povo. Reforma já!” Diante das frases vazias do presidente, a massa o interrompeu com o grito cadenciado: “De-fi-ni-ção!”</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">No dia 4 de outubro, Jango enviou ao Congresso um requerimento de decretação do estado de sítio. As organizações agrupadas na Frente de Mobilização Popular (FMP) manifestaram oposição. O mesmo fez o governador Miguel Arraes, que não ignorava a intenção presidencial de alijá-lo junto com a deposição de Lacerda. Ao constatar a falta de apoio parlamentar, o governo federal retirou o requerimento no dia 7.</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">O crédito de Jango junto às forças conservadoras estava esgotado, uma vez que não conseguira coibir o crescimento do movimento reformista nem deter a inflação. O presidente decidiu-se, finalmente, por uma posição clara em favor das reformas de base, sempre com a expectativa de que abrisse o caminho para um segundo mandato, o que necessitaria de emenda constitucional. Tomando o novo rumo, ordenou a regulamentação da lei sobre remessa de lucros do capital estrangeiro e prestigiou a Superintendência de Política Agrária (Supra), comparecendo a um ato de entrega de títulos de propriedade da terra a lavradores do estado do Rio. Ao mesmo tempo, encarregou San Tiago Dantas de articular uma Frente Ampla, que viabilizasse a aprovação parlamentar das reformas de base.</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">A ambição continuísta do chefe da Nação era particularmente incentivada pelos comunistas. Embora desprovidos de registro legal partidário no Tribunal Eleitoral, os comunistas constituíam, então, uma corrente de esquerda influente. Em repetidas manifestações, Luiz Carlos Prestes defendeu o segundo mandato para Jango e propôs publicamente a iniciativa de emenda constitucional que o permitisse. Semelhante proposta esquentava ainda mais a temperatura já bastante acalorada do clima político.</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">No entanto, repetiam-se os incidentes conflituosos. Programadas para discursar em faculdades e outros recintos, personalidades como Lacerda, Brizola, Clemente Mariani e João Pinheiro Neto foram barradas pelos adversários. Só com muita dificuldade e com a proteção da Polícia Militar, conseguiu Arraes discursar em Juiz de Fora.</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">Na tarde de 13 de março de 1964, o comício na praça da Central do Brasil reuniu meio milhão de pessoas. Após pronunciamentos de líderes políticos, sindicais e estudantis, Jango valeu-se de dois trunfos no discurso de encerramento do comício: o decreto de encampação das refinarias particulares de derivados de petróleo e o decreto da Supra, que declarava sujeitas a desapropriação as propriedades rurais superiores a </span><metricconverter productid="500 hectares"><span style="color: black; font-family: Verdana;">500 hectares</span></metricconverter><span style="color: black; font-family: Verdana;"> marginais de vias federais numa faixa de </span><metricconverter productid="10 quil�metros"><span style="color: black; font-family: Verdana;">10 quilômetros</span></metricconverter><span style="color: black; font-family: Verdana;"> e as propriedades superiores a </span><metricconverter productid="30 hectares"><span style="color: black; font-family: Verdana;">30 hectares</span></metricconverter><span style="color: black; font-family: Verdana;"> marginais de açudes e obras de irrigação com financiamento governamental. A legislação que permitiria tais atos já se encontrava em preparação para envio ao Congresso.</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">Enquanto o comício do dia 13 se realizava, os apartamentos na Zona Sul do Rio de Janeiro mantinham as luzes acesas e exibiam lençóis brancos nas janelas. Uma demonstração explícita de oposição da classe média carioca ao comício da Central do Brasil.</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">No dia 19 de março, meio milhão de pessoas se reuniu, </span><personname productid="em S ̄o Paulo"><span style="color: black; font-family: Verdana;">em São Paulo</span></personname><span style="color: black; font-family: Verdana;">, na primeira Marcha da Família com Deus pela Liberdade, desfilando da Praça da República à Praça da Sé. Organizada por entidades da direita política e com o apoio do clero católico, era uma clara manifestação antigovernamental da classe média. A sociedade estava nitidamente cindida. Irritada pelas numerosas greves, pela carestia, pelo desabastecimento de gêneros alimentícios e pela inoperância oficial, a classe média se passou maciçamente para o campo dos opositores do governo Jango.</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">Simultaneamente, o apoio do presidente aos marinheiros reunidos em assembléia no Sindicato dos Metalúrgicos, no Rio de Janeiro, e sua aliança com os sargentos nacionalistas jogaram a oficialidade em massa também na oposição. A oficialidade sentia gravemente abalados os princípios da hierarquia e da disciplina, fundamentais nas corporações militares.</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">Na noite de 30 de março, Jango discursou numa solenidade promovida pela Associação dos Sargentos e Suboficiais da Polícia Militar, no salão do Automóvel Clube, no centro do Rio de Janeiro. Foi o que bastou para detonar o golpe, já em franco andamento nos bastidores conspirativos.</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">No dia 31 de março, as tropas do Exército aquarteladas </span><personname productid="em Minas Gerais"><span style="color: black; font-family: Verdana;">em Minas Gerais</span></personname><span style="color: black; font-family: Verdana;">, sob o comando do general Olympio Mourão Filho, com o apoio do governador Magalhães Pinto, se insurgiram e marcharam em direção ao Rio de Janeiro. Um após outro, os comandos militares, supostamente fiéis a Jango, mudaram de posição e, sob a coordenação do general Odilo Denys, adotaram o rumo do golpe. O dispositivo militar, garantido pelo general Assis Brasil, chefe do Gabinete Militar, revelou extrema fragilidade.</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">Jango podia contar, no primeiro momento, com uma esquadrilha de oficiais nacionalistas da Aeronáutica, que se dispunha a despejar bombas sobre a coluna do general Mourão. Os fuzileiros navais, sob o comando do almirante nacionalista Cândido Aragão, tinham a possibilidade, também no primeiro momento, de assaltar o Palácio Guanabara e prender Lacerda, o que alcançaria grande repercussão nacional em favor do governo.</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">Jango preferiu capitular. Desautorizou as ações dos oficiais da Aeronáutica e dos fuzileiros navais. No dia 1º de abril, retirou-se do Palácio das Laranjeiras, no Rio de Janeiro, e voou para Brasília. Dali, partiu depressa para o Rio Grande do Sul, donde, finalmente, sairia do país.</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">Em Brasília, o senador Auro de Moura Andrade, presidente do Congresso, declarou a Presidência da República vacante. No dia 9, o primeiro Ato Institucional deu início às cassações de mandatos e direitos políticos. O general Castelo Branco assumiu a chefia do governo, inaugurando a sucessão de generais-presidentes, que se prolongaria por 21 anos.</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">No dia 3 de abril, 1 milhão de pessoas desfilou, no Rio de Janeiro, na segunda Marcha da Família com Deus pela Liberdade. A sociedade estava claramente cindida. De um lado, a favor do rumo progressista e democrático, os trabalhadores. No lado contrário, a classe média </span><personname productid="em peso. O"><span style="color: black; font-family: Verdana;">em peso. O</span></personname><span style="color: black; font-family: Verdana;"> que chamamos de golpe militar teve inequívoco e poderoso apoio social. Funcionou como contra-revolução preventiva.</span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><span style="color: black; font-family: Verdana;">Trabalhadores e classe média iriam fazer a amarga experiência de dois decênios ditatoriais. Ao contrário de muitos países latino-americanos, era a primeira vez, em sua história, que o povo brasileiro se via sob o jugo de uma ditadura militar. Dessa experiência, que custou tantos sacrifícios aos melhores patriotas, surgiu finalmente a democracia difícil, que hoje molda a vida política nacional.</span></div><div align="center" class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;"><span style="color: black; font-family: Verdana; font-size: 6pt;"></span></div><div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;"><br />
<span style="color: black; font-family: Verdana, sans-serif;">*Jacob Gorender é historiador, autor de "Combate nas Trevas" (Ática) </span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br />
</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: black;"><strong>Nota de Jorge Lobo</strong>: "Combate nas Trevas" é um livro fundamental para se entender a ditadura militar no Brasil.</span></span><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
</div>Jorge Lobohttp://www.blogger.com/profile/08854290252708162115noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3101835431565597778.post-50528831627745727592010-10-10T10:00:00.000-07:002010-10-10T16:06:21.920-07:00A ARTE DO CONTO DE MURILO RUBIÃO<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-HfEhyPEgCw-nWvzaMZ6bh36Itha1DauEfU7UNv4V9H1tAall6oy7SyzrhdB7q9uqEfvm4GS1F1ySQSbAt5dTKxwK8E_l4AbrpFEPJazletUmJ_t-fCW0jxLBFqjp8ucPNn2ndNRTMNLJ/s1600/MURILORUBIAO.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" ex="true" height="230" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-HfEhyPEgCw-nWvzaMZ6bh36Itha1DauEfU7UNv4V9H1tAall6oy7SyzrhdB7q9uqEfvm4GS1F1ySQSbAt5dTKxwK8E_l4AbrpFEPJazletUmJ_t-fCW0jxLBFqjp8ucPNn2ndNRTMNLJ/s320/MURILORUBIAO.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Murilo Rubião</td></tr>
</tbody></table><div class="texto" style="margin: auto 0cm;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 7.5pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana;">Fábio Lucas<br />
<br />
O Estado de São Paulo, 21 de agosto de 1983 <br />
<br />
Fábio Lucas faz aqui uma análise da obra de Murilo Rubião. Para ele, o autor de “O Convidado” denuncia a farsa da burocracia e mostra a fragilidade do poder inautêntico.<br />
<br />
<br />
O recente lançamento da 3ª edição de O Convidado (S. Paulo, Ed. Ática, 1983) convida a nova reflexão sobre os processos narrativos do contista mineiro, assim como a um rebuscamento de seus veios temáticos. Apesar da variada bibliografia acerca da prosa de Murilo Rubião, muitos recantos permanecem não visitados.<br />
<br />
Jorge Schwartz, um dos mais autorizados intérpretes da obra do autor de O Convidado, devassou com método e acuidade as principais riquezas em Murilo Rubião: A Poética do Uroboro (S. Paulo, Ed. Ática, 1981), mas recusou-se a levar sua investigação até a área psicanalítica, talvez receoso de incorrer nas simplificações e automatismos que a moda da interpretação psicanalítica tem suscitado.<br />
<br />
Foi pena, pois o analista, altamente capacitado, deixa entrever o tecido inconsciente da ficção de Murilo Rubião, embora não tenha desejado radicalizar conclusões.<br />
<br />
O inesperado da linha narrativa do autor de O Ex-Mágico (Rio, Universal, 1947), solitária experiência no após-guerra, encaminhou a crítica a aplicar-lhe designativos já gastos, que acabam por não determinar exatamente a natureza de seu relato. Assim, falou-se do uso do “imaginário” por parte do contista, de seu desvio da prosa realista, do “fantástico”, do “sobrenatural” e do “maravilhoso”, etiquetas aplicadas a uma família muito grande de ficcionistas contemporâneos.<br />
<br />
O leitor habitual dos contos de Murilo Rubião percebe certo descompromisso com a causalidade espaço/temporal da tradição novelesca. Acontecem prodígios na fabulação dos episódios. Mas, perante o estatuto da ficção, estabelece-se um convênio entre o escritor e o leitor, pois este haverá sempre de creditar uma dose de credibilidade ao que se narra. Desde Homero até os Surrealistas, estamos condicionados a aceitar as fantasias na escala do possível. Caso contrário, toda ficção significaria um relatório.<br />
<br />
Ora, para que se realize a esfera narrativa, é necessário que o leitor entre na jogada do narrador, adira à lógica proposta pelo texto, concorde com a instância fantasiosa e faça da crença um compromisso de apreensão da atmosfera ficta.<br />
<br />
Ademais, ao expor a trajetória de suas personagens, Murilo Rubião administra um campo de estranhamento que tem algo com a paisagem onírica, algo elaborado no interior de um sonho. Quer isto dizer que as funções oníricas de deslocamento e de condensação habitam o espaço altamente aglutinado de símbolos. Por entre as frestas desta nova lógica – a lógica da descontinuidade racional – se revelam espessas propriedades inconscientes.<br />
Quando se menciona o fantástico ou o maravilhoso, pressupõe-se a libertação ilimitada da imaginação, numa gratuita expansão criativa. Mas os desmandos da fantasia em Murilo Rubião mostram-se contidos por dois limites: a função do consciente e a força do fator social. Daí o caráter dramático dos contos.<br />
A cada momento, o leitor se defronta com o alargamento da fantasia imaginária, como, por exemplo: “Pelos meus olhos entravam estrelas, luzes cujas cores ignorava, triângulos absurdos, cones e esferas de marfim, rosas negras, cravos em forma de lírios, lírios transformados em mãos”.” (cf. “O Pirotécnico Zacarias”, em O Pirotécnico Zacarias, S. Paulo, Ed. Ática, 1976, p. 18).<br />
<br />
Já se estudaram, no contista, o zoomorfismo, o cromatismo, inúmeras aparências de metamorfose. Mas está por se catalogar o uso persistente de cláusulas restritivas com que o poder do mágico é contido. E é por essa circunstância que a ficção de Murilo Rubião deixa de se categorizar como o uso gratuito do devaneio, uma articulação de quimeras. É por aquela via que penetra na sua descrição do maravilhoso o lado contingente das personagens, sua mundidade, seu realismo terrenal, sua limitação temporal.<br />
<br />
Dá-se, então, o ingresso do estranho dentro do estranho. Apenas para ilustrar, invoquemos o conto “Os Comensais”, de O Convidado. A personagem, Jadon, intriga-se com os companheiros de refeição num restaurante: todos sempre se encontravam no mesmo lugar, indiferentes à comida servida. Novos mistérios vão sendo observados pela personagem atônita. A repetição do cenário, a multiplicação dos convivas, seu alheiamento de tudo. “Após essa experiência” – diz o conto -, “seguiu-se um período em que Jadon desistiu de penetrar na intimidade daqueles cavalheiros taciturnos que, apesar de manifestarem evidente desinteresse pelos alimentos, apresentavam-se saudáveis e tranqüilos”.<br />
<br />
Depois de assinalarmos que Jadon “desistiu de penetrar na intimidade daqueles cavalheiros” e que, “apesar de”, etc, aparece adiante que “algo de anormal o surpreendeu: em sítios diversos, encontravam-se pessoas cujas fisionomias lhe eram inteiramente estranhas”. Colecionamos, então, “algo de anormal” e “fisionomias estranhas”. Passamos, a seguir, a “à medida que aumentava a sua perplexidade” (...) “do seu íntimo emergia a desconfiança de que tudo aquilo poderia ser peoposito”, um recurso para “quebrar-lhe a resistência pelo mistério”. E a personagem, já revoltada, sente que “na ocupação das mesas havia uma fraude a ser desmoralizada”. <br />
<br />
Outras formas intensificadoras da perplexidade vão-se acumulando na consciência da personagem, já em estado de indignação. É sobre isto que gostaríamos de chamar a atenção: o choque, dentro do próprio quadro ficcional, do raro e do grotesco contra aquilo que, sendo igualmente extraordinário, se manifesta como o normal.<br />
<br />
“Os Comensais”, na verdade, desenvolve uma fábula sedutora: o processo compulsório de sociabilização da personagem, de seu ingresso entre os convivas, todos distantes e alheios. E, afinal, quando Jadon tenta regressar ao refeitório, aí, então, é que se depara com o salão vazio, isto é, com a sua mais completa solidão. Havia regressado aos 20 anos. <br />
<br />
Jorge Schwartz observa, pertinentemente, a esterilidade das personagens do contista, seu relacionamento infecundo. Carregadas de atributos quantitativos, permanecem sem evidenciação de seus traços psicológicos.<br />
<br />
Quer parecer que o fantástico em Murilo Rubião nada tem de encantatório, pois, como vimos, submete-se a cláusulas restritivas. E o maravilhoso, considerado como monopólio do sobrenatural, é contido na sua função hipnótica por uma substancial camada ideológica. Em todas as circunstâncias, o exercício dos poderes mágicos é limitado. Por isto, surpreendemos sempre no contista mineiro a tensão entre o prodígio e a frustração, entre a transcendência e a contingência, e, às vezes, entre a onipotência e a mera impotência.<br />
<br />
O próprio conto “O Ex-mágico da Taberna Minhota”, um clássico de Murilo Rubião, ilustra o encontro de duas culturas: aquela em que tudo é possível e a outra, na qual nada é permitido.<br />
<br />
Na verdade, não podemos descartar, na interpretação do contista, a herança surreal, não de todo explorada. Condimentada, é verdade, pelo veio satírico de Machado de Assis e seus ácidos comentários ao poder dos impotentes. Sente-se, no jogo muriliano, um antagonismo entre metamorfose e conservação. E, também, não devidamente explorado pela crítica, um jogo espirituoso entre cultura e natureza.<br />
<br />
Apontamos acima os fatores de moderação do surto da visão imaginativa. Há, em Murilo Rubião, um florescimento de signos recorrentes que talvez sejam indicadores de tendências ocultas e irreveladas.<br />
<br />
Na primeira camada de significados, o erotismo, por exemplo, mal se divisa. Mas se insinua atrás de uma cortina de símbolos. Que poder de sugestões o contista extrai, por exemplo, da flor com as suas pétalas (às vezes metonimicamente jungidas ao sintagma “ferida”), especificamente do girassol, que acaba por configurar no título de um conto e de uma coleção, agora apresentado iconicamente na capa, em vibrante vermelho. Como a estrela vermelha do conto “Bruma”. <br />
<br />
Nas relações domésticas das personagens, poderíamos falar de uma estética do interdito, tais as formas latentes de incesto que se manifestam em proibições ou tais os impulsos amorosos reduzidos pela incompletude da realização do desejo. <br />
<br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-weight: bold;">O homem não se livra de seu passado</span><br />
<br />
É recorrente na ficção de Murilo Rubião o confronto entre irmãos. E as irmãs adotivas se tornam apetecidas: Bruma, Dora... Ao mesmo tempo, nota-se uma rebelião constante contra a figura paterna: “A Casa do Girassol Vermelho” e “O Bloqueio”. Em “Petúnia”, a personagem é condenada a cuidar da memória das entidades mortas: as filhas, a mulher, a sogra. O homem não se livra de seu passado. No outro, “A Casa do Girassol Vermelho”, a figura do pai encarna-se no velho Simeão: “Pisávamos na memória do velho Simeão, escarrando no passado” (A Casa do Girassol Vermelho, S. Paulo, Ed. Ática, 1978, p. 14).<br />
Loucos, mentecaptos, clientes de consultórios psiquiátricos abundam na ficção do contista. A chave do interdito nem sempre se revela expressamente, antes se desnunda por detrás dos símbolos. Que é “Bárbara” se não é retrato do desejo contido?<br />
<br />
<br />
<span style="mso-bidi-font-weight: bold;">A veia humorística do escritor</span><br />
<br />
Sintomático é o conto “O Lobo”: sátira à clínica psiquiátrica, sonho premonitório, a presença da irmã, que se acompanha de “um menino com a aparência de retardado mental”. Este, denominado Zeus, é ainda tratado como “debilóide”, “mentecapto”, fazendo “cara de idiota”. A personagem não consegue livrar-se nem do médico, nem do sonho, nem da irmã, nem do mentecapto. E, na extrema enfermidade, moribundo, quando o bisturi limpa as pétalas de sua ferida, “esboçava imperceptível gesto de asco”.<br />
<br />
Curioso o diagnóstico do médico, no início da narrativa: “E, repreensivo, assegurou que o paciente carregava dentro de si imenso lodaçal. Exigia que falasse da infância, do relacionamento com os pais”. <br />
Os quatro primeiros contos de O convidado – “O Convidado”, “A Fila”, “Epidólia” e “Botão-de-Rosa” – podem classificar-se como variantes de um desejo irrealizado. Assim como “A Casa do Girassol Vermelho”, “Bruma” e “Alfredo” disfarçam um confronto entre irmãos, no volume A Casa do Girassol Vermelho. <br />
<br />
O solo do incesto e das punições é imenso na ficção de Murilo Rubião. A recorrência simbólica é facilmente assinalável. Mas a sondagem de valores inconscientes não esgota o significado dos contos. Deve-se considerar também a crítica às pressões sociais, principalmente às práticas que se tornaram rotina. A burocracia é um dos alvos prediletos do escritor.<br />
<br />
Por isto, ele extrai certo humor amargo da mecanização dos atos humanos. É o caso de “A Fila”. A repetição está gravada quer na construção – “O Edifício”, por exemplo -, quer na destruição – veja-se “O Bloqueio”; ou, mesmo, no mero ato da reprodução, como em “Botão-de-Rosa” e “Aglaia”.<br />
Cremos não se ter investigado devidamente este lado machadiano, ou bem mineiro, de Murilo Rubião: o gosto da ironia. Um capítulo à parte deveria ser destinado às revelações onomásticas. Como, então, chamar de Zeus a um pequeno mentecapto? Como denominar dr. Pink (pink, o correspondente, em inglês, a “cor-de-rosa”) a um analista argentário? Por detrás da transparência de alguns nomes da mitologia greco-latina, ainda resta uma camada de grotesco como propósito satírico. No conto “Botão-de-Rosa”, além da personagem-título, acusada de engravidar “meninas de oito anos e matronas de oitenta anos”, temos os seus companheiros do conjunto de guitarras: Molinete, Zelote, Judô, Pedro Taguatinga, Simonete, Bacamarte, André-Tripa-Miúda, Íon, Mataqueus, Pisca, Filipeto e Bartô. Não haveria uma galhofa mordaz no apelativo de muitos protagonistas dos contos?<br />
<br />
A veia humorística se prova em inúmeras fantasias do escritor. E há todo um jogo na organização de suas coletâneas de contos, desde 1947. O contínuo reordenamento não fará parte de uma função lúdica?<br />
<br />
Por fim, mencionemos, na ficção de Murilo Rubião, um dado bastante explícito, que já atraiu alguns analistas, especialmente Jorge Schwartz: o uso invariável de epígrafes buscadas à Bíblia.<br />
<br />
Nota-se na coletânea O Convidado o teor profético delas, mas de um profetismo em que predomina a negatividade.<br />
<br />
Que vem a ser a profecia? A desautorização do mistério futuro, a claridade para os dias de hoje, algo que somente pertence aos deuses. Elas não se cumprem literalmente na ficção de Murilo Rubião. Daí a tensão que se tira entre o prometido e o outorgado. Toda dramaticidade do contista provém da negação das promessas. Cada personagem se atira no palco dos acontecimentos carregada de alternativas. E geralmente dele sai sem opção alguma. Ou melhor: com uma única alternativa, subjugado por forças que o limitam e cativam. De determinante, a personagem passa a determinada. A crítica de Murilo Rubião é uma crítica do superego. Ele vê fundo a farsa da burocracia e do poder inautêntico.</span></span></b><br />
<br />
<strong><span style="font-family: Verdana;">Nota de Jorge Lobo: leiam "Contos Reunidos"( editora Ática ), livro que contém as últimas versões de cada conto, pois Rubião tinha o hábito de reescrever insistentemente seus contos. Esse livro contém todos os contos de Rubião, inclusive um inédito: "A Diáspora". Rubião morreu em 1991 e a edição que tenho em mãos é de 2005. Vale a pena ler, Rubião era um grande contista.</span></strong></div>Jorge Lobohttp://www.blogger.com/profile/08854290252708162115noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3101835431565597778.post-74499767524290101642010-10-04T00:45:00.000-07:002010-10-05T16:37:24.979-07:00ATENUAÇÃO E AGRAVAMENTO<span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;"></span><br />
<h3><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="background-color: #eeeeee; color: black;"></span></span></span> </h3><h3><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="background-color: #eeeeee; color: black;">A</span>o receber uma mensagem, o receptor lhe atribui valores como: importância, gravidade, aceitação/reprovação, além de uma resposta emocional. Esta valoração e a resposta emocional, bastante subjetivas e contextualizadas, podem ser atenuadas ou agravadas pelas características do discurso que veicula a mensagem. Isso decorre de transferências icônicas, convenções editoriais, de entoação e gestual, manipulação psicológica e ênfase.</span></span></h3><h3><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: small;">Há meios de atenuar ou agravar nos diversos níveis do discurso. Vejamos:</span></span></h3><h3 style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list 36.0pt; text-indent: -18pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: Symbol; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font-family: "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Ordem de emissão. O que é recebido antes, convencionalmente é considerado mais importante.</span></span></span></h3><h3 style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list 36.0pt; text-indent: -18pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: Symbol; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font-family: "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Corpo tipográfico relativamente maior está associado, por convenção, à maior importância do que se veicula.</span></span></span></h3><h3 style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list 36.0pt; text-indent: -18pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: Symbol; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font-family: "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Volume de texto maior está associado à maior importância.</span></span></span></h3><h3 style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list 36.0pt; text-indent: -18pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: Symbol; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font-family: "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Destaques gráficos (cor diferenciada, moldura, tipografia diferenciada, etc.) podem sugerir importância.</span></span></span></h3><h3 style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list 36.0pt; text-indent: -18pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: Symbol; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font-family: "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Ordem temática:</span></span></span></h3><h3 style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list 36.0pt; text-indent: -18pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: Symbol; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font-family: "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Ordens gradativas, ascendentes ou descendentes, podem agravar ou atenuar conforme o caso.</span></span></span></h3><h3 style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list 36.0pt; text-indent: -18pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: Symbol; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font-family: "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Iconias: podem atenuar ou agravar conforme o caso.</span></span></span></h3><h3 style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list 36.0pt; text-indent: -18pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: Symbol; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font-family: "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Repetição: agrava se repete o que agrava, atenua se repete o que atenua.</span></span></span></h3><h3 style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list 36.0pt; text-indent: -18pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: Symbol; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font-family: "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Ênfase: atenua ou agrava conforme enfatize o que atenua ou o que agrava.</span></span></span></h3><h3 style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list 36.0pt; text-indent: -18pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: Symbol; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font-family: "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Entoação e gestual expressivos: uma entoação expressiva, conforme ao que suscita a mensagem, pode agravar o impacto psicológico. Uma entoação e um gestual que tendem para a neutralidade emocional atenuam.</span></span></span></h3><h3 style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list 36.0pt; text-indent: -18pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: Symbol; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font-family: "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Sintáticos: apostos, adjuntos adverbiais e adnominais podem agravar ou atenuar conforme o caso.</span></span></span></h3><h3 style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list 36.0pt; text-indent: -18pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: Symbol; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font-family: "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Lítotes atenua. Ex.: 'Sou bela?' 'Não és feia'.</span></span></span></h3><h3 style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list 36.0pt; text-indent: -18pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: Symbol; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font-family: "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Metonímias atenuam ou agravam conforme o caso.</span></span></span></h3><h3 style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list 36.0pt; text-indent: -18pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: Symbol; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font-family: "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Comparações idem. Um caso notável de comparação que intensifica: 'Inteligente como um jumento'. 'Bonito como um dragão'. Nessas comparações não se pode dizer que temos ironia, pois, o jumento não é de todo destituído de inteligência, mas o grau de inteligência nele é considerado muito baixo comparativamente a outros seres.</span></span></span></h3><h3 style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list 36.0pt; text-indent: -18pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: Symbol; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font-family: "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Metáforas, em especial as hipérboles, atenuam ou agravam conforme o caso.</span></span></span></h3><h3 style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list 36.0pt; text-indent: -18pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: Symbol; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font-family: "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Ironia agrava.</span></span></span></h3><h3 style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list 36.0pt; text-indent: -18pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: Symbol; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font-family: "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Precisão atenua ou agrava conforme o caso.</span></span></span></h3><h3 style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list 36.0pt; text-indent: -18pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: Symbol; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font-family: "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Antíteses agravam.</span></span></span></h3><h3 style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list 36.0pt; text-indent: -18pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: Symbol; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font-family: "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Conotação pode agravar ou atenuar.</span></span></span></h3><h3 style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list 36.0pt; text-indent: -18pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: Symbol; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font-family: "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Avaliações subjetivas podem atenuar ou agravar.</span></span></span></h3><h3 style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list 36.0pt; text-indent: -18pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: Symbol; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font-family: "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Suspense agrava.</span></span></span></h3><h3 style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list 36.0pt; text-indent: -18pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: Symbol; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font-family: "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Presentificação agrava.</span></span></span></h3><h3 style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list 36.0pt; text-indent: -18pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: Symbol; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font-family: "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Empatia agrava.</span></span></span></h3><h3 style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list 36.0pt; text-indent: -18pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: Symbol; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font-family: "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Envolvimento agrava.</span></span></span></h3><h3 style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list 36.0pt; text-indent: -18pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: Symbol; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font-family: "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Imprevisibilidade agrava.</span></span></span></h3><h3 style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list 36.0pt; text-indent: -18pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: Symbol; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font-family: "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Dramatização agrava.</span></span></span></h3><h3 style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list 36.0pt; text-indent: -18pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: Symbol; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font-family: "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Paralelismo narrativo agrava.</span></span></span></h3><h3 style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list 36.0pt; text-indent: -18pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: Symbol; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font-family: "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Sumarização atenua.</span></span></span></h3><h3 style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list 36.0pt; text-indent: -18pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: Symbol; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font-family: "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Imparcialidade do narrador atenua.</span></span></span></h3><h3 style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list 36.0pt; text-indent: -18pt;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: Symbol; font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font-family: "Times New Roman";"> </span></span></span><span style="font-family: Verdana; font-size: 10pt;">Ponto de vista neutro atenua.</span></span></span></h3><h3 align="left" style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list 36.0pt; text-indent: -18pt;"> </h3><h3 align="left" style="margin-left: 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; tab-stops: list 36.0pt; text-indent: -18pt;">Fonte: "Elementos de Retórica", de Radamés Manosso.</h3>Jorge Lobohttp://www.blogger.com/profile/08854290252708162115noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3101835431565597778.post-75611631535215506272010-09-27T05:06:00.000-07:002010-11-07T04:25:15.595-08:00ANÁLISE INTERPRETATIVA DO FILME "UMA LIÇÃO DE TANGO"( ATENÇÃO: SPOILERS )<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoq6v16T1CAHZWK7l2JdM0YA94D3okcTkBYDwPm6RvsecEfLQ6z2_OTVcIQhPg2Gc_fjZKd1sedzR66CX1vEFbd2Pge0ILWrIwgSlA1zM2_DkXiIQALRtOdqWAqq8TWjbxPKIMmLibgx0W/s1600/LICAODETANGO.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" px="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoq6v16T1CAHZWK7l2JdM0YA94D3okcTkBYDwPm6RvsecEfLQ6z2_OTVcIQhPg2Gc_fjZKd1sedzR66CX1vEFbd2Pge0ILWrIwgSlA1zM2_DkXiIQALRtOdqWAqq8TWjbxPKIMmLibgx0W/s320/LICAODETANGO.jpg" width="213" /></a></div><br />
<br />
<span style="font-family: Helvetica; font-size: 12pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Arial; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">UMA LIÇÃO DE TANGO( "THE TANGO LESSON" )<br />
<br />
POR JORGE LOBO <br />
<br />
FILME ESCRITO E DIRIGIDO POR SALLY POTTER<br />
<br />
O FILME é composto de 12 aulas mais a introdução <br />
<br />
INTRODUÇÃO <br />
<br />
1)A MOÇA LIMPA UMA MESA E COMEÇA A ESCREVER(IMAGENS DE SEU FILME SE ALTERNAM COM A IMAGEM DELA ESCREVENDO – O FILME APRESENTA 1 DOS PROTAGONISTAS( PROTAGONISTA MAIOR). <br />
<br />
*O FILME FAZ UMA DIVISÃO CLARA(COLORIDO X PRETO E BRANCO) ENTRE O QUE A PERSONAGEM ROTEIRISTA IMAGINA E A “REALIDADE”, DEIXANDO AS FRONTEIRAS CLARAS PARA O ESPECTADOR. ASSIM, TODA VEZ QUE A ROTEIRISTA ESTÁ IMAGINANDO AS CENAS DO SEU FILME, ESSAS CENAS SÃO MOSTRADAS EM CORES E TODA VEZ QUE A “REALIDADE” ESTÁ EM FOCO, ESSA “REALIDADE” É MOSTRADA EM PB. <br />
<br />
2)ELA VÊ UM ESPETÁCULO DE DANÇA DE TANGO <br />
<br />
APRESENTAÇÃO DA OUTRA PROTAGONISTA(PROTAGONISTA MENOR) - OBS: O FILME PRATICAMENTE SÓ ENFOCA 2 PERSONAGENS <br />
<br />
·CONTINUA A INFORMAR SOBRE O QUE VAI SER O FILME <br />
<br />
3)CONVERSA ENTRE AS 2 PERSONAGENS(CONTINUA A APRESENTAR O ASSUNTO DO FILME ) <br />
<br />
*A INTRODUÇÃO INFORMA SOBRE O QUE VAI SER O FILME, INFORMANDO MAIS, DE FORMA EXPLÍCITA, NO ENTANTO, SOBRE OS ASSUNTOS(CINEMA E TANGO, ENCONTRO AMOROSO E PROFISSIONAL ENTRE OS PROTAGONISTAS) DO QUE SOBRE TEMÁTICA. APESAR DISSO, EXISTE REFERÊNCIA TEMÁTICA, EMBORA DISFARÇADA(O ESTILISTA SEM PERNAS, OS ATENTADOS `AS SUAS MODELOS - A FALTA DE RAÍZES, A QUESTÃO DA DIFERENÇA, A MORTE DE MODELOS INTERIORES DA PROTAGONISTA, QUER DIZER, SUA MANEIRA DE ENCARAR O MUNDO). A DIRETORA JÁ COLOCA UM ENIGMA PARA O ESPECTADOR REFLETIR, PROCESSAR EM SUA MENTE, EMBORA NÃO O FAÇA DE FORMA EXPLÍCITA: O QUE QUER DIZER ISSO? UM ESTILISTA SEM PERNAS, ESSAS MODELOS MORRENDO? <br />
<br />
*A INTRODUÇÃO CUMPRE BEM SUA FUNÇÃO SEGUINDO UMA LINHA DE INTRODUÇÃO EM QUE A AMBIÇÃO É APRESENTAR TEMAS E PERSONAGENS DANDO INFORMAÇÕES QUE DÃO UMA AMOSTRA DO CONTEÚDO DO RESTANTE DO FILME. <br />
<br />
PRIMEIRA AULA: <br />
<br />
-OS 2 SE ENCONTRAM PARA A PRIMEIRA AULA DA MOÇA. <br />
<br />
SEGUNDA AULA <br />
<br />
-ELA VAI PARA O SALÃO DE DANÇA E DEPOIS PENSA SOBRE O ROTEIRO <br />
-APARECE UMA RACHADURA NO PISO(ELEMENTO SIMBÓLICO) <br />
<br />
TERCEIRA AULA <br />
<br />
- O PISO ESTÁ RUIM <br />
<br />
ACREDITO QUE O PRETEXTO PARA A VIAGEM DA PERSONAGEM NÃO SEJA MUITO CONVINCENTE, APESAR DE SEMPRE PODER EXISTIR A JUSTIFICATIVA DO ELEMENTO SIMBÓLICO(A METÁFORA DA RECONSTRUÇÃO).NO CASO, ESSE ELEMENTO É UM POUCO FORÇADO, TENDO-SE EM VISTA A DISCUTÍVEL PLAUSIBILIDADE EXISTENTE NO FATO DA PERSONAGEM VIAJAR POR CAUSA DISSO: <br />
O ARAUTO, UMA ESPÉCIE DE PEDREIRO(O FILME NÃO EXPLICA QUEM É ), PERGUNTA SE ELA PODE VIAJAR POR ALGUMAS SEMANAS. <br />
<br />
-ELA ESTÁ EM BUENOS AIRES, COMPRA SAPATOS E TEM AULAS COM 2 INSTRUTORES. <br />
<br />
*PODE-SE COMPARAR OS SAPATOS DE SALLY COM OS APETRECHOS DE PERSEU(O CAPACETE DA INVISIBILIDADE, O ESCUDO), NECESSÁRIOS ‘A SUA JORNADA , COMO OS SAPATOS O SÃO PARA SALLY. <br />
<br />
QUARTA AULA <br />
<br />
VOLTA A TER AULA COM VERÓN, QUE LHE DIZ: “SABE DE UMA COISA? EU SEMPRE QUIS SER ATOR” <br />
RESPOSTA: “EU SEMPRE QUIS SER DANÇARINA” E OS 2 DANÇAM EM UMA PAISAGEM DE CARTÃO POSTAL. <br />
INTERSECÇÃO E ENCANTO ENTRE OS 2 PROTAGONISTAS <br />
<br />
QUINTA E SEXTA AULAS <br />
<br />
OS 2 CONVERSAM SOBRE ACASO E DESTINO, HÁ UMA DANÇA NA ESCADA ROLANTE E ELA VIAJA PARA HOLLYWOOD. <br />
<br />
– O ESTILISTA NÃO TEM PERNAS <br />
<br />
SALLY DIZ QUE DESISTIU DO FILME PORQUE ESCREVEU SOBRE UMA COISA QUE NÃO TEM VONTADE DE FILMAR, TALVEZ FILME SOBRE UMA COISA MAIS PESSOAL, COMO TANGO. ESSA AFIRMAÇÃO MARCA A TRANSIÇÃO, A TRANSFORMAÇÃO DA PERSONAGEM, POIS SUA MUDANÇA DE PROJETO ESTÁ COINCIDINDO COM SUA TRANSFORMAÇÃO PESSOAL. APESAR DA PROTAGONISTA AFIRMAR QUERER FILMAR ALGO MAIS PESSOAL, ESSA AFIRMAÇÃO É DISCUTÍVEL POIS ELA JÁ ESTAVA TRABALHANDO EM UM PROJETO PESSOAL(LER CONSIDERAÇÕES SOBRE A INTRODUÇÃO E SOBRE A DÉCIMA SEGUNDA AULA), EMBORA SEU POSICIONAMENTO COM RELAÇÃO AO PROJETO ANTERIOR FOSSE MAIS AMARGO, POSIÇÃO QUE ,AGORA, ELA EVITA ASSUMIR - HÁ UM ELOGIO `A CAPACIDADE DE LIBERTAÇÃO DE AMARRAS PESSOAIS ATRAVÉS DA DANÇA. EXISTE, TAMBÉM, <br />
UMA PERGUNTA INTERESSANTE, FEITA POR UM PRODUTOR DE HOLLYWOOD, QUE É JOGADA, DEIXADA NO AR PARA O ESPECTADOR : POR QUE O ESTILISTA NÃO TEM PERNAS? O ENIGMA DA INTRODUÇÃO É RETOMADO, AGORA DE FORMA MAIS EXPLÍCITA. <br />
<br />
*O FILME COLOCA UMA DIALÉTICA INTERESSANTE ENTRE EXPERIÊNCIA PESSOAL E PROJETO ARTÍSTICO, NA MEDIDA EM QUE PROPÕE E MOSTRA A INTERSECÇÃO EXISTENTE ENTRE ESSAS EXPERIÊNCIAS, HAVENDO TAMBÉM, DE FORMA MAIS OU MENOS EXPLÍCITA, A VALORIZAÇÃO DESSA INTERSECÇÃO. <br />
<br />
SÉTIMA AULA <br />
<br />
ELES MARCAM ENCONTRO E ELE FALTA - COMEÇAM OS DESENTENDIMENTOS ENTRE OS DOIS, ELES CONVERSAM SOBRE REDEFINIÇÃO DE RELACIONAMENTO. <br />
<br />
OITAVA AULA <br />
<br />
DESENTENDIMENTOS CONTINUAM, EVOLUEM: <br />
PABLO DIZ: “ISSO(A MISTURA ENTRE ASSUNTOS PESSOAIS E PROFISSIONAIS) PODE DESTRUIR TUDO” <br />
ELE RESPONDE `A DISCRETA AGRESSÃO DE SALLY EM INGLÊS. <br />
<br />
ELE PERGUNTA SE ELA ENTENDEU. <br />
OS DESENTENDIMENTOS E A TEMÁTICA DA CENA(ASSUNTOS PROFISSIONAIS X PESSOAIS) SÃO MARCADAS, TAMBÉM, POR ESSE ELEMENTO, ISTO É, A ALTERNÂNCIA DE IDIOMAS. <br />
<br />
NONA AULA <br />
<br />
DESENTENDIMENTOS SE ACENTUAM: <br />
ELES DANÇAM E FALAM SOBRE CIÚME <br />
<br />
OS DESENTENDIMENTOS CHEGAM AO ÁPICE, HAVENDO TROCA DE ACUSAÇÕES E REVELAÇÕES SOBRE OS MOTIVOS OCULTOS DAS PERSONAGENS: <br />
<br />
PABLO <br />
<br />
-VOCÊ ME USOU PARA REALIZAR SUA PEQUENA FANTASIA! <br />
<br />
SALLY <br />
-VOCÊ ME USOU PORQUE QUERIA APARECER NO FILME E VIRAR UM ASTRO! <br />
<br />
ESSAS SÃO VERDADES RELATIVAS QUE SÃO EXAGERADAS PELA EMOÇÃO DAS PERSONAGENS, QUE AS DIZEM EM TOM DE ACUSAÇÃO. <br />
<br />
DÉCIMA AULA <br />
<br />
COMEÇAM AS REFERÊNCIAS MÍTICAS <br />
EXISTE UMA REFERÊNCIA MÍTICA(TAMBÉM PARALELISMO) NA HISTÓRIA CONTADA POR SALLY PARA PABLO(ELA MANDA UMA CARTA PARA PABLO E NARRA UMA HISTÓRIA BÍBLICA EM VOZ OVER), QUE COINCIDE COM A RECONCILIAÇÃO ENTRE OS 2, FORNECENDO UM INTERESSANTE CONTRASTE “MÁGICO”ENTRE AS 2 SITUAÇÕES - BRIGA X RECONCILIAÇÃO - QUE VALORIZA A SITUAÇÃO DE RECONCILIAÇÃO. DEPOIS DISSO, UM CHAMADO `A AVENTURA FEITO POR SALLY A PABLO: “EU SEGUI VOCÊ NO TANGO. NO FILME VOCÊ PRECISA ME SEGUIR”. <br />
HÁ TAMBÉM UMA ESPÉCIE DE BATISMO NA ÁGUA : OS DOIS ESTÃO EM UMA FONTE, OS 2 PASSAM AS MÃOS NA ÁGUA E PABLO SUBMERGE. SALLY TAMBÉM ESTÁ ENTRANDO EM UMA AVENTURA, PORÉM, É UMA AVENTURA PELA QUAL ELA JÁ PASSOU OUTRAS VEZES, ENQUANTO PABLO ESTÁ COMEÇANDO A VIVÊ-LA, DAÍ O ENFOQUE MAIOR À PERSONAGEM PABLO. <br />
(TODA ESSA SEQUÊNCIA CONTÉM ESSA IDÉIA DE VALORIZAÇÃO MÁGICA EXPLICADA ACIMA, QUE SERVE, TAMBÉM, PARA VALORIZAR A TRANSIÇÃO DA NARRATIVA E A DIFERENCIA DO SIMPLES "PRESENTE MÁGICO", RECURSO QUE CORRESPONDERIA APENAS À CARTA CONTENDO A HISTÓRIA BÍBLICA). <br />
<br />
DÉCIMA-PRIMEIRA AULA <br />
<br />
OS 2 BRIGAM E HÁ UM CONFLITO DE PODER <br />
ELE COMO MESTRE DE TANGO, NÃO ACEITA A LIDERANÇA DE SALLY(RECUSA DO CHAMADO À AVENTURA). <br />
<br />
DÉCIMA-SEGUNDA AULA <br />
<br />
“PRECISAMOS CUIDAR DE NOSSA RAINHA”, ESSA FRASE, ALÉM DE MARCAR MAIS UMA REFERÊNCIA MÍTICA, MARCA A ACEITAÇÃO DA LIDERANÇA DE SALLY POR PARTE DE PABLO.NOTE-SE QUE ESSA FRASE É DITA POR UM DOS INSTRUTORES DE TANGO(AMIGO DE PABLO E SALLY-VER TERCEIRA AULA)E NÃO PELO PRÓPRIO PABLO.OCORRE AQUI UMA TRANSFERÊNCIA DE SIGNIFICADO: UMA PERSONAGEM (PLANA) CUJO ATO SE REFERE A <br />
UM SIGNIFICADO PERTENCENTE A OUTRA(PABLO): A BUSCA DE SOLUÇÕES MENOS ÓBVIAS E DE MAIOR CONCISÃO. <br />
<br />
AGORA, OS 2 ESTÃO EM UMA IGREJA JUDAICA.SAEM E PASSEIAM POR UMA PAISAGEM <br />
<br />
REFERÊNCIAS MÍTICAS: O SIGNIFICADO E A ORIGEM <br />
<br />
POR QUE OS 2 SE CONHECERAM(?) : “QUERO SABER PORQUE NOS CONHECEMOS.NÃO ME SINTO EM CASA NEM AQUI NEM NA FRANÇA. TENHO MEDO DE DESAPARECER SEM DEIXAR RASTRO”. <br />
<br />
EXISTE UMA GRANDE IDENTIFICAÇÃO(ATENTE PARA A ÚLTIMA FRASE DE SALLY) ENTRE OS PERSONAGENS E UM CARÁTER DE DESENRAIZAMENTO CONTIDO NESSA FRASE QUE ASSOCIA A SITUAÇÃO DOS DOIS `A SUA ORIGEM JUDAICA(REFERÊNCIA `A DIASPÓRA, ESSA CONDIÇÃO/SENSAÇÃO,EMBORA EXISTA HOJE UM ESTADO NACIONAL JUDEU, OCORREU DURANTE MUITO TEMPO E MESMO APÓS A CRIAÇÃO DESSE ESTADO ESSA SENSAÇÃO DE DESENRAIZAMENTO PERSISTE ENTRE MUITOS JUDEUS. ESSE ELEMENTO JÁ APARECE COMO ÍNDICE OCULTO NA PRESENÇA DOS TRÊS IDIOMAS QUE ENVOLVEM A COMUNICAÇÃO DOS PROTAGONISTAS. <br />
<br />
*METALINGUAGEM – O AUTOR REFLETE SOBRE A PRÓPRIA OBRA: EM ALGUNS MOMENTOS DO FILME, A DIRETORA/ ATRIZ/ ROTEIRISTA REALIZA ESSE COMENTÁRIO, CONSCIENTIZANDO OS ESPECTADORES. PRIMEIRO NA CENA DOS SAPATOS(TERCEIRA AULA): SALLY DÁ UM SORRISO QUANDO SEUS MESTRES(E TAMBÉM GUARDIÃES DE LIMIAR) NAQUELE MOMENTO, LHE DIZEM QUE ELA TEM QUE COMPRAR SAPATOS NOVOS(REFERÊNCIA SIMBÓLICA À SITUAÇÃO MOSTRADA NA AULA ANTERIOR); SEGUNDO, QUANDO O AMIGO DE PABLO E SALLY DIZ: “PRECISAMOS CUIDAR DE NOSSA RAINHA”: ELES SORRIEM E OLHAM PARA A CÂMERA DE SOSLAIO. <br />
TERCEIRO, QUANDO ELA ESTÁ FALANDO COM PABLO, JÁ NO FINAL DO FILME. ELA DIZ: “ESTAMOS FAZENDO ASSIM MESMO”(COM REFERÊNCIA À REALIZAÇÃO DO FILME DENTRO DO FILME) E SORRI. <br />
<br />
QUAL É O PROBLEMA DO FILME? APESAR DE A ROTEIRISTA DEMONSTRAR DOMÍNIO SOBRE AS TÉCNICAS DE ROTEIRO, JÁ QUE FAZ USO HÁBIL DOS ELEMENTOS DE RETÓRICA(COMO EXEMPLOS, CITO A ANTÍTESE QUE APARECE LOGO NO INÍCIO - IMAGINAÇÃO X REALIDADE E O CONTRASTE MÁGICO), <br />
ASSIM COMO DE REFERÊNCIAS MÍTICAS E DE DIÁLOGOS CONCISOS, É A PREVISIBILIDADE QUE MARCA O FILME.PARADOXALMENTE, <br />
APESAR DESSA PREVISIBILIDADE, PRESENTE AO LONGO DO FILME, ELA GUARDA A SURPRESA DE SEU FINAL OCULTO, QUE NÃO É PERCEBIDO POR TODOS MAS QUE SE FAZ PRESENTE NO ENIGMA DO COMEÇO, NA REITERAÇÃO DO ENIGMA E NA REVELAÇÃO FINAL: A DIÁSPORA. </span>Jorge Lobohttp://www.blogger.com/profile/08854290252708162115noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3101835431565597778.post-69933844030422480792010-09-26T12:01:00.000-07:002010-09-26T12:04:15.009-07:00CRÍTICA DO FILME "A NOITE AMERICANA"<h3 style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><u><span style="font-size: small;">A Noite Americana, de François Truffaut<span style="mso-fareast-font-family: "Arial Unicode MS";"></span></span></u></h3><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><br />
</div><h4 style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana;">Por Jorge Lobo </span></h4><h4 style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana;"><span style="mso-bidi-font-weight: bold;"></span></span> </h4><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEji44yX1SX0e7G6YNa6tXNO7XuIfSObUSLSM6rOTOHXlPncO0iOcgXjU3_F_5Aak0mKLg_6ZE84Isgwi2liNhk7N-dAkOCwmUPcZm7j5-ewer42V1KWQnl7v9WfDTnzv0m8tR-a4KFEcIJM/s1600/noite-americana01.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="306" px="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEji44yX1SX0e7G6YNa6tXNO7XuIfSObUSLSM6rOTOHXlPncO0iOcgXjU3_F_5Aak0mKLg_6ZE84Isgwi2liNhk7N-dAkOCwmUPcZm7j5-ewer42V1KWQnl7v9WfDTnzv0m8tR-a4KFEcIJM/s320/noite-americana01.jpg" width="320" /></a></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoBodyText" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">“A Noite Americana”, filme de François Truffaut, nega a essência de seu próprio cinema.Um cinema voltado para o prazer foi o que Truffaut buscou ao longo de quase toda a sua obra, com exceção de poucos filmes e A Noite Americana é uma dessas exceções.</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoBodyText" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">O filme conta a história de uma filmagem, isto é, o filme dentro do filme, e é competente.Só isso.E só competente é muito pouco para um filme de Truffaut. Os pequenos dramas vividos pelas personagens do filme são incapazes de cativar os espectadores que se acostumaram a assistir filmes melhores, mais densos ou com humor muito mais bem dosado do cineasta francês.Pode-se citar vários filmes dele muito mais bem estruturados do que A Noite Americana: a Mulher do Lado, O Amor em Fuga, Atire no Pianista, O Último Metrô, Beijos Proibidos, etc. O dia a dia de uma filmagem, os problemas com os atores, com o cronograma de filmagem, com os imprevistos de várias ordens, é muito pouco para cativar o interesse do espectador, e ainda mais do espectador comum, quer dizer, o espectador que não é cineasta ou estudante de cinema.Excepcionalmente bem filmado, A Noite Americana prova que só virtuosismo não é garantia de um bom filme.O desempenho dos atores é muito bom mas o roteiro decepciona. Truffaut interpreta a si mesmo: um cineasta na luta para concluir seu filme.Para isso, conta com uma equipe de maquiadores, atores, contra-regras, dublês, fotógrafos, etc. A personagem interpretada por Jacqueline Bisset interpreta a protagonista do filme dentro do filme.Uma história trágica é contada: a namorada do filho acaba se apaixonando pelo pai de seu namorado, “uma pálida sombra de seu pai.”. Amargurado, a personagem interpretada por Jean Pierre Leaud decide matar seu pai.O ator que interpreta o pai acaba morrendo também na “vida real”, o que traz problemas sérios para Bertrand, o diretor. Já a personagem de Leaud, vive agarrado com a contra-regra, sua namorada que acaba abandonando Leaud por causa de um dublê inglês do filme, o que provoca o desespero de Leaud e sua tentativa de abandonar as filmagens.Julie(Bisset) decide consolá-lo e transa com ele para impedi-lo de abandonar o filme. Aí, quem acaba sofrendo é Bisset, pois o marido dela descobre tudo, trazendo o remorso para a alma de Julie. Enfim, nada de muito interessante. Truffaut chega a mostrar a repetição de várias tomadas de uma mesma cena.Fica a pergunta: o que isso traz de interessante para o espectador?Pra quem se interessa pelo processo de feitura de um filme é interessante mas e o resto dos espectadores?Truffaut nos nega o prazer e o prazer de um bom filme não está somente nas comédias.Histórias agri-doces, quando são bem contadas, trazem muito prazer.Tragédias trazem muito prazer através da catarse, a purificação dos sofrimentos.Enfim, qualquer filme, quando conta ao menos com um bom roteiro e um bom diretor, acaba dando prazer. Negar a essência de seu próprio cinema para mostrar virtuosismo e o processo de feitura de um filme só faz com que A Noite Americana seja decepcionante.</div>Jorge Lobohttp://www.blogger.com/profile/08854290252708162115noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3101835431565597778.post-37391637660835107892010-09-19T16:33:00.000-07:002010-09-22T17:46:17.849-07:00O QUE É CRIATIVIDADE?<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div><span style="font-family: Verdana; font-size: xx-small;"><br />
<span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: small;">"Criatividade é um atributo dos sistemas sociais que fazem julgamento sobre os indivíduos. A criatividade é o produto da interação entre três subsistemas: o domínio, a pessoa e o campo. O domínio representa a cultura onde um determinado comportamento tem lugar. O campo é composto por indivíduos que conhecem as regras do domínio e que decidem se o desempenho do indivíduo é criativo ou não. A pessoa é o indivíduo que assimilou as regras do domínio, encontrando-se pronto para imprimir no campo suas variações individuais." (Czikszentmihalyi, 1988) <br />
<br />
<br />
"Criatividade é o processo de fazer e comunicar conexões significativas e novas para nos ajudar a pensar muitas possibilidades; para nos ajudar a pensar e experienciar de várias formas, usando diferentes pontos de vista; para nos ajudar a pensar novas e inusitadas possibilidades; e para nos guiar no processo de gerar e selecionar alternativas." (Isaksen & Treffinger, 1985) </span></span>Jorge Lobohttp://www.blogger.com/profile/08854290252708162115noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3101835431565597778.post-15108708801737173402010-09-19T16:23:00.001-07:002010-09-19T16:47:20.238-07:00FORMA E CONTEÚDO<span style="font-family: Verdana; font-size: xx-small;"><br />
<span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: small;">O sr. K observava uma pintura na qual alguns objetos tinham uma forma bem arbitrária. Ele disse: <br />
“A alguns artistas acontece, quando observam o mundo, o mesmo que aos filósofos. Na preocupação com a forma se perde o conteúdo.Certa vez trabalhei com um jardineiro. Ele me passou uma tesoura e me disse para cortar um loureiro. A árvore ficava num vaso e era alugada para festas. Por isso tinha que ter a forma de uma bola.Comecei imediatamente a cortar os brotos selvagens, mas não conseguia atingir a forma de uma bola, por mais que me esforçasse.Uma vez tirava demais de um lado, outra vez de outro. Quando finalmente ela havia se tornado uma bola, esta era pequena demais. O jardineiro falou, decepcionado: “Certo, isto é uma bola, mas onde está o loureiro?”. <br />
<br />
Bertolt brecht, "Histórias do Sr. Keuner" </span></span>Jorge Lobohttp://www.blogger.com/profile/08854290252708162115noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3101835431565597778.post-81419382494554490762010-09-19T16:06:00.000-07:002010-09-19T16:10:20.825-07:00CENA DE PREPARAÇÃO E CONSEQUÊNCIA POR CONTRASTE<span style="font-family: Verdana;"><u>CENA DE PREPARAÇÃO E CONSEQUÊNCIA POR CONTRASTE </u></span><br />
<br />
<br />
<span style="font-family: Verdana;">Neste tipo de cena, você vai instilando ao espectador uma expectativa emocional oposta aos efeitos que a próxima cena dramática provocará. Por exemplo em "KRAMER vs KRAMER", Ted Kramer chega em casa depois de "uns dos cinco melhores dias de sua vida" e encontra a mulher pronta para abandoná-lo e deixá-lo com o filho. <br />
<br />
Fonte: "Teoria e prática do roteiro", David Howard e Edward Mabley </span>Jorge Lobohttp://www.blogger.com/profile/08854290252708162115noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3101835431565597778.post-64132573086826792532010-09-19T14:54:00.000-07:002010-10-03T12:46:44.078-07:00ARGUMENTO DO FILME "AMNÉSIA", DE CHRISTOPHER NOLAN<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKP1OOD6BFKOCDW4pmZIHTHImQZip-SnLX3Re-Nww9Gz-bSm2gc1unoKvhnYvBB9F0qVqXL41U7C-kwBsoZAb0Jz_4UKc8shmXeKbS1Ww7gZBo5ZHcuFRWWO46ZR5BuSyJrEjzR0ctQhm9/s1600/MEMENTO.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" qx="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKP1OOD6BFKOCDW4pmZIHTHImQZip-SnLX3Re-Nww9Gz-bSm2gc1unoKvhnYvBB9F0qVqXL41U7C-kwBsoZAb0Jz_4UKc8shmXeKbS1Ww7gZBo5ZHcuFRWWO46ZR5BuSyJrEjzR0ctQhm9/s320/MEMENTO.jpg" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Guy Pearce em AMNÉSIA, de Christopher Nolan</td></tr>
</tbody></table>ARGUMENTO DO FILME "AMNÉSIA"( "MEMENTO" ), DE CHRISTOPHER NOLAN <br />
<br />
MEMENTO MORI(“LEMBRA QUE MORRERÁS”) <br />
<br />
POR JONATHAN NOLAN <br />
<br />
"O QUE COMO UMA BALA PODE DESENGANAR!" <br />
- HERMAN MELVILLE <br />
<br />
SUA MULHER SEMPRE COSTUMAVA DIZER QUE VOCÊ CHEGARIA ATRASADO A SEU PRÓPRIO FUNERAL. LEMBRA-SE DISSO? A PIADINHA DELA POR VOCÊ SER TÃO LERDO -SEMPRE ATRASADO, SEMPRE ESQUECENDO COISAS, MESMO ANTES DO INCIDENTE. <br />
NESTE MOMENTO VOCÊ PROVAVELMENTE SE INDAGA SE CHEGOU ATRASADO AO DELA. <br />
VOCÊ ESTEVE LÁ, DISSO PODE TER CERTEZA. É PARA ISSO QUE SERVE A FOTO -AQUELA, PREGADA À PAREDE AO LADO DA PORTA. NÃO É USUAL TIRAR FOTOS EM UM FUNERAL, MAS ALGUÉM, SEUS MÉDICOS, SUPONHO, SABIAM QUE VOCÊ NÃO SE LEMBRARIA. ELES A AMPLIARAM BASTANTE E A PUSERAM BEM AÍ, PRÓXIMA À PORTA, DE FORMA QUE VOCÊ NÃO PUDESSE DEIXAR DE OLHÁ-LA SEMPRE QUE SE LEVANTASSE PARA PROCURÁ-LA. <br />
O CARA NA FOTO, ESSE COM AS FLORES? É VOCÊ. E O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO? ESTÁ LENDO A LÁPIDE, TENTANDO DESCOBRIR DE QUEM É O FUNERAL EM QUE ESTÁ, DA MESMA FORMA QUE VOCÊ A ESTÁ LENDO AGORA, TENTANDO DESCOBRIR POR QUE ALGUÉM PÔS A FOTO PRÓXIMA À PORTA. MAS POR QUE SE PREOCUPAR EM LER ALGO DE QUE VOCÊ NÃO LEMBRARÁ? <br />
ELA SE FOI, FOI PARA SEMPRE, E VOCÊ DEVE ESTAR SOFRENDO NESTE INSTANTE, AO OUVIR A NOTÍCIA. ACREDITE EM MIM, SEI COMO VOCÊ SE SENTE. VOCÊ DEVE ESTAR UM DESASTRE. MAS DÊ UNS CINCO MINUTOS, TALVEZ DEZ. TALVEZ VOCÊ POSSA SEGUIR POR TODA UMA MEIA HORA ANTES DE ESQUECER. <br />
MAS VOCÊ ESQUECERÁ -EU GARANTO. MAIS ALGUNS MINUTOS E VOCÊ SE DIRIGIRÁ À PORTA PROCURANDO-A NOVAMENTE, DESABANDO QUANDO ENCONTRAR A FOTO. QUANTAS VEZES VOCÊ PRECISA OUVIR A NOTÍCIA ATÉ QUE ALGUMA OUTRA PARTE DE SEU CORPO QUE NÃO ESSE SEU CÉREBRO ARREBENTADO COMECE A LEMBRAR? <br />
DESGOSTO INFINITO, RAIVA INFINITA. INÚTEIS SEM DIREÇÃO. TALVEZ VOCÊ NÃO POSSA ENTENDER O QUE ACONTECEU. NÃO POSSO DIZER QUE ENTENDO, TAMBÉM. AMNÉSIA REVERSA. É ISSO QUE DIZ O AVISO. DOENÇA DE CRS. SEU CHUTE VALE TANTO QUANTO O MEU. <br />
TALVEZ VOCÊ NÃO POSSA ENTENDER O QUE LHE ACONTECEU. MAS VOCÊ SE LEMBRA DO QUE ACONTECEU COM ELA, NÃO? OS MÉDICOS NÃO QUEREM FALAR A RESPEITO. NÃO RESPONDEM ÀS MINHAS PERGUNTAS. NÃO ACHAM CERTO QUE UM HOMEM EM SUAS CONDIÇÕES OUÇA ESSAS COISAS. MAS VOCÊ SE LEMBRA DO SUFICIENTE, NÃO? LEMBRA-SE DO ROSTO DELA. <br />
É POR ISSO QUE ESTOU ESCREVENDO A VOCÊ. FÚTIL, TALVEZ. NÃO SEI QUANTAS VEZES VOCÊ TERÁ QUE LER ISSO ANTES DE ME ESCUTAR. NÃO SEI NEM MESMO HÁ QUANTO TEMPO VOCÊ ESTÁ TRANCADO NESSE QUARTO. VOCÊ TAMBÉM NÃO SABE. MAS A SUA VANTAGEM EM ESQUECER É QUE VOCÊ SE ESQUECERÁ DE SE ASSUMIR COMO UMA CAUSA PERDIDA. <br />
MAIS CEDO OU MAIS TARDE VOCÊ VAI QUERER FAZER ALGO A RESPEITO. E, QUANDO O FIZER, TERÁ DE CONFIAR EM MIM, PORQUE SOU O ÚNICO QUE PODE AJUDÁ-LO. <br />
EARL ABRE UM OLHO DEPOIS DO OUTRO PARA VER UMA FAIXA DE AZULEJOS BRANCOS NO TETO, INTERROMPIDA POR UM AVISO ESCRITO À MÃO COLADO BEM SOBRE A SUA CABEÇA, GRANDE O SUFICIENTE PARA QUE ELE POSSA LÊ-LO DA CAMA. <br />
UM RÁDIO-RELÓGIO ESTÁ TOCANDO EM ALGUM LUGAR. ELE LÊ O AVISO, PISCA, LÊ NOVAMENTE E ENTÃO DÁ UMA OLHADA NO QUARTO. É BRANCO, AVASSALADORAMENTE BRANCO, DESDE AS PAREDES E CORTINAS AO MOBILIÁRIO INSTITUCIONAL E AOS LENÇÓIS. O RÁDIO-RELÓGIO TOCA DE CIMA DA MESA BRANCA SOB A JANELA COM CORTINAS BRANCAS. NESTE MOMENTO, EARL PROVAVELMENTE PERCEBE QUE ESTÁ DEITADO SOBRE SEU EDREDOM BRANCO. ELE JÁ ESTÁ USANDO SEU ROUPÃO E CHINELOS. <br />
ELE SE DEITA E LÊ NOVAMENTE O AVISO COLADO AO TETO. ELE DIZ, EM MAIÚSCULAS CRUAS: "ESTE É O SEU QUARTO. É UM QUARTO EM UM HOSPITAL. É AQUI QUE VOCÊ MORA, AGORA". <br />
EARL SE LEVANTA E OLHA EM VOLTA. O QUARTO É GRANDE PARA UM QUARTO DE HOSPITAL -UM LINÓLEO VAZIO SE ESTENDE DA CAMA EM TRÊS DIREÇÕES. DUAS PORTAS E UMA JANELA. A VISTA TAMBÉM NÃO AJUDA MUITO -ALGUMAS ÁRVORES NO CENTRO DE UM GRAMADO BEM APARADO QUE TERMINA EM UMA BIFURCAÇÃO DE ASFALTO COM DUAS FAIXAS DE LARGURA. AS ÁRVORES, À EXCEÇÃO DOS PINHEIROS, ESTÃO NUAS -COMEÇO DA PRIMAVERA OU FINAL DO OUTONO OU UM OU OUTRO. <br />
CADA CENTÍMETRO DA MESA ESTÁ COBERTO COM "POST-ITS", BLOCOS DE PAPEL, LISTAS BASTANTE ORGANIZADAS, MANUAIS DE REFERÊNCIA DE PSICOLOGIA, FOTOS EMOLDURADAS. EM CIMA DA BAGUNÇA HÁ ALGUMAS PALAVRAS CRUZADAS FEITAS PELA METADE. O RÁDIO-RELÓGIO CAVALGA UMA PILHA DE JORNAIS DOBRADOS. EARL BATE NO BOTÃO "SNOOZE" E PEGA UM CIGARRO DO MAÇO COLADO COM FITA ADESIVA À MANGA DE SEU ROUPÃO. ELE APALPA OS BOLSOS VAZIOS DE SEU PIJAMA À PROCURA DE FOGO. VASCULHA PAPÉIS SOBRE A MESA, OLHA RAPIDAMENTE DENTRO DAS GAVETAS. FINALMENTE ENCONTRA UMA CAIXA DE FÓSFOROS COLADA À PAREDE AO LADO DA JANELA. OUTRO AVISO ESTÁ COLADO LOGO ACIMA DA CAIXA DE FÓSFOROS. <br />
ELE DIZ, EM LETRAS AMARELAS BERRANTES: "CIGARRO? PROCURE ALGUM ACESO ANTES, ESTÚPIDO". <br />
EARL RI DO AVISO, ACENDE O CIGARRO E DÁ UMA LONGA TRAGADA. COLADA À JANELA DIANTE DELE ESTÁ OUTRA FOLHA DE FICHÁRIO INTITULADA "SEU HORÁRIO". <br />
O HORÁRIO PLANEJA AS HORAS, CADA HORA, EM BLOCOS: DAS 22H ÀS 8H DIZ "VOLTE A DORMIR". EARL OLHA O RÁDIO-RELÓGIO: 8H15. PELA LUZ LÁ FORA, DEVE SER DE MANHÃ. ELE CHECA O RELÓGIO DE PULSO: 10H30. ENCOSTA O RELÓGIO NO OUVIDO E ESCUTA. DÁ DUAS OU TRÊS VOLTAS DE CORDA E O AJUSTA COM O RÁDIO-RELÓGIO. <br />
DE ACORDO COM O HORÁRIO, TODO O BLOCO DAS 8H ÀS 8H30 DIZ "ESCOVE OS DENTES". EARL RI NOVAMENTE E CAMINHA ATÉ O BANHEIRO. <br />
A JANELA DO BANHEIRO ESTÁ ABERTA. ENQUANTO SACODE OS BRAÇOS PARA SE AQUECER, ELE NOTA O CINZEIRO NO PARAPEITO. UM CIGARRO ESTÁ APOIADO NO CINZEIRO, QUEIMANDO CONTINUAMENTE E DEIXANDO UM LONGO DEDO DE CINZA. ELE FRANZE A TESTA, APAGA A BITUCA VELHA E A SUBSTITUI PELO NOVO CIGARRO. <br />
A ESCOVA DE DENTES JÁ ESTÁ COM UMA PASTA BRANCA. A TORNEIRA É DE APERTAR -UMA DOSE DE ÁGUA A CADA PRESSÃO. EARL EMPURRA A ESCOVA CONTRA A BOCHECHA E A MEXE PARA A FRENTE E PARA TRÁS ENQUANTO ABRE O ARMÁRIO DO ESPELHO. AS PRATELEIRAS ESTÃO PLENAS DE EMBALAGENS DE DOSE ÚNICA DE VITAMINAS, ASPIRINAS, ANTIDIURÉTICOS. O COLUTÓRIO TAMBÉM É EM DOSE ÚNICA, UMA DOSE DE LÍQUIDO AZUL EM UMA GARRAFA PLÁSTICA LACRADA. SÓ A PASTA DE DENTES É DE TAMANHO NORMAL. EARL COSPE A PASTA DA BOCA E A SUBSTITUI PELO COLUTÓRIO. AO GUARDAR A ESCOVA AO LADO DA PASTA, ELE PERCEBE UM PEQUENINO PAPEL COLOCADO ENTRE A PRATELEIRA DE VIDRO E O FUNDO METÁLICO DO ARMÁRIO. ELE COSPE O FLUIDO AZUL AGUADO NA PIA E PRESSIONA O BOTÃO PARA ENXAGUÁ-LO. ELE FECHA O ARMÁRIO E SORRI PARA SEU REFLEXO NO ESPELHO. <br />
"QUEM PRECISA DE MEIA HORA PARA ESCOVAR OS DENTES?" <br />
O PAPEL FOI DOBRADO E REDUZIDO A UM TAMANHO MINÚSCULO COM TODA A PRECISÃO DE UM BILHETE DE AMOR DE UMA CRIANÇA DA SEXTA SÉRIE. NELE ESTÁ ESCRITO: <br />
"SE VOCÊ AINDA PODE LER ISTO, ENTÃO VOCÊ É UMA PORRA DE UM COVARDE". <br />
EARL FITA PERPLEXO O PAPEL E ENTÃO O LÊ NOVAMENTE. ELE O VIRA. ATRÁS ESTÁ ESCRITO: <br />
"PS: DEPOIS DE LER ISTO, ESCONDA-O NOVAMENTE". <br />
EARL LÊ AMBOS OS LADOS NOVAMENTE E ENTÃO DOBRA-O NOVAMENTE E O GUARDA SOB A PASTA DE DENTES. <br />
TALVEZ ENTÃO ELE PERCEBA A CICATRIZ. ELA COMEÇA LOGO ABAIXO DA ORELHA, SINUOSA E GROSSA, E DESAPARECE ABRUPTAMENTE SOB O SEU CABELO. EARL VIRA A CABEÇA E ACOMPANHA COM O CANTO DO OLHO O AVANÇO DA CICATRIZ. ELE A SEGUE COM A PONTA DO DEDO E ENTÃO OLHA PARA BAIXO, PARA O CIGARRO QUEIMANDO NO CINZEIRO. UM PENSAMENTO O DOMINA E ELE CORRE PARA FORA DO BANHEIRO. <br />
ELE É PEGO NA PORTA DE SEU QUARTO, UMA MÃO SOBRE A MAÇANETA. DUAS FOTOS ESTÃO COLADAS À PAREDE AO LADO DA PORTA. O QUE CHAMA PRIMEIRO A ATENÇÃO DE EARL É A RESSONÂNCIA MAGNÉTICA, UMA MOLDURA PRETA BRILHANTE PARA QUATRO JANELAS NO CRÂNIO DE ALGUÉM. COM CANETA MARCA-TEXTO A FIGURA FOI INTITULADA "SEU CÉREBRO". EARL A FITA. CÍRCULOS CONCÊNTRICOS DE DIFERENTES CORES. ELE CONSEGUE DISTINGUIR OS GRANDES GLOBOS QUE SÃO SEUS OLHOS E, ATRÁS DELES, OS DOIS LOBOS DE SEU CÉREBRO. RUGAS MACIAS, CÍRCULOS, SEMICÍRCULOS. MAS BEM LÁ NO MEIO DE SUA CABEÇA, CIRCULADO COM MARCA-TEXTO, SE AFUNILANDO DESDE SUA NUCA COMO UM VERME EM UM DAMASCO, ESTÁ ALGO DIFERENTE. DEFORMADO, QUEBRADO, MAS INEQUÍVOCO. UMA MANCHA ESCURA, NO FORMATO DE UMA FLOR, BEM NO MEIO DE SEU CÉREBRO. <br />
ELE SE ABAIXA PARA OLHAR A OUTRA FOTO. É A FOTO DE UM HOMEM SEGURANDO FLORES, EM PÉ AO LADO DE UM TÚMULO RECENTE. O HOMEM ESTÁ ABAIXADO, LENDO A LÁPIDE. POR UM MOMENTO ISSO PARECE UMA SALA DE ESPELHOS OU O COMEÇO DE UM DESENHO DO INFINITO: UM HOMEM ABAIXADO, OLHANDO PARA O HOMEM MENOR, ABAIXADO, LENDO A LÁPIDE. EARL OLHA A FOTO POR UM LONGO TEMPO. TALVEZ ELE COMECE A CHORAR. TALVEZ ELE SÓ ENCARE SILENCIOSAMENTE A FOTO. POR FIM ELE VOLTA À CAMA, SE JOGA, FECHA BEM OS OLHOS, TENTA DORMIR. <br />
O CIGARRO QUEIMA CONTINUAMENTE NO BANHEIRO. UM CIRCUITO NO RÁDIO-RELÓGIO TERMINA DE CONTAR ATÉ DEZ E ELE COMEÇA A TOCAR DE NOVO. <br />
EARL ABRE UM OLHO DEPOIS DO OUTRO PARA VER UMA FAIXA DE AZULEJOS BRANCOS NO TETO, INTERROMPIDA POR UM AVISO ESCRITO À MÃO COLADO BEM SOBRE A SUA CABEÇA, GRANDE O SUFICIENTE PARA QUE ELE POSSA LÊ-LO DA CAMA. <br />
VOCÊ NÃO PODE MAIS TER UMA VIDA NORMAL. VOCÊ PRECISA SABER DISSO. COMO VOCÊ PODE TER UMA NAMORADA, SE NÃO PUDER LEMBRAR O NOME DELA? TAMBÉM NÃO PODE TER FILHOS, SE NÃO QUISER QUE ELES CRESÇAM COM UM PAI QUE NÃO OS RECONHECE. COM CERTEZA NÃO PODE TER UM EMPREGO. NÃO HÁ MUITAS PROFISSÕES POR AÍ QUE VALORIZEM O ESQUECIMENTO. PROSTITUIÇÃO, TALVEZ. POLÍTICA, COM CERTEZA. <br />
NÃO. SUA VIDA ACABOU. VOCÊ É UM HOMEM MORTO. A ÚNICA COISA QUE OS MÉDICOS ESPERAM FAZER É ENSINÁ-LO A SER MENOS ONEROSO AOS ENFERMEIROS. E PROVAVELMENTE NUNCA O DEIXARÃO IR PARA CASA, ONDE QUER QUE ISSO SEJA. <br />
ENTÃO A PERGUNTA NÃO É "SER OU NÃO SER", PORQUE VOCÊ NÃO É. A PERGUNTA É SE VOCÊ QUER FAZER ALGO A RESPEITO. SE VINGANÇA IMPORTA PARA VOCÊ. <br />
IMPORTA PARA A MAIORIA DAS PESSOAS. POR ALGUMAS SEMANAS ELAS PLANEJAM, ESQUEMATIZAM, FAZEM O NECESSÁRIO PARA IGUALAR O PLACAR. MAS A PASSAGEM DO TEMPO É TUDO O QUE É NECESSÁRIO PARA ERODIR ESSE IMPULSO INICIAL. TEMPO É FURTO, NÃO É O QUE DIZEM? E O TEMPO EVENTUALMENTE CONVENCE A MAIORIA DE NÓS DE QUE O PERDÃO É UMA VIRTUDE. CONVENIENTEMENTE, A COVARDIA E O PERDÃO PARECEM IDÊNTICOS DE UMA CERTA DISTÂNCIA. O TEMPO ROUBA A SUA CORAGEM. <br />
SE O TEMPO E O MEDO NÃO SÃO SUFICIENTES PARA DISSUADIR AS PESSOAS DA VINGANÇA DELAS, ENTÃO SEMPRE HÁ A AUTORIDADE, BALANÇANDO A CABEÇA LEVEMENTE E DIZENDO: "NÓS ENTENDEMOS, MAS VOCÊ É SUPERIOR POR DEIXAR ISSO PARA LÁ. POR SE ERGUER ACIMA DISSO. POR NÃO AFUNDAR AO NÍVEL DELES". "E ALÉM DISSO", DIZ A AUTORIDADE, "SE VOCÊ TENTAR ALGUMA COISA ESTÚPIDA, NÓS O TRANCAREMOS EM UM QUARTINHO". <br />
MAS ELES JÁ O PUSERAM EM UM QUARTINHO, NÃO É? SÓ QUE NÃO TRANCARAM DE VERDADE NEM O VIGIAM MUITO CUIDADOSAMENTE, PORQUE VOCÊ É ALEIJADO. UM CADÁVER. UM VEGETAL QUE PROVAVELMENTE NÃO SE LEMBRARIA DE COMER OU DE CAGAR SE NÃO HOUVESSE ALGUÉM PARA RECORDÁ-LO. E, QUANTO À PASSAGEM DO TEMPO, BEM, ISSO NÃO SE APLICA MAIS A VOCÊ REALMENTE, NÃO É? SÓ OS MESMOS DEZ MINUTOS, DE NOVO E DE NOVO. ENTÃO COMO VOCÊ PODE PERDOAR, SE NÃO CONSEGUE SE LEMBRAR DE ESQUECER? <br />
VOCÊ DEVIA SER DO TIPO QUE DEIXARIA ISSO PARA TRÁS, NÃO? ANTES. MAS VOCÊ NÃO É O HOMEM QUE COSTUMAVA SER. NEM METADE. VOCÊ É UMA FRAÇÃO. É O HOMEM DEZ-MINUTOS. <br />
É CLARO, A FRAQUEZA É FORTE. É O IMPULSO PRIMÁRIO. VOCÊ PROVAVELMENTE PREFERIRIA SENTAR EM SEU QUARTINHO E CHORAR. VIVER EM SUA FINITA COLEÇÃO DE MEMÓRIAS, POLINDO CADA UMA DELAS CUIDADOSAMENTE. MEIA VIDA PASSADA, ATRÁS DO VIDRO E PREGADA EM CORTIÇA COMO UMA COLEÇÃO DE INSETOS EXÓTICOS. VOCÊ GOSTARIA DE VIVER ATRÁS DESSE VIDRO, NÃO GOSTARIA? PRESERVADO EM FORMOL. <br />
VOCÊ GOSTARIA, MAS NÃO PODE, PODE? NÃO PODE POR CAUSA DA ÚLTIMA PEÇA DE SUA COLEÇÃO. A ÚLTIMA COISA DE QUE VOCÊ SE LEMBRA. O ROSTO DELE. O ROSTO DELE E SUA MULHER, PEDINDO-LHE SUA AJUDA COM OS OLHOS. <br />
E TALVEZ VOCÊ POSSA FICAR COM ISSO QUANDO ACABAR. SUA PEQUENA COLEÇÃO. ELES PODEM TRANCÁ-LO NOVAMENTE EM OUTRO QUARTINHO E VOCÊ PODE VIVER O RESTO DE SUA VIDA NO PASSADO. MAS APENAS SE VOCÊ POSSUIR UM PEDACINHO DE PAPEL EM SUA MÃO QUE DIGA QUE VOCÊ O PEGOU. <br />
VOCÊ SABE QUE ESTOU CERTO. SABE QUE HÁ UM MONTE DE TRABALHO A SER FEITO. PODE PARECER IMPOSSÍVEL, MAS, SE TODOS FIZERMOS A NOSSA PARTE, DESCOBRIREMOS ALGUMA COISA. MAS VOCÊ NÃO TEM MUITO TEMPO. TEM CERCA DE DEZ MINUTOS, NA VERDADE. ENTÃO TUDO RECOMEÇA. PORTANTO, FAÇA ALGO COM O TEMPO QUE TEM. <br />
EARL ABRE OS OLHOS E PISCA NA ESCURIDÃO. O RÁDIO-RELÓGIO ESTÁ TOCANDO. ELE DIZ 3H20, E O LUAR ATRAVÉS DA JANELA SIGNIFICA QUE DEVE SER DE MADRUGADA. EARL TATEIA EM BUSCA DO ABAJUR, QUASE DERRUBANDO-O. UMA LUZ INCANDESCENTE PREENCHE O QUARTO, PINTANDO OS MÓVEIS DE METAL DE AMARELO, AS PAREDES DE AMARELO, TAMBÉM OS LENÇÓIS. ELE SE DEITA E OLHA PARA A FAIXA DE AZULEJOS AMARELOS NO TETO EM CIMA DELE, INTERROMPIDA POR UM AVISO ESCRITO À MÃO COLADO NO TETO. ELE LÊ O AVISO DUAS, TALVEZ TRÊS VEZES E ENTÃO PISCA E OLHA PARA O QUARTO À SUA VOLTA. <br />
É UM QUARTO DESPOJADO. INSTITUCIONAL, TALVEZ. HÁ UMA MESA EMBAIXO DA JANELA. A MESA ESTÁ VAZIA COM EXCEÇÃO DO BARULHENTO RÁDIO-RELÓGIO. EARL PROVAVELMENTE SE DÁ CONTA, NESSE INSTANTE, DE QUE ESTÁ COMPLETAMENTE VESTIDO. ELE ESTÁ ATÉ USANDO SAPATOS, SOB O LENÇOL. ELE SAI DA CAMA E VAI ATÉ A MESA. NADA NA SALA SUGERE QUE ALGUÉM MORE LÁ OU QUE JAMAIS TENHA MORADO, EXCETO UM OU OUTRO PEDAÇO DE FITA ADESIVA COLADO NA PAREDE AQUI E ALI. NENHUMA FOTO, NENHUM LIVRO, NADA. ATRAVÉS DA JANELA ELE PODE VER A LUA CHEIA BRILHANDO NO GRAMADO BEM APARADO. <br />
EARL BATE NO BOTÃO "SNOOZE" DO RÁDIO-RELÓGIO E OLHA POR UM MOMENTO PARA AS DUAS CHAVES PRESAS COM FITA ADESIVA NAS COSTAS DE SUA MÃO. ELE COÇA A FITA ENQUANTO PERSCRUTA DENTRO DAS GAVETAS VAZIAS. NO BOLSO ESQUERDO DO CASACO ELE ENCONTRA UM MAÇO DE NOTAS DE US$ 100 E UMA CARTA EM UM ENVELOPE LACRADO. ELE AVERIGUA O RESTANTE DO QUARTO E O BANHEIRO. PEDAÇOS DE FITA ADESIVA, BITUCAS DE CIGARRO. NADA MAIS. <br />
EARL BRINCA DISTRAIDAMENTE COM O CALOMBO DA CICATRIZ EM SEU PESCOÇO E VOLTA À CAMA. DEITA-SE E OLHA PARA O TETO E PARA O AVISO NELE COLADO. O AVISO DIZ:"LEVANTE-SE, SAIA IMEDIATAMENTE. ESSAS PESSOAS ESTÃO TENTANDO MATÁ-LO". EARL FECHA OS OLHOS. <br />
TENTARAM ENSINÁ-LO A FAZER LISTAS NO PRIMÁRIO, LEMBRA-SE? NA ÉPOCA EM QUE SUA AGENDA ERAM AS COSTAS DA SUA MÃO. E, SE OS SEUS COMPROMISSOS SAÍSSEM NO BANHO, BEM, ELES NÃO SE CUMPRIRIAM. SEM OBJETIVO, DISSERAM. SEM DISCIPLINA. ENTÃO ELES TENTARAM FAZER COM QUE VOCÊ ESCREVESSE TUDO EM UM LUGAR MAIS PERMANENTE. <br />
É CLARO, SEUS PROFESSORES PRIMÁRIOS MOLHARIAM AS CALÇAS DE RIR SE PUDESSEM VÊ-LO AGORA. PORQUE VOCÊ SE TORNOU O PRODUTO EXATO DAS AULAS DE ORGANIZAÇÃO QUE ELES DAVAM. PORQUE VOCÊ NÃO CONSEGUE NEM MIJAR SEM CONSULTAR UMA DE SUAS LISTAS. <br />
ELES TINHAM RAZÃO. LISTAS SÃO A ÚNICA SAÍDA DESSA BAGUNÇA. <br />
EIS A VERDADE: AS PESSOAS, MESMO AS PESSOAS NORMAIS, NUNCA SÃO APENAS UMA PESSOA, COM ALGUMAS CARACTERÍSTICAS. NÃO É SIMPLES ASSIM. ESTAMOS TODOS À MERCÊ DO SISTEMA LÍMBICO, NUVENS DE ELETRICIDADE VAGANDO ATRAVÉS DO CÉREBRO. CADA HOMEM É QUEBRADO EM 24 FRAÇÕES DE UMA HORA E QUEBRADO DE NOVO DENTRO DESSAS 24 FRAÇÕES. É UMA PANTOMIMA DIÁRIA, UM HOMEM CEDENDO O CONTROLE AO PRÓXIMO: OS BASTIDORES LOTADOS DE MEDÍOCRES CLAMANDO POR SUA VEZ SOB OS HOLOFOTES. CADA SEMANA, CADA DIA. O HOMEM RAIVOSO PASSA O BASTÃO AO CALADO, QUE O PASSA AO VICIADO EM SEXO, AO INTROVERTIDO, AO CONVERSADOR. CADA HOMEM É UMA MULTIDÃO, UMA CORRENTE DE IDIOTAS. <br />
ESSA É A TRAGÉDIA DA VIDA. PORQUE POR ALGUNS MINUTOS DE CADA DIA CADA HOMEM SE TORNA UM GÊNIO. MOMENTOS DE LUCIDEZ, INSIGHT, COMO QUISER CHAMAR. AS NUVENS SE ABREM, OS PLANETAS FICAM NUMA LINHAZINHA ORGANIZADA E TUDO SE TORNA ÓBVIO."EU DEVERIA PARAR DE FUMAR", TALVEZ, OU "VEJA SÓ COMO EU PODERIA GANHAR US$ 1 MILHÃO RAPIDAMENTE" OU "ISSO E AQUILO SÃO A CHAVE DA FELICIDADE ETERNA". ESSA É A MISERÁVEL VERDADE. POR ALGUNS INSTANTES, OS SEGREDOS DO UNIVERSO SE ABREM PARA NÓS. A VIDA É UM TRUQUE BARATO DE SALÃO. <br />
MAS ENTÃO O GÊNIO, O "SAVANT”, TEM DE PASSAR OS CONTROLES PARA O PRÓXIMO CARA DA FILA, PROVAVELMENTE O CARA QUE QUER SÓ COMER BATATAS FRITAS, E INSIGHT E BRILHO E SALVAÇÃO SÃO CONFIADOS A UM IMBECIL OU A UM HEDONISTA OU A UM NARCOLÉPTICO. <br />
O ÚNICO JEITO DE SAIR DESSA BAGUNÇA, OBVIAMENTE, É SE ASSEGURAR DE QUE VOCÊ CONTROLA OS IDIOTAS EM QUE VOCÊ SE TORNA. PEGAR A SUA CORRENTE, SEGURÁ-LOS PELA MÃO E OS LIDERAR. E O MELHOR MODO DE FAZÊ-LO É COM UMA LISTA. <br />
É COMO UMA CARTA QUE VOCÊ ESCREVE A SI MESMO. UM PLANO GERAL, DESENHADO PELO CARA QUE PODE VER A LUZ, FEITO DE PASSOS SIMPLES O SUFICIENTE PARA QUE O RESTO DOS IDIOTAS COMPREENDA. SIGA OS PASSOS DE UM A CEM. REPITA O QUANTO FOR NECESSÁRIO. <br />
SEU PROBLEMA É UM POUCO MAIS AGUDO, MAS FUNDAMENTALMENTE O MESMO. <br />
É COMO AQUELA COISA DE COMPUTADOR, A "SALA CHINESA". LEMBRA-SE? UM CARA ESTÁ SENTADO EM UMA SALINHA, ESPALHANDO CARTAS EM QUE ESTÃO ESCRITAS LETRAS QUE ELE NÃO COMPREENDE, COLOCANDO-AS UMA DE CADA VEZ EM UMA SEQUÊNCIA DE ACORDO COM AS INSTRUÇÕES DE OUTRA PESSOA. ELAS DEVERIAM FORMAR UMA PIADA EM CHINÊS. O CARA NÃO FALA CHINÊS, É CLARO. ELE APENAS SEGUE AS INSTRUÇÕES. <br />
HÁ ALGUMAS DIFERENÇAS EM SUA SITUAÇÃO, É CLARO: VOCÊ SAIU DA SALA EM QUE O PUSERAM, ENTÃO TODA A EMPREITADA TEM DE SER PORTÁTIL. E O CARA DANDO AS INSTRUÇÕES -ELE É VOCÊ, TAMBÉM, SÓ QUE UMA VERSÃO ANTERIOR DE VOCÊ. E A PIADA QUE VOCÊ ESTÁ CONTANDO, BEM, ELA TEM UM FINAL. SÓ QUE EU NÃO ACREDITO QUE ALGUÉM VÁ ACHÁ-LO MUITO ENGRAÇADO. <br />
PORTANTO, ESSA É A IDÉIA. TUDO O QUE VOCÊ TEM DE FAZER É SEGUIR SUAS INSTRUÇÕES. COMO SUBIR UMA ESCADA OU DESCER OUTRA. UM PASSO DE CADA VEZ. DESCENDO PELOS ITENS DA LISTA. SIMPLES. <br />
E O SEGREDO, É CLARO, DE QUALQUER LISTA É MANTÊ-LA EM UM LUGAR EM QUE VOCÊ TERÁ DE VÊ-LA. <br />
ELE PODE OUVIR O RUÍDO ATRAVÉS DE SUAS PÁLPEBRAS. ELE TENTA ALCANÇAR O RÁDIO-RELÓGIO, MAS NÃO PODE MEXER SEU BRAÇO. <br />
EARL ABRE SEUS OLHOS PARA VER UM HOMEM GRANDE ABAIXADO SOBRE ELE. O HOMEM O OLHA, INCOMODADO, E RETOMA SEU TRABALHO. EARL OLHA EM TORNO. ESCURO DEMAIS PARA UM CONSULTÓRIO MÉDICO. <br />
ENTÃO A DOR INUNDA SEU CÉREBRO, BLOQUEANDO AS OUTRAS PERGUNTAS. ELE SE MOVE DE NOVO, TENTANDO PUXAR SEU ANTEBRAÇO PARA LONGE, AQUELE QUE PARECE QUE ESTÁ QUEIMANDO. O BRAÇO NÃO SE MOVE, MAS O HOMEM O OLHA OUTRA VEZ COM CENSURA. EARL SE ARRUMA NA CADEIRA PARA VER POR SOBRE O TOPO DA CABEÇA DO HOMEM. <br />
O BARULHO E A DOR VÊM AMBOS DE UM REVÓLVER NA MÃO DO HOMEM -UM REVÓLVER COM UMA AGULHA ONDE DEVERIA HAVER UM CANO. A AGULHA ESTÁ CAVANDO A CARNE DO LADO INTERNO DO ANTEBRAÇO DE EARL, DEIXANDO UMA TRILHA DE LETRAS CHEIAS ATRÁS DELA. <br />
EARL TENTA SE REPOSICIONAR PARA OBTER UMA VISÃO MELHOR, PARA LER AS LETRAS EM SEU BRAÇO, MAS NÃO CONSEGUE. ELE SE DEITA E OLHA PARA O TETO. <br />
FINALMENTE O TATUADOR DESLIGA O BARULHO, LIMPA O ANTEBRAÇO DE EARL COM UM PEDAÇO DE GAZE E VAI ATÉ OS FUNDOS BUSCAR UM FOLHETO QUE DIZ COMO LIDAR COM UMA POSSÍVEL INFECÇÃO. TALVEZ MAIS TARDE ELE CONTE À SUA MULHER SOBRE AQUELE CARA E SEU PEQUENO BILHETE. TALVEZ SUA MULHER O CONVENÇA A CHAMAR A POLÍCIA. <br />
EARL OLHA PARA O BRAÇO. AS LETRAS SOBEM PELA PELE, PINGANDO UM POUCO. ELAS VÃO DESDE LOGO ATRÁS DA PULSEIRA DO RELÓGIO DE EARL ATÉ A PARTE INTERNA DE SEU COTOVELO. EARL PISCA PARA A MENSAGEM E A LÊ NOVAMENTE. <br />
ELA DIZ, EM MAIÚSCULAS CUIDADOSAS:"EU ESTUPREI E MATEI SUA MULHER". <br />
HOJE É SEU ANIVERSÁRIO, POR ISSO LHE TROUXE UM PRESENTINHO. EU TERIA APENAS LHE COMPRADO UMA CERVEJA, MAS QUEM SABE ONDE ISSO TERMINARIA? <br />
ENTÃO EM VEZ DISSO EU TROUXE UM SINO. EU ACHO QUE POSSO TER TIDO QUE PENHORAR SEU RELÓGIO PARA COMPRÁ-LO, MAS PARA QUE DIABOS VOCÊ PRECISAVA DE UM RELÓGIO? <br />
VOCÊ DEVE ESTAR SE PERGUNTANDO:"POR QUE UM SINO?". NA VERDADE, EU ACREDITO QUE VOCÊ VÁ SE PERGUNTAR ISSO CADA VEZ QUE O ENCONTRAR EM SEU BOLSO. HÁ MUITAS DESSAS CARTAS, AGORA. CARTAS DEMAIS PARA QUE VOCÊ POSSA CAVÁ-LAS RETROSPECTIVAMENTE CADA VEZ QUE QUISER SABER A RESPOSTA A UMA PERGUNTA QUALQUER. <br />
É UMA PIADA, EM REALIDADE. UMA PEÇA. MAS PENSE DESTE MODO: EU NÃO ESTOU TANTO RINDO DE VOCÊ QUANTO ESTOU RINDO COM VOCÊ. <br />
GOSTO DE PENSAR QUE, CADA VEZ QUE VOCÊ O TIRAR DE SEU BOLSO E SE INDAGAR "POR QUE EU TENHO ESTE SINO?", UMA PEQUENA PARTE DE VOCÊ, UM PEDACINHO DE SEU CÉREBRO QUEBRADO, VAI LEMBRAR E RIR, COMO EU ESTOU RINDO AGORA. <br />
ALÉM DISSO, VOCÊ SABE A RESPOSTA. ERA ALGO QUE VOCÊ APRENDEU ANTES. ENTÃO, SE PENSAR A RESPEITO, SABERÁ. <br />
NOS VELHOS TEMPOS, AS PESSOAS ERAM OBCECADAS PELO MEDO DE SEREM ENTERRADAS VIVAS. LEMBRA-SE, AGORA? <br />
NÃO SENDO A MEDICINA AQUILO QUE É HOJE, NÃO ERA INCOMUM AS PESSOAS ACORDAREM DE REPENTE EM UM CAIXÃO. ENTÃO OS RICOS FAZIAM COM QUE SEUS CAIXÕES TIVESSEM TUBOS PARA RESPIRAÇÃO. PEQUENOS TUBOS SAINDO PELA LAMA ACIMA PARA QUE, SE ALGUÉM ACORDASSE EM UM LUGAR ONDE NÃO DEVERIA ESTAR, NÃO FICASSE SEM OXIGÊNIO. SÓ QUE ELES DEVEM TER TESTADO O SISTEMA E PERCEBIDO QUE SE PODIA GRITAR ATÉ FICAR ROUCO PELO TUBO, MAS ELE ERA MUITO ESTREITO PARA PODER LEVAR O RUÍDO. NÃO ERA SUFICIENTE PARA CHAMAR A ATENÇÃO, PELO MENOS. ENTÃO UMA CORDINHA PASSAVA PELO TUBO ATÉ UM PEQUENO SINO PRESO À LÁPIDE. SE UM MORTO VOLTASSE À VIDA, TUDO O QUE TINHA QUE FAZER ERA TOCAR O SININHO ATÉ QUE ALGUÉM VIESSE E O CAVASSE NOVAMENTE. <br />
ESTOU RINDO AGORA, AO IMAGINAR VOCÊ EM UM ÔNIBUS OU EM UM FAST FOOD, COLOCANDO A MÃO NO BOLSO E ENCONTRANDO SEU SININHO E SE INDAGANDO DE ONDE ELE VEIO, POR QUE VOCÊ O TEM. TALVEZ VOCÊ ATÉ O TOQUE. <br />
FELIZ ANIVERSÁRIO, AMIGO. <br />
EU NÃO LEMBRO QUEM DESCOBRIU A SOLUÇÃO DE NOSSO PROBLEMA MÚTUO, ENTÃO NÃO SEI SE DEVO PARABENIZAR A VOCÊ OU A MIM. UMA PEQUENA MUDANÇA NO ESTILO DE VIDA, ADMITO, MAS UMA SOLUÇÃO ELEGANTE, MESMO ASSIM. <br />
PROCURE A RESPOSTA EM VOCÊ MESMO. <br />
PARECE ALGO SAÍDO DE UM CARTÃO DE ANIVERSÁRIO. NÃO SEI QUANDO VOCÊ PENSOU NISSO, MAS EU LHE AGRADEÇO. NÃO QUE VOCÊ SAIBA DE QUE DIABOS EU FALO. MAS, HONESTAMENTE, FOI UM VERDADEIRO "BRAINSTORM". AFINAL, TODOS PRECISAM DE ESPELHOS PARA QUE SE LEMBREM DE QUEM SÃO. VOCÊ NÃO É DIFERENTE. <br />
A VOZINHA MECÂNICA FAZ UMA PAUSA, DEPOIS SE REPETE. ELA DIZ: "SÃO 8H. ESTA É UMA CHAMADA DE CORTESIA". EARL ABRE SEUS OLHOS E PÕE O TELEFONE NO GANCHO. O TELEFONE SE APÓIA EM UMA CABECEIRA DE MADEIRA VAGABUNDA QUE SE ESTENDE POR TRÁS DA CAMA, FAZ UMA CURVA NO CANTO E TERMINA NO MINIBAR. A TV AINDA ESTÁ LIGADA, BOLHAS COR DE PELE SACUDINDO UMAS ÀS OUTRAS. EARL SE DEITA E SE SURPREENDE AO SE VER, MAIS VELHO, BRONZEADO, O CABELO SAINDO DA CABEÇA COMO CHAMAS SOLARES. O ESPELHO NO TETO ESTÁ RACHADO, A PRATA DESAPARECENDO EM MANCHAS. EARL CONTINUA A SE OBSERVAR, PERPLEXO COM O QUE VÊ. ESTÁ COMPLETAMENTE VESTIDO, MAS AS ROUPAS SÃO VELHAS, RASGADAS EM ALGUNS LUGARES. <br />
EARL APALPA SEU PULSO ESQUERDO EM BUSCA DO RELÓGIO, MAS ELE NÃO ESTÁ LÁ. ELE PÁRA DE OLHAR O ESPELHO PARA OLHAR SEU BRAÇO. O PULSO ESTÁ DESCOBERTO E A PELE MUDOU PARA UM BRONZEADO CONTÍNUO, COMO SE ELE NUNCA HOUVESSE POSSUÍDO UM RELÓGIO. A PELE TEM UMA COR HOMOGÊNEA, COM EXCEÇÃO DA FLECHA PRETA SÓLIDA NA PARTE DE DENTRO DE SEU PULSO, APONTANDO PARA A MANGA DA CAMISA. ELE OLHA PARA A FLECHA POR UM MOMENTO. TALVEZ NÃO TENTE MAIS APAGÁ-LA, ESFREGANDO-A. ELE ENROLA A MANGA DE SUA CAMISA. <br />
A FLECHA APONTA PARA UMA FRASE ESCRITA NA PARTE DE DENTRO DO BRAÇO DE EARL. EARL LÊ A FRASE UMA, TALVEZ DUAS VEZES. OUTRA FLECHA APARECE NO COMEÇO DA FRASE, APONTANDO MAIS PARA CIMA EM SEU BRAÇO, DESAPARECENDO SOB A MANGA ENROLADA. ELE DESABOTOA A CAMISA. <br />
<br />
OLHANDO PARA SEU PEITO, ELE CONSEGUE VER AS FORMAS, MAS NÃO FOCALIZÁ-LAS, ENTÃO ELE OLHA PARA O ESPELHO EM CIMA DELE. <br />
A FLECHA SEGUE PELO BRAÇO DE EARL, CRUZA SEU OMBRO, DESCE PELA PARTE DE CIMA DE SEU TRONCO, TERMINANDO EM UM RETRATO DE UM HOMEM QUE OCUPA A MAIOR PARTE DE SEU PEITO. É O ROSTO DE UM HOMEM GRANDE, QUE ESTÁ FICANDO CARECA, COM BIGODE E CAVANHAQUE. É UM ROSTO PARTICULAR, MAS, COMO UM RETRATO FALADO, TEM UMA CERTA QUALIDADE IRREAL. <br />
O RESTO DA PARTE DE CIMA DE SEU TRONCO ESTÁ COBERTO DE PALAVRAS, FRASES, PEDAÇOS DE INFORMAÇÃO E INSTRUÇÕES, TODAS ESCRITAS PARA TRÁS EM EARL, E PARA A FRENTE NO ESPELHO. <br />
ENFIM EARL SE ERGUE, ABOTOA A CAMISA E VAI ATÉ A MESA. ELE PEGA CANETA E UM PEDAÇO DE PAPEL DA GAVETA, SE SENTA E COMEÇA A ESCREVER. <br />
NÃO SEI ONDE VOCÊ ESTARÁ QUANDO LER ISTO. NÃO SEI NEM SE VAI SE INCOMODAR EM LER ISTO. ACHO QUE NÃO PRECISA. <br />
É UMA VERGONHA, NA VERDADE, QUE VOCÊ E EU NÃO NOS ENCONTRAREMOS NUNCA. MAS, COMO DIZ A CANÇÃO,"NO MOMENTO EM QUE VOCÊ LER ESTE BILHETE, EU TEREI PARTIDO". <br />
ESTAMOS TÃO PERTO, AGORA. É ESSA A SENSAÇÃO. TANTAS PEÇAS ENCAIXADAS, ORGANIZADAS. ACHO QUE É SÓ QUESTÃO DE TEMPO ATÉ QUE VOCÊ O ENCONTRE. <br />
QUEM SABE O QUE FIZEMOS PARA CHEGAR AQUI? DEVE SER UMA HISTÓRIA E TANTO, SE VOCÊ AO MENOS PUDESSE LEMBRAR ALGO DELA. ACHO QUE É MELHOR NÃO PODERMOS. <br />
PENSEI NUMA COISA AGORA. TALVEZ VOCÊ ACHE ÚTIL. <br />
TODOS ESPERAM O FIM CHEGAR, MAS E SE ELE JÁ HOUVER PASSADO POR NÓS? E SE A PIADA FINAL DO DIA DO JUÍZO FOR QUE ELE JÁ VEIO E JÁ PASSOU E NÃO NOS DEMOS CONTA? O APOCALIPSE CHEGA SILENCIOSO; OS ESCOLHIDOS SÃO PASTOREADOS AO PARAÍSO E O RESTO DE NÓS, AQUELES QUE NÃO PASSARAM NA PROVA, VÃO EM FRENTE, IGNORANDO. JÁ MORTOS, VAGANDO POR AÍ, BEM DEPOIS DE OS DEUSES PARAREM DE ANOTAR O PLACAR, AINDA OTIMISTAS COM RELAÇÃO AO FUTURO. <br />
SE ISSO FOR VERDADE, ENTÃO NÃO IMPORTA O QUE VOCÊ FIZER. NÃO HÁ ESPERANÇA. SE VOCÊ NÃO PUDER ACHÁ-LO, ENTÃO NÃO IMPORTA, PORQUE NADA IMPORTA. E, SE VOCÊ O ACHAR, ENTÃO VOCÊ PODE MATÁ-LO SEM SE PREOCUPAR COM AS CONSEQUÊNCIAS. PORQUE NÃO HÁ CONSEQUÊNCIAS. <br />
É NISSO QUE ESTOU PENSANDO AGORA, NESTE QUARTO PEQUENO E SUJO. FOTOS EMOLDURADAS DE BARCOS NA PAREDE. EU NÃO SEI, OBVIAMENTE, MAS, SE TIVESSE QUE CHUTAR, DIRIA QUE ESTAMOS EM ALGUM LUGAR DO LITORAL. SE VOCÊ SE PERGUNTA POR QUE SEU BRAÇO ESQUERDO ESTÁ CINCO VEZES MAIS MORENO QUE O DIREITO, NÃO SEI O QUE LHE DIZER. ACHO QUE DEVEMOS TER DIRIGIDO UM BOCADO. E, NÃO, EU NÃO SEI O QUE ACONTECEU COM O SEU RELÓGIO. <br />
E TODAS ESSAS CHAVES: NÃO TENHO IDÉIA. NÃO HÁ UMA SEQUER QUE EU RECONHEÇA. CHAVES DE CARROS E CHAVES DE CASAS E CHAVEZINHAS DE CADEADOS. O QUE NÓS ESTIVEMOS FAZENDO? <br />
EU ME PERGUNTO SE ELE VAI SE SENTIR IDIOTA QUANDO O ENCONTRARMOS. PERSEGUIDO PELO HOMEM DEZ-MINUTOS. ASSASSINADO POR UM VEGETAL. <br />
EU ME IREI EM UM MINUTO. VOU BAIXAR A CANETA, FECHAR MEUS OLHOS, E VOCÊ PODERÁ LER ISTO, SE QUISER. <br />
SÓ QUERIA QUE SOUBESSE QUE ESTOU ORGULHOSO DE VOCÊ. NÃO SOBROU NINGUÉM IMPORTANTE PARA DIZÊ-LO. NINGUÉM QUE SOBROU VAI QUERER DIZÊ-LO. <br />
OS OLHOS DE EARL ESTÃO ESCANCARADOS OBSERVANDO PELA JANELA DO CARRO. OLHOS SORRIDENTES. SORRINDO ATRAVÉS DA JANELA PARA A MULTIDÃO QUE SE AGLOMERA DO OUTRO LADO DA RUA. A MULTIDÃO SE AGLOMERANDO EM VOLTA DO CORPO NA PASSAGEM. O CORPO ESVAZIANDO LENTAMENTE PELA CALÇADA E BUEIRO ADENTRO. <br />
UM CARA ATARRACADO, ROSTO PARA BAIXO, OLHOS ABERTOS. FICANDO CARECA, COM CAVANHAQUE. NA MORTE, ASSIM COMO EM RETRATOS FALADOS, OS ROSTOS SE PARECEM. ESSE É COM CERTEZA ALGUÉM EM PARTICULAR. MAS PODERIA, MESMO, SER QUALQUER UM. <br />
EARL AINDA SORRI PARA O CORPO ENQUANTO O CARRO SE AFASTA DO MEIO-FIO. O CARRO? QUEM PODE DIZER? TALVEZ SEJA UMA VIATURA DA POLÍCIA. TALVEZ SEJA SÓ UM TÁXI. <br />
ENQUANTO O CARRO É ENGOLIDO PELO TRÁFEGO, OS OLHOS DE EARL CONTINUAM A BRILHAR NA NOITE, OBSERVANDO O CORPO ATÉ QUE ELE DESAPAREÇA EM UM CÍRCULO DE TRANSEUNTES PREOCUPADOS. ELE RI PARA SI MESMO ENQUANTO O CARRO CONTINUA AUMENTANDO A DISTÂNCIA ENTRE ELE E A MULTIDÃO CRESCENTE. <br />
O SORRISO DE EARL DIMINUI UM POUCO. ALGO LHE OCORREU. COMEÇA A APALPAR OS BOLSOS; PRIMEIRO, SERENAMENTE, UM HOMEM PROCURANDO POR SUAS CHAVES, DEPOIS UM POUCO MAIS DESESPERADO. TALVEZ O SEU PROGRESSO ESTEJA IMPEDIDO POR UM PAR DE ALGEMAS. ELE COMEÇA A ESVAZIAR O CONTEÚDO DE SEUS BOLSOS NO ASSENTO A SEU LADO. ALGUM DINHEIRO. UM MONTE DE CHAVES. PEDAÇOS DE PAPEL. <br />
UM PEDAÇO REDONDO DE METAL ROLA DE SEU BOLSO E DESLIZA PELO ASSENTO DE VINIL. EARL ESTÁ FRENÉTICO, AGORA. ELE BATE NA DIVISÓRIA DE PLÁSTICO ENTRE ELE E O MOTORISTA, IMPLORANDO AO HOMEM POR UMA CANETA. TALVEZ O TAXISTA NÃO SAIBA MUITO BEM INGLÊS. TALVEZ O POLICIAL NÃO TENHA O COSTUME DE FALAR COM SUSPEITOS. DE QUALQUER MODO, A DIVISÓRIA ENTRE O HOMEM DA FRENTE E O HOMEM DE TRÁS CONTINUA FECHADA. UMA CANETA NÃO VIRÁ. <br />
O CARRO PASSA POR UM BURACO, E EARL PISCA E VÊ SEU REFLEXO NO ESPELHO RETROVISOR. ELE ESTÁ CALMO, AGORA. O MOTORISTA FAZ OUTRA CURVA, E O PEDAÇO DE METAL ESCORREGA DE VOLTA PARA SE APOIAR CONTRA A PERNA DE EARL COM UMA PEQUENA BADALADA. ELE O PEGA E O OLHA, CURIOSO. É UM SININHO. UM SININHO DE METAL. INSCRITOS NELE ESTÃO O SEU NOME E ALGUMAS DATAS. ELE RECONHECE A PRIMEIRA, O ANO EM QUE NASCEU. MAS A SEGUNDA NÃO SIGNIFICA NADA. NADA MESMO. <br />
AO GIRAR O SINO EM SUAS MÃOS, ELE PERCEBE O ESPAÇO VAZIO ONDE COSTUMAVA FICAR SEU RELÓGIO. HÁ ALI UMA PEQUENA FLECHA, APONTANDO PARA SEU BRAÇO. EARL OLHA PARA A FLECHA E ENTÃO COMEÇA A DESENROLAR SUA MANGA. <br />
"VOCÊ CHEGARIA ATRASADO A SEU PRÓPRIO FUNERAL", ELA DIZIA. LEMBRA-SE? QUANTO MAIS EU PENSO A RESPEITO, MAIS ME PARECE BANAL. QUE TIPO DE IDIOTA, AFINAL, ESTÁ COM PRESSA DE CHEGAR AO FINAL DA PRÓPRIA HISTÓRIA? <br />
E COMO EU SABERIA SE ESTOU ATRASADO, AFINAL? EU NÃO TENHO MAIS UM RELÓGIO. NÃO SEI O QUE FIZEMOS COM ELE. <br />
E PARA QUE DIABOS SE PRECISA DE UM RELÓGIO, AFINAL? ERA UMA ANTIGUIDADE. UM PESO MORTO AGARRADO AO SEU PULSO. SÍMBOLO DO VELHO VOCÊ. AQUELE VOCÊ QUE ACREDITAVA NO TEMPO. <br />
NÃO. APAGUE ISSO. NÃO É TANTO QUE VOCÊ TENHA PERDIDO SUA FÉ NO TEMPO, É MAIS O TEMPO QUE PERDEU A FÉ EM VOCÊ. E QUEM PRECISA DELE, AFINAL? QUEM QUER SER UM DESSES TOLOS QUE VIVEM NA SEGURANÇA DO FUTURO, NA SEGURANÇA DO INSTANTE APÓS O INSTANTE EM QUE ELES SENTIRAM ALGO FORTE? VIVENDO NO PRÓXIMO INSTANTE, NO QUAL ELES NÃO SENTEM NADA. RASTEJANDO PELOS PONTEIROS DO RELÓGIO, LONGE DAS PESSOAS QUE LHES FIZERAM COISAS INDIZÍVEIS. ACREDITANDO NA MENTIRA DE QUE O TEMPO CURARÁ TODAS AS FERIDAS -QUE É APENAS UM JEITO SIMPÁTICO DE DIZER QUE O TEMPO NOS MATA. <br />
MAS VOCÊ É DIFERENTE. VOCÊ É MAIS PERFEITO. O TEMPO SÃO TRÊS COISAS PARA A MAIORIA DAS PESSOAS, MAS PARA VOCÊ, PARA NÓS, É APENAS UMA. UMA SINGULARIDADE. UM INSTANTE. ESTE INSTANTE. COMO SE VOCÊ ESTIVESSE NO CENTRO DO RELÓGIO, NO EIXO SOBRE O QUAL GIRAM OS PONTEIROS. O TEMPO SEGUE À SUA VOLTA, MAS NUNCA SEGUE EM VOCÊ. ELE PERDEU SUA HABILIDADE DE AFETAR VOCÊ. O QUE É QUE DIZEM? QUE TEMPO É FURTO? MAS NÃO PARA VOCÊ. FECHE OS OLHOS E VOCÊ PODE COMEÇAR TUDO DE NOVO. EVOCAR A EMOÇÃO NECESSÁRIA, FRESCA COMO AS ROSAS. <br />
TEMPO É UM ABSURDO. UMA ABSTRAÇÃO. A ÚNICA COISA QUE IMPORTA É ESTE MOMENTO. ESTE MOMENTO 1 MILHÃO DE VEZES. VOCÊ PRECISA CONFIAR EM MIM. SE ESTE MOMENTO SE REPETIR SUFICIENTEMENTE, SE VOCÊ CONTINUAR TENTANDO -E VOCÊ PRECISA CONTINUAR TENTANDO-, POR FIM VOCÊ CHEGARÁ AO PRÓXIMO ITEM DE SUA LISTA. <br />
<br />
TRADUÇÃO DE VICTOR AIELLO TSU, TEXTO PUBLICADO NA "FOLHA DE SÃO PAULO".Jorge Lobohttp://www.blogger.com/profile/08854290252708162115noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3101835431565597778.post-40884339819848520562010-09-19T14:33:00.000-07:002010-09-19T14:35:07.604-07:00PONTOS DE ENTRADA<span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif;">PONTOS DE ENTRADA <br />
<br />
·O ponto de entrada deve ser acessível, diferenciado e ter o potencial de atrair a atenção. <br />
<br />
·Introdução direta do tema: quando o tema por si só, é atraente, pode ser apresentado no ponto de entrada do discurso. Esta é uma solução clássica. <br />
<br />
·Recursos de Retórica. O uso desses recursos nos pontos de entrada do discurso podem melhorar a atratividade. Os mais usados são: trocadilhos, paráfrases, iconias, citações, etc. <br />
<br />
·O exemplo ilustrativo: Um caso típico, dramático, pitoresco, notável que ilustre o tema atrairá a atenção para o tema se colocado no ponto de entrada do discurso. <br />
<br />
·Aspectos atraentes do conteúdo. Pode-se destacar no ponto de entrada propriedades notáveis do tema como: <br />
<br />
- Raridade <br />
- Novidade <br />
- Atualidade <br />
- Proximidade com o receptor <br />
- Possibilidade de empatia com o receptor. <br />
- Possibilidade de envolvimento do receptor. <br />
- Matéria de interesse humano. <br />
- Curiosidades. <br />
<br />
Adaptado de "Elementos de Retórica", de Radamés Manosso </span>Jorge Lobohttp://www.blogger.com/profile/08854290252708162115noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3101835431565597778.post-88686026244072850212010-09-19T14:16:00.000-07:002010-09-19T14:18:53.959-07:00EXPOSIÇÃO<span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif;">EXPOSIÇÃO <br />
<br />
Os fatos que não ficam evidentes ao espectador através do desenrolar dos acontecimentos na tela, mas dos quais precisa estar ciente, são tratados por um artifício chamado exposição. Podem ser fatos que aconteceram no passado, antes do desenvolvimento da história; podem ser sentimentos, desejos, deficiências do Personagem; ou ainda características específicas do local onde se passa a história. <br />
Os modos mais fáceis e usados de fazer uma exposição são através de um conflito ou humor. <br />
O grande Billy Wilder usava narrações em Off (voice over), geralmente feita pela personagem principal, como em Crepúsculo dos Deuses e Pacto de Sangue. A narração em Off corresponderia ao coro das peças gregas ou ao narrador de um romance literário. <br />
O problema da exposição é que ela só é necessária ao espectador. Não é uma coisa que os personagens precisem saber no decurso da trama, salvo raras exceções. Por exemplo, um personagem tem medo de altura. Todos os colegas desse personagem sabem que ele tem esse medo. No dia à dia, no cotidiano da história, esse medo da personagem não será citado, mas o espectador precisa ter conhecimento disto. Permitir que esse personagem fale a qualquer momento "eu tenho medo de altura", soará por demais artificial. Em outras palavras, o conteúdo das exposições, na maioria das vezes, revela aquilo que os personagens já sabem, só que o espectador também precisa ser informado para vivenciar plenamente a história e as ações. O uso da exposição deve ser usado com comedimento, pois é um artifício mais narrativo do que dramático. <br />
Uma exposição bem feita não deve parecer o que de fato é, ou seja, o espectador não deve perceber que aquilo foi uma exposição. Ernest Lehman, roteirista que trabalhou em diversos filmes de Hitchcock, dizia - Não deve parecer o que é na realidade.A exposição também pode ser feita pela ignorância do personagem a respeito de alguma coisa, como em Guerra nas Estrelas de George Lucas. O protagonista Luke Skywalker ouve o velho Ben Kenobi citar a respeito da Força (uma energia mística que envolve e penetra em tudo e todos). Como Luke desconhece o que é a Força, pergunta a Ben, que lhe explica sabiamente. É um modo menos sutil de apresentar uma exposição, que é válida somente quando há uma ignorância de um personagem à respeito de alguma coisa. <br />
<br />
1.Elimine toda exposição que não for essencial ou que mais tarde, no decorrer da história ficará clara. <br />
2.Apresente a exposição considerada necessária em cena que contenha conflito e, se possível, humor. <br />
3.Adie o uso do material expositivo sempre que for possível até um momento posterior da história e aí transmita-o no momento de maior impacto dramático. <br />
4. Use conta-gotas e não uma concha sempre que precisar apresentar a exposição necessária. <br />
<br />
Texto extraído do livro "Teoria e Prática do Roteiro" <br />
de Edward Mabley e David Howard <br />
<br />
EXPOSIÇÃO COM ENIGMA ANTERIOR <br />
<br />
A exposição, no caso do filme "SOB O DOMÍNIO DO MEDO", de Sam Peckinpah, veio acompanhada de uma temática importante do filme,isto é, o estupro.Foi um enigma lançado pelo roteirista, que deixou no ar a possível participação, no passado, da personagem interpretada por Dustin Hoffman. <br />
<br />
Jorge Lobo</span>Jorge Lobohttp://www.blogger.com/profile/08854290252708162115noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3101835431565597778.post-57375688362578159752010-09-19T13:30:00.000-07:002010-09-19T13:43:04.202-07:00A FÁBULA DE MASSA<span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif;"><span style="font-size: large;"><u><strong>FÁBULA DE MASSA</strong></u> <br />
<br />
A narrativa de massa é um pressuposto metodológico. Não há de ser encontrada com todos os seus elementos de caracterização. Resume as características formais típicas da narrativa com largo espectro de aceitação, que vem sendo usada exaustivamente na literatura de massa e em outras modalidades narrativas. As características são: <br />
<br />
·Presença das seguintes partes: prólogo, desencadeamento, desenvolvimento, complicação, clímax e epílogo <br />
·Unidade de ação <br />
·Unidade de caráter dos personagens <br />
·Causalidade <br />
·Necessidade <br />
·Verossimilhança interna <br />
·Continuidade <br />
·Desencadeamento com objetivo a atingir <br />
·Ter um falso final <br />
·Ter um anticlímax <br />
·Na seqüência complicação - clímax deve ter uma inversão de tendência <br />
·Imprevisibilidade <br />
·Envolvimento <br />
·Presentificação <br />
·Final condizente com o envolvimento <br />
·Sociabilidade <br />
·Maniqueísmo <br />
·Abundância de ação e emoção <br />
·Background otimizado para o público-alvo. <br />
<br />
As partes da fábula de massa <br />
<br />
Prólogo: É a parte inicial da narrativa em que é colocada a situação inicial. <br />
<br />
Desencadeamento: Sucede o prólogo e é a parte em que ocorre a ação cardeal que determina as demais ações cardeais da fábula. É um momento de aumento de tensão que fixa a atenção do receptor em definitivo à narrativa. <br />
<br />
Desenvolvimento: Sucede o desencadeamento. É a parte central da narrativa na qual ocorre a maioria das ações cardeais. <br />
<br />
Complicação: É parte do desenvolvimento. Começa num dado ponto do desenvolvimento e com ele termina, imediatamente antes do clímax. É a parte em que se verifica intensificação contínua. As características que podem se intensificar na complicação são: <br />
<br />
·O envolvimento do receptor. <br />
<br />
·A excitação das emoções do espectador. <br />
<br />
·A velocidade da ação. <br />
<br />
·A complexidade da ação. <br />
<br />
·Os obstáculos para atingir os objetivos. <br />
<br />
·A proximidade do objetivo a ser atingido. <br />
<br />
·As dificuldades do personagem com quem o receptor simpatiza. <br />
<br />
·O acirramento dos conflitos. <br />
<br />
Clímax: É a parte da ação em que se dão as ações que resolvem o processo que se complicava. O clímax desata o nó que se apertava continuamente na complicação e que fora atado no desencadeamento. <br />
<br />
Epílogo: Sucede o clímax. Insere a situação posterior a este. <br />
<br />
Ordem de apresentação <br />
<br />
A ordem de apresentação revela as ações e situações que formam a fábula. Uma fábula admite incontáveis ordens de apresentação. <br />
<br />
Adaptado de "Elementos de Retórica", de Radamés Manosso </span></span>Jorge Lobohttp://www.blogger.com/profile/08854290252708162115noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3101835431565597778.post-64836946370685251982010-09-04T18:36:00.000-07:002010-09-05T06:26:09.020-07:00PEQUENO PANORAMA DO FILME NOIR A PARTIR DOS ANOS 70 - 9/ 2002<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEinMeK17LZ8I6RTN0sdFRn5GdQbFBzpE0tGbnKB-m2oWQEPQ2VzwJ5WesCPsndIu0-irJ0fdRHwlKuCykCU-qGXPUNcpvNcCWh043l8crSAeiuOH_gQKAv6NyKigWMYCPOJvldFyDP4PDT7/s1600/OPERIGOSOADEUSimages.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" ox="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEinMeK17LZ8I6RTN0sdFRn5GdQbFBzpE0tGbnKB-m2oWQEPQ2VzwJ5WesCPsndIu0-irJ0fdRHwlKuCykCU-qGXPUNcpvNcCWh043l8crSAeiuOH_gQKAv6NyKigWMYCPOJvldFyDP4PDT7/s320/OPERIGOSOADEUSimages.jpg" /></a></div> "O PERIGOSO ADEUS", de Robert Altman.<br />
<br />
<br />
O FILME NOIR A PARTIR DOS ANOS 70 - 9/2002 <br />
<br />
por Jorge Lobo<br />
<br />
"...Filme noir foi um termo usado para descrever os filmes hollywoodianos da década de 40 e começo da de 50, nos quais eram retratados o submundo escuro e sombrio do crime e da corrupção. Filmes cujos heróis, bem como os vilões, eram cínicos, desiludidos e, frequentemente, solitários e inseguros, fortemente ligados ao passado e indiferentes quanto ao futuro. Em termos de estilo e técnica, o filme noir caracteristicamente abusa de cenas noturnas( internas e externas ), com cenários que sugerem realismo e com uma iluminação que enfatiza as sombras e acentua o clima de fatalidade." <br />
<br />
Lista de filmes recentes que podem ser considerados noir: <br />
<br />
O perigoso adeus, de Robert Altman <br />
<br />
Chinatown, de Roman Polanski <br />
<br />
A chave do enigma, de Jack Nicholson(continuação de Chinatown) <br />
<br />
Corpos ardentes, de Lawrence Kasdan <br />
<br />
Na calada da noite, de Robert benton <br />
<br />
Fugindo do passado, de Robert Benton <br />
<br />
O destino bate à sua porta*, de Bob Rafelson <br />
<br />
Hammett - mistério em Chinatown, de Wim Wenders <br />
<br />
A dama do cine Shangai, de Guilherme de Almeida Prado (único exemplar nacional do gênero) <br />
<br />
O preço da traição, de Lee Tamahori <br />
<br />
Los Angeles, cidade proibida, de Curtis Hanson <br />
<br />
Blade runner - o caçador de andróides(noir + ficção científica) <br />
<br />
Cliente morto não paga, de Carl Reiner <br />
<br />
*Refilmagem <br />
<br />
O NOIR NA TV <br />
<br />
Boca do lixo(série de tv brasileira) <br />
<br />
Fallen angels(série de tv norte-americana. Em vídeo, há duas compilações contendo alguns episódios dessa série: Fallen angels e Fallen angels - a inocência perdida <br />
<br />
O PORQUÊ DO ENQUADRAMENTO DESSES FILMES NA CATEGORIA NOIR E COMENTÁRIOS SOBRE OS FILMES <br />
<br />
-O filme noir é fundamentalmente pessimista, o que, sem dúvida é um traço desses filmes(embora tenhamos concessões comerciais em alguns deles) <br />
<br />
-A personagem Philip Marlowe, de Raymond Chandler, interpretado por Humphrey Bogart em À beira do abismo,de Howard Hawks e por Dick Powell em Até à vista, querida, volta à cena nos anos 70, interpretado por Elliott Gould em O perigoso adeus, de Robert Altman, e nos anos 80, na colagem cinematográfica de Cliente morto não paga. <br />
<br />
-O detetive, nesses filmes da nova fase do noir, novamente aparece como uma figura ambígua: é visto com desconfiança tanto pela polícia(que o considera um gangster camuflado) quanto pelos bandidos(que o vêem como fazendo parte da polícia). <br />
<br />
-Ambiguidade figurativa: a violência, o vício, a corupção sempre são mostrados com um certo fascínio, mistério, aventura. <br />
<br />
-Chinatown, de Roman Polanski - Detetive particular(Jack Nicholson), contratado por uma misteriosa mulher acaba se metendo em intrincadas aventuras, envolvendo especulação imobiliária, corrupção e mortes. Talvez o melhor filme da fase mais recente do noir, tem trama ambientada na Los Angeles dos anos 30, na tradição dos romances policiais de Dashiel Hammett e Raymond Chandler e traz um roteiro muito bem elaborado(por Rober Towne, que aliás ganhou um oscar pelo trabalho). Polanski faz uma ponta, como o bandido que esfaqueia Nicholson no nariz(meteu o nariz onde não era chamado) e John Huston(um mito do gênero) aparece em um papel pequeno, mas importante. <br />
<br />
-Corpos ardentes, de Lawrence Kasdan, teve sua trama inspirada em Pacto de sangue, de Billy Wilder, um clássico noir. Já O destino bate à sua porta, além de ser refilmagem do filme de mesmo título de 1947, é baseado em uma novela de James M. Cain, o mesmo de Pacto de sangue. <br />
<br />
-Los Angeles - cidade proibida, de Curtis Hanson - A trama policial do filme é baseada no livro homônimo de James Ellroy. Livro e filme pretendem ser uma radiografia moral e social da Los Angeles dos anos 50, época em que a cidade ganhou status de metrópole do futuro: na superfície, o glamour da indústria de filmes de Hollywood, os progressos urbanos, por baixo, políticos e policiais corruptos, drogas e sexo fácil. O roteiro de Hanson e Brian Helgeland, baseado no livro de Ellroy, é bem elaborado, mas peca por se render ao comercialismo expresso na invulnerabilidade dos protagonistas e no final feliz, características dispensáveis para o gênero. <br />
<br />
-Fugindo do passado, de Robert Benton - Paul Newman é um detetive particular aposentado que vive na casa anexa à mansão das ex-estrelas de cinema, Gene Hackman e Susan Sarandon, seus grandes amigos. Susan foi casada com outro ator enquanto mantinha um caso extraconjugal com Hackman. Seu marido acabou sendo assassinado, embora o corpo nunca tenha aparecido durante os últimos 20 anos, que ela viveu ao lado de Hackman. Devido a fatos inesperados Newman acaba ficando contra o casal.O filme é marcado pela nostalgia. Primeiro pela escolha do elenco: Susan Sarandon, Gene Hackman, Paul Newman, James Garner. O estilo do filme segue muito bem a trilha noir, inclusive com voz off da personagem principal e trilha sonora que empresta mistério à ação.O roteiro é bom. <br />
<br />
-Cliente morto não paga - Steve Martin atua como Rigby, um detetive particular muito amigo de Philip Marlowe(um dos detetives particulares mais famosos da história do cinema). Ele acredita piamente nos ensinamentos do amigo, como "balas não matam; o amor, sim". Logo no início do filme, Rigby é contratado por Juliet forrest(Rachel Ward), a filha de um famoso cientista falecido em um acidente de carro. Ela acredita que o pai foi assassinado, e quer que o detetive descubra como e porquê. No decorrer das investigações, Rigby encontra várias personagens retirados diretamente dos velhos filmes noir, interpretados por: Bette Davis, Kirk Douglas, Burt Lancaster, Ingrid Bergman, Humphrey Bogart(como o próprio Marlowe), Vincent Price e outros. A história foi feita sob medida para que as antigas cenas se encaixassem na investigação de Rigby. A necessidade de adequar as antigas sequências às novas fez com que o roteiro ficasse desconexo, era preciso mais criatividade para fazer com essa articulação um filme mais interessante. Ainda assim, vale a pena conferir. <br />
<br />
-O preço da traição, do neozelândes Lee tamahori, é um filme localizado em 1954, ano em que o crime organizado nos EUA parecia estar com os dias contados. Era também a época de testes nucleares- a primeira bomba H explodiu em 1952- e vale a pena prestar atenção no pavilhão de cancerosos, que aparece à certa altura do filme.Max Hoover(Nick Nolte) acha que vale tudo para combater o crime, até atropelar a lei em certos casos. Hoover é feliz no casamento com Katherine( Mellanie Griffith), mas teve uma breve ligação com Alison Pond(Jennifer Connely) que aparece morta e joga o ex-amante numa crise de grandes proporções envolvendo desde seu próprio casamento até a segurança nacional. O filme, apesar de seu bom elenco, peca no mesmo quesito de Los Angeles - cidade proibida: o roteiro protege demais o protagonista. <br />
<br />
-Boca do lixo, de Roberto Talma é uma série de tv brasileira de 1990, que conta a história de uma atriz de pornochanchada que abandona a carreira pra se casar com um empresário e, insatisfeita com sua indiferença, cai nos braços de um chefe de obras, responsável pela construção de sua casa. <br />
<br />
-Fallen angels é uma série de tv noir norte-americana iniciada em 1993, que traz adaptações de contos policiais em curtas de trinta minutos cada, com introdução em preto e branco. <br />
<br />
ESTENDENDO O ASSUNTO SOBRE FILME NOIR: <br />
<br />
Título: O outro lado da noite - filme noir <br />
Autor: Antônio C. de MattosJorge Lobohttp://www.blogger.com/profile/08854290252708162115noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3101835431565597778.post-69663735587850994212010-09-04T12:34:00.000-07:002010-09-04T12:45:34.018-07:00UMA ENTREVISTA COM JORGE LUÍS BORGES<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhYRRc3rb12GKTlcxXWvMvKQaFHr2YFHc2tZFHns6RIX15s-9xu1m5ij0jlWbjs-eMv5gLYa_kyjxAZGpf_8DZmz6HeN1kjleRnO0-vge5W2kBAcnx9HpoFZjAD2cuxS5pEZ1bF3FRwQcbJ/s1600/jorge-luis-borges2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" ox="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhYRRc3rb12GKTlcxXWvMvKQaFHr2YFHc2tZFHns6RIX15s-9xu1m5ij0jlWbjs-eMv5gLYa_kyjxAZGpf_8DZmz6HeN1kjleRnO0-vge5W2kBAcnx9HpoFZjAD2cuxS5pEZ1bF3FRwQcbJ/s320/jorge-luis-borges2.jpg" /></a></div>Alvaro Miranda <br />
<br />
Do "Foro Literário", Uruguai - 1978 <br />
<br />
Para um autor que nasceu com o século e leva mais de cinqüenta anos dedicados à literatura, um escritor controvertido, já louvado, já repudiado, sempre discutido, aplaudido por uns, rechaçado por outros, um escritor mimado, mitificado, consagrado como um dos maiores escritores de fala hispânica - para muitos, o maior -, que foi censurado por suas declarações, criticado por seus detratores e exaltado por seus apologistas, admirado e venerado como mestre indiscutível em universidades e salas de conferências, e tudo isto, muitas vezes, sem um cabal conhecimento de sua obra, sem uma consciência exata de seu estrito valor literário, conceder outra entrevista podia ser uma forma de alimentar essa fogueira. No entanto, Jorge Luís Borges parece estar além de todas as críticas e de todos os aplausos. Sabe que sua obra fala por ele. <br />
<br />
Entrevistar Borges? O que não se disse ainda? O que o próprio Borges já não disse sobre si mesmo? Difícil tarefa que representa, acima de tudo, um desafio. É impossível enumerar a lista de entrevistas que concedeu, concede e concederá com generosidade não isenta de complacência. Mesmo quando tudo parece dito, a particularidade de Borges consiste em extrair de uma conversa - especialmente se está centrada na literatura - um apontamento, um detalhe erudito, uma glosa, um esboço ou um curioso gracejo. Borges aparece então quase tão inabarcável como os imaginários universos que constrói com sua lucidez de artífice. Por isso cada entrevista não esgota sua personalidade, sua escritura, pelo contrário, as enriquece e projeta para novos horizontes de aplicação significativa. <br />
<br />
Pergunta - Por ocasião de uma entrevista realizada na França, você manifestou que, em sua opinião, as teorias literárias não tinham importância... <br />
<br />
Resposta - Eu creio que não. Creio que o importante é o exercício da literatura. <br />
<br />
P - Mas a teoria advém como ente organizador da confusão da obra... <br />
<br />
R - Creio que a teoria pode ser um estímulo em muitos casos. Por exemplo, descreio da democracia, mas se Walt Whitman tivesse descrito da democracia não teria podido nos dar sua obra extraordinária. Descreio enfaticamente do comunismo, mas se Neruda houvesse descrido do comunismo teria seguido sendo um medíocre poeta romântico. Se Carlyle não houvesse tido a visão de que a História é a história dos heróis, não teria deixado sua obra extraordinária. Creio que as teorias são estímulos para cada escritor. Pessoalmente, admiro o Império Britânico e lamento que tenha declinado; a fé no Império Britânico foi uma das causas de Kipling, que lhe permitiu realizar uma obra esplêndida e isso não se pode negar. É absurdo julgar um autor por suas opiniões; as opiniões de um autor são importantes para ele porque podem ser estímulos, podem ser impulsos para sua obra, mas não têm por que importar aos demais. Seria absurdo, por exemplo, que eu negasse o valor poético de Neruda dizendo que descreio do comunismo. Perfeitamente, descreio do comunismo, mas ele não descria e pôde executar sua obra. <br />
<br />
P - Você considera que seu renome internacional deve-se, em maior parte, à sua narrativa e não à sua poética e ensaística. Não existe nisso um menosprezo do trabalho poético? <br />
<br />
R - A mim pessoalmente me agradam meus versos. Mas, em geral, meus amigos acreditam que sou um prosista intruso na poesia. Ao contrário, creio ter escrito bons contos, mas esses contos estão mais longe de mim do que minhas poesias, mesmo nas milongas, por exemplo. <br />
<br />
P - Por que se declara incapaz de escrever um romance? <br />
<br />
R - Não sou escritor de romances porque não sou leitor de romances. Li muito pouco romances. Há para mim um romancista... seria o romancista: Joseph Conrad, é o polaco que enriqueceu a literatura inglesa, é o romancista e o contista. Sei que ao dizer isto estou um pouco distante do que geralmente se pensa. Depois pensaria também em Stevenson. Sobre Stevenson escreveu muito elogiosamente André Gide, com frases que teriam agradado demais a Stevenson: ``Se a vida o embriaga, como um champanhe bem leviano, bem ligeiro...” Que lindo, não? E como teria agradado a Stevenson a imagem do champanhe, ele que gostava tanto de champanhe. <br />
<br />
P - Conheço a atração que exercem sobre você as literaturas anglo-saxãs. Especificamente a respeito da literatura alemã, que juízo sobre o Romantismo e quais as figuras que, dentro deste movimento, lhe impressionam mais profundamente? <br />
<br />
R - O Romantismo surge na Escócia, por volta de 1750, com o Ossián, de Macpherson, que foi trazido por Goethe e cuja única passagem facilmente legível encontra-se em “Die Leiden des jungen Werthers”, onde diz: “Ossián superou Homero... etc.” Eu pensava em escrever um trabalho sobre Macpherson. Sempre foi acusado de ter sido um falsário e não creio que fosse um falsário. Creio que ele tomou fragmentos de antigos textos celtas e fez um poema, mas foi grande poeta, um poeta que se sacrificou por sua pátria, preferia que as pessoas acreditassem que a Escócia havia escrito um grande poema e não que ele o havia escrito, é muito raro um homem que faz isso, não? Você sabia que nos despachos de Napoleão encontraram frases da versão italiana do Ossián, de Macpherson? De qualquer maneira, é estraordinário que o Romantismo surja no século XVIII. <br />
<br />
P - Por que? <br />
<br />
R - Porque é visto como o século da Razão. Creio que há outro livro que deve ter sido muito importante no movimento romântico e que não se menciona nunca: é a versão que na primeira década do século XVIII faz de As mil e uma noites Antonie Galland. Imagine você, esse livro lido por gente que estava no ambiente de regulamentações, de proibições, de Boileau e que irrompa um livro como As mil e uma noites nesse mundo ordenado da França. Deve ter sido extraordinário. <br />
<br />
P - Para Borges, Ossián superou Homero? <br />
<br />
R - Homero é inquestionavelmente um grande poeta, isso não se pode negar. Mas, devo cair aqui em uma heresia: para mim, a Odisséia é muito superior à Iliáda. A Ilíada tem algo de ignóbil, o tema de cantar a ira de um homem. Podemos salvar Homero supondo que se preferimos Heitor é porque ele também preferia Heitor. Creio que visto assim... por que todo mundo sente simpatia por Tróia e por Heitor e ninguém sente simpatia pelos gregos? É porque são melhor mostrados os troianos. Podemos supor que Homero, mesmo sendo grego, estava intimamente do lado dos troianos. Se todo mundo leu a Iliáda do ponto de vista de Tróia é porque o autor também a escreveu do ponto de vista de Tróia. Não creio que se equivocasse. Todos queriam descender dos troianos e ninguém quis descender de Aquiles. Posso lhe dar um dado bastante curioso: estava lendo a História dos reis da Noruega, de Snorri Sturluson, e há uma referência a Thor, o deus do trovão, e este homem escreve no século XIII, na Islândia, e diz que Thor era, sem dúvida alguma, proveniente de Héc-Thor. Todos queriam ser troianos, mesmo esse homem, ali no distante norte, queria que seus deuses fossem troianos. E depois, sempre que se fala de Odin se diz que veio de Tróia. Todos sentiam atração por Tróia. Nâo lhes ocorria dizer que eram parentes de Aquiles ou de Agamenon. <br />
<br />
P - Em um de seus livros, você cita as palavras de Coleridge: ``todos os homens nascem aristotélicos ou platônicos''. Se isto é assim, a qual grupo se consideraria pertencente? <br />
<br />
R - Essa era a opinião de Coleridge: todo homem nasce aristotélico ou platônico e diz que seria muito difícil encontrar uma terceira categoria. Eu diria que sou aristotélico, sou incapaz de idéias gerais, sou capaz de conceitos concretos, incapaz de uma teoria da estética... <br />
<br />
P - No entanto, grande parte de sua obra é sumamente platônica, idealista. <br />
<br />
R - Ah, é que sou idealista em Filosofia, também. Sim, desde já, creio que ninguém é absolutamente aristocrático ou platônico, sequer Platão ou Aristóteles, que devem ter-se entendido por outro lado. <br />
<br />
P - Borges, a respeito da literatura contemporânea... <br />
<br />
R - Não conheço a literatura contemporânea. Perdi a vista em 1955. Dediquei-me a estudar o anglosaxão, depois a estudar o escandinavo, mas não conheço a literatura contemporânea. <br />
<br />
P - Revivamos uma antiga polêmica? O que é literatura: um ente autotélico ou um ente ancilar? <br />
<br />
R - Ancilar não, desde já. A literatura é um fim em si, é um meio. Se vivo para a literatura, se minha vida é uma vida essencialmente literária, se vejo tudo em função da literatura... não me importa ter sido desventurado porque essa desventura também tem sua dor literária... em meu caso, escrever é um destino. <br />
<br />
P - Há autores sobre os quais você costuma abundar em reflexões. Gostaria agora de escutar sua opinião sobre alguns autores clássicos espanhóis. Por exemplo, você manifestou em uma entrevista que a literatura espanhola começa com o Romanceiro. <br />
<br />
R - Creio que sim. O Poema del Cid me parece muito carregado. É um começo muito desventurado. Agora, é uma lástima que a épica tenha desaparecido. A épica era narrativa e era poética. Vamos aceitar o conceito tradicional de Homero como fonte da literatura grega; pois Homero não somente é pai de toda a poesia que se fez depois, como também do romance que se fez depois. O que é a Odisséia senão um romance de aventuras? E agora o que resta? Alguns filmes do faroeste que são épicos, um livro como Sete pilares da sabedoria, de Lawrence... não sei até onde é um livro épico, creio que é demasiado reflexivo para ser épico; Lawrence é demasiado inteligente para ser um grande poeta épico, não? Creio que Kipling era épico. <br />
<br />
P - Em Kipling havia possivelmente um espírito épico... <br />
<br />
R - Tinha um espírito épico, sim... Há algo que se encontra na literatura portuguesa e que falta totalmente na espanhola e que é o sentido do mar, não?, é toda literatura mediterrânea, em Dom Quixote não se sente o mar, Fray Luis fala do mar... é uma lástica que tenha faltado o mar na literatura espanhola, mas é natural, um país mediterrâneo... que interessante, estava lendo uma história sobre o fracasso da Armada Invencível, parecia que poderia triunfar e não triunfou por um detalhe que foi muito importante em lugar de eleger a marinha galega e a portuguesa, elegeu a marinha catalã, que estava acostumada com o Mediterrâneo, e quando tiveram que se ver com os mares do norte naturalmente fracassaram, porque tinham que enfrentar os ingleses, acostumados a esses mares. Com esse detalhe poder-se-ia ter modificado toda a História. Que interessante pensar que se houvessem elegido outra marinha podiam haver triunfado, não? <br />
<br />
P - Benedetto Croce estabelecia uma necessária distinção entre poeta, o que cria obras originais, e literato, o que faz obras úteis mas repetitivas... <br />
<br />
R - A palavra gramático diz exatamente o mesmo. Só que gramático está em grego e literato em latim, mas é a mesma idéia de letra. Quando se fala de Saxo Grammaticus não se quer dizer que esse historiador dinamarquês foi um gramático, quer dizer que era um literato, um homem que havia lido muito. <br />
<br />
P - Em nosso século, Ezra Pound e recentemente Ernesto Sábato dotaram a expressão literato de um matiz pejorativo ao referi-la a um escritor carente de originalidade. <br />
<br />
R - Que interessante, quem sabe, um dos que começaram com isso foi Verlaine, não? Lembra? ``... tout le reste est litterature''. Ali a palavra literatura está usada depreciativamente e usada por um grande literato e um grande poeta como Verlaine, não? Agora se usa literato no sentido de retórico, no sentido depreciativo. <br />
<br />
P - E a originalidade, é possível? <br />
<br />
R - Não creio que seja possível. Para começar, todos escrevemos no contexto de um idioma. De um idioma podemos pensar o que queremos mas já é uma tradição. Se estou no idioma espanhol estou dentro da literatura espanhola e mais exatamente na literatura castelhana. Sem dúvida, pesam sobre mim tradições cujos nomes não ouvi nunca. Todo o passado está pensando sobre mim. Quem sabe Walt Whitman foi original, mas se pensamos que ele havia lido os hindus, que ele havia lido os salmos da Bíblia, que havia lido Emerson, não sei onde está o original, não? Claro que isso não diz nada, porque todos temos ao nosso alcance os grandes livros, todos podemos ser grandes escritores e no entanto não ocorre assim, não? O Modernismo foi para mim o movimento literário mais importante da literatura espanhola e foi muito injusto quando se disse que tudo o que eles escreveram já estava mais ou menos prefigurado e talvez ultrapassado em Hugo, em Verlaine. Mas esses livros estavam ao alcance de todos e no entanto nem todos foram Rubén Dario. <br />
<br />
P - O ritmo de desenvolvimento das Artes não costuma ser iniforme e equilibrado. Há perídos fecundos em uma ou duas expressões artísticas e ao mesmo tempo lentos e mesmo estáticos em outras formas artísticas... <br />
<br />
R - A Inglaterra deu filosofia e deu poesia, mas não deu outras artes especialmente. Creio que a Inglaterra contribuiu muito escassamente para a música e a arquitetura. Tenho uma quarta parte de sangue inglês. Quero pessoalmente a Inglaterra e orgulha-me de ter sangue inglês; no entanto, creio que é uma lástima que se tenha passado do inglês para o francês, não porque creia que o idioma francês seja superior ao idioma inglês, mas sim por este fato que é muito significativo e que ninguém notou até agora: quando todos estudamos francês o fazemos em função da cultura francesa, estudava-se francês para ler Montaigne, Voltaire, Hugo, Verlaine. Ao contrário, agora não se estuda inglês senão com fins comerciais, é o subalterno inglês dos Estados Unidos, mas se estuda com fins comerciais, não com fins literários; o francês era estudado como em uma época se estudava o latim, as pessoas estudavam latim para ler Horácio, Virgílio, Sêneca, Tácito. <br />
<br />
ESTENDENDO O ASSUNTO SOBRE BORGES: <br />
<br />
Título: História universal da infâmia( atenção para a introdução, que traz comentários interessantes sobre a obra de Borges ) <br />
<br />
Título: O livro de areia <br />
<br />
Título: FicçõesJorge Lobohttp://www.blogger.com/profile/08854290252708162115noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3101835431565597778.post-46808810578768757852010-08-31T13:23:00.000-07:002010-09-04T11:06:32.532-07:00JÁ ESTAVA TUDO ARMADO<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhlNuI3YtwJtbqsTwSXNMlhhDaxFxWP0txTBHriKy_s5gYtbc1h9CMM6Ii-RXgHBuFpl2cLz8kAe5tQfEZUyOgudd-i8vrac4c3lxgapXQ-dP0VtB3V4UvBtDr5WPZ9QD2eKAKPwOTnntK/s1600/ricardo-teixeira-afp-436.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" ox="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhlNuI3YtwJtbqsTwSXNMlhhDaxFxWP0txTBHriKy_s5gYtbc1h9CMM6Ii-RXgHBuFpl2cLz8kAe5tQfEZUyOgudd-i8vrac4c3lxgapXQ-dP0VtB3V4UvBtDr5WPZ9QD2eKAKPwOTnntK/s320/ricardo-teixeira-afp-436.jpg" /></a></div><br />
Isso é política! Há alguns meses conversava com meu amigo Adu Verbis sobre esse assunto e concordávamos que o estádio escolhido para a próxima copa do Mundo seria o vindouro do Corinthians. A decisão de excluir o estádio do Morumbi da copa do mundo de 2014 já estava proclamada há muito tempo. Não foi à toa que Andrés Sanches, presidente do Corinthians, foi escolhido pra ser chefe da delegação da seleção brasileira na copa da África do sul, realizada este ano. O plano de construir o novo estádio do Corinthians já estava tramado há muito tempo. Com a presença de Ronaldo, ex-atacante da seleção brasileira, no Corinthians, a viabilização financeira do projeto ficou bem mais fácil, sem dúvida, mas não podemos, conhecendo Ricardo Teixeira e Andrés Sanches, excluir a possibilidade da utilização de recursos públicos na obra do novo estádio do Timão. Ricardo Teixeira, um dos homens mais poderosos do país, não avalisou( ao lado de seu aliado Joseph Blatter, presidente da FIFA ) o projeto do Morumbi, que era muito mais barato e viável. Porém, como o senhor Ricardo Teixeira não simpatiza com os dirigentes do São Paulo e tem interesses excusos em comum com Andrés Sanches, o pau da barraca vai ser armado. Ricardão comanda a CBF há mais de 20 anos, fazendo conchavos e comprando votos dos presidentes das federações estaduais para se perpetuar no poder. Só nos resta dizer, como Juca Kfouri diz em seu programa CBN Esporte Clube, da Rádio CBN: “VAMOS TOMAR CHÁ DE CADEIRA ESPERANDO PELA QUEDA DO RICARDO TEIXEIRA!”Jorge Lobohttp://www.blogger.com/profile/08854290252708162115noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3101835431565597778.post-58030749387953280992010-08-31T06:18:00.000-07:002010-08-31T06:18:20.731-07:00SÉRIE PENSAMENTOS IMPORTANTES( 9 )<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfiFPJHsSah57LvJvXmzURzfTpaWyFzdMaKJ8AXmNXrJUjtZKcyxeB4YdR-9SwGHSy-5HTRs18K8rGYM1TZ-BqoioG4f61BcFFV1pc3M89PzeNrdvw1hm6TY-v7tul6AfiL622DjNzrqBj/s1600/clockwork_big.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" ox="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfiFPJHsSah57LvJvXmzURzfTpaWyFzdMaKJ8AXmNXrJUjtZKcyxeB4YdR-9SwGHSy-5HTRs18K8rGYM1TZ-BqoioG4f61BcFFV1pc3M89PzeNrdvw1hm6TY-v7tul6AfiL622DjNzrqBj/s320/clockwork_big.jpg" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqMveKzZ-gmTfHO1ChnVqfwJE_lamXXzWq8e5sVsotpk6zRtZy4Ycb7nvMgKBej-wJAQlA3mCg8UlQNsZzwLqG-GWiiIVVqIGMQsbVhd5rmon43NFYhBF5x7zsNz48NawGTzGvTGMG19PO/s1600/stanley+kubrick.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" ox="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqMveKzZ-gmTfHO1ChnVqfwJE_lamXXzWq8e5sVsotpk6zRtZy4Ycb7nvMgKBej-wJAQlA3mCg8UlQNsZzwLqG-GWiiIVVqIGMQsbVhd5rmon43NFYhBF5x7zsNz48NawGTzGvTGMG19PO/s320/stanley+kubrick.jpg" /></a></div><br />
"Se pode ser escrito e pensado, pode ser filmado" - Stanley KubrickJorge Lobohttp://www.blogger.com/profile/08854290252708162115noreply@blogger.com0